Inflação eleva limite de gastos com campanha em mais de 33%

21/07/2016 11:42:00

Para partidos, com a crise, teto é inatingível, porém, especialistas creem que favorece a existência de caixa 2

Quanto você estaria disposto a gastar em um período aproximado de 45 dias na tentativa de ocupar um cargo por quatro anos?

Os candidatos à Prefeitura de Ribeirão Preto poderão gastar até R$ 3,2 milhões na corrida eleitoral. 

Divulgado nesta quarta-feira (20) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o novo limite de gastos da campanha eleitoral cresceu 33,76% em relação ao teto anunciado em dezembro do ano passado devido à correção inflacionária de outubro de 2012 a junho de 2016.

O limite está dividido por turnos, no caso das cidades com mais de 200 mil eleitores – Ribeirão Preto possui 435,3 mil eleitores.

O teto para cada um dos postulantes ao Palácio Rio Branco será de R$ 2,5 milhões no 1º turno e, caso haja o 2º, mais R$ 750 mil.

As tabelas atualizadas com os limites de gastos de campanha e de contratação de pessoal nas Eleições Municipais de 2016 foram publicadas no Diário de Justiça Eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral (DJe/TSE). É possível consultar os dados completos aqui.

Crise e reforma

Devido à crise financeira enfrentada no País e a minirreforma política que proibiu a doação de campanha por empresas, partidos ouvidos pelo A Cidade afirmam que o limite de gastos fixado pelo TSE é inatingível.

“Dificilmente um partido político vai arrecadar esse valor. O limite anterior não nos preocupava e com a correção inflacionária continua não nos preocupando. Será uma campanha curta e com poucos recursos.

O grande problema será adequar as despesas com as receitas”, enfatizou o presidente do PSDB Municipal, Nicanor Lopes.

Por outro lado, especialistas frisam que o limite induzirá a realização de caixa dois – recursos financeiros não contabilizados e não declarados à Justiça Eleitoral – nas grandes cidades.

“O custo de uma campanha é muito alto, então o teto aumenta a possibilidade de falcatruas. A Lava Jato deve amedrontar alguns empresários, mas muitos deixarão o interesse falar mais alto e continuarão fazendo doações ilegais”, avaliou o cientista político Maximiliano Martin Vicente.

A crise econômica pode afetar mais a disputa nas cidades de médio e pequeno porte, de acordo com os especialistas, onde deverão ocorrer campanhas mais enxutas.

Tiago de Brino / A Cidade
Casal caminha sobre santinhos espalhados por calçada de Ribeirão Preto; panfletos são parte dos gastos dos políticos na campanha eleitoral (Foto: Tiago de Brino / A Cidade)

 

Gasto anterior

O valor fixado pelo TSE tem como base o maior gasto realizado para o cargo nas eleições de 2012.
Há quatro anos, a campanha mais cara oficialmente foi a do então candidato a prefeito Duarte Nogueira (PSDB), que declarou à Justiça Eleitoral ter gastado R$ 3,7 milhões.

Em segundo lugar no ranking de despesas da campanha de 2012 está João Gandini (PSB, na época no PT), que teria gasto R$ 3,2 milhões, seguido por Dárcy Vera (PSD) com R$ 2,4 milhões declarados. 

Dificuldade para arrecadar

Uma série de fatores faz com que os partidos políticos de Ribeirão Preto acreditem - ou pelo menos afirmem - que não atingirão o limite de gastos de campanha fixado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O principal é a proibição de doação por empresas, seguido pela crise e pelo descrédito na política.
A solução estaria na criatividade das equipes e nos candidatos com mais frequência nas ruas gastando muita sola de sapato.

“É uma situação difícil para captação de verba. Com pessoa física não se chega a esse teto. O resumo da campanha será andar, andar e andar. Quem não tiver criatividade não fará uma campanha descente”, frisa o presidente do PTB Municipal, Paulo Garde.

Para o deputado estadual Rafael Silva, presidente do PDT Municipal, os partidos precisam se adequar às inovações. “Pretendemos fazer uma campanha sem custos elevados, abaixo do limite estabelecido e baseada em propostas”, diz.

Presidente do PSDB, Nicanor Lopes lembra ainda que o fundo partidário não deve chegar aos municípios.

Análise>>>Mais texto e menos pirotecnia

Para as campanhas deste ano, certamente, o orçamento está mais curto, por diversas razões. E isso influenciará no marketing eleitoral. Teremos peças mais racionais do que efeitos de impacto, mais texto e menos pirotecnia. De certa forma, veremos menos espetáculo televisivo. O que pode ser bom, no fim das contas. Afinal, política devia ser feita de ideias e não de shows. A Justiça entende que restringir as doações é limitar a possibilidade de uma relação corrupta entre quem doa e o político que é beneficiado. No entanto, o que vimos nos últimos anos é que a criatividade dos esquemas de caixa 2 é assombrosa e sofisticada. Burlar a lei parece ser a especialidade de alguns partidos.

Gildo Yamashiro, consultor em marketing político



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