'Caso Cohab' fez 54 vítimas, diz Ministério Público

17/04/2015 10:10:00

Golpe que prometia furar fila da casa teria arrecadado R$ 119 mil; promotor diz que não há nada contra Dárcy

Matheus Urenha
Escândalo envolvendo casas da Cohab, que foi descoberto em novembro de 2011, teve primeira audiência ontem; Marta Mobiglia (esq.) e Maria Rosa (de vestido) são duas das acusadas (Foto: Matheus Urenha/ A Cidade)

A Justiça de Ribeirão Preto começou a ouvir ontem vítimas e testemunhas de acusação envolvidas no suposto esquema de venda de casas da Cohab (Companhia Habitacional Regional) ocorrido em 2011, em Ribeirão Preto. Foi a primeira audiência depois de mais de três anos.

O A Cidade publicou, com exclusividade, uma série de reportagens na época e chegou a participar de uma reunião entre vítimas e suspeitas.

Para o Ministério Público, três mulheres são acusadas de praticar estelionato contra 54 vítimas e ter arrecadado, com o esquema, pelo menos R$ 119 mil.

Para o promotor Maurício Lins Ferraz, o envolvimento da prefeita Dárcy Vera (PSD) e de sua irmã Marli Vera no caso está arquivado.

Pelo esquema apurado pelo Ministério Público, após investigação da Delegacia Seccional, Marta Aparecida Mobiglia, Maria Rosa Lopes Ferreira e Regiane Tura Innocente cobravam entre R$ 1,5 mil e R$ 5 mil para intermediar a compra de casas da Cohab.

A promessa feita pelas suspeitas era que, após o pagamento, elas conseguiriam o imóvel antes dos mutuários inscritos no projeto de desfavelamento.

Segundo o promotor, as três acusadas de estelionato agiram de fevereiro de 2010 a novembro de 2011.
“Consideramos um golpe. Isso porque as três suspeitas prometiam conseguir as casas, recebiam os valores, mas não efetivam a entrega”, disse.

O promotor esclareceu, ainda, que foi apurado o envolvimento mais direto de Marta, Regina e Maria Rosa no esquema. “No curso da investigação surgiram algumas referências, a possibilidade de outras pessoas envolvidas no esquema, mas as informações não foram confirmadas”.

Entre as testemunhas de acusação, foram ouvidas cinco pessoas, como a irmã da prefeita, Marli, que deixou o Fórum sem falar com a imprensa. Já o superintendente da Cohab, Sílvio Martins, também prestou depoimento e negou qualquer envolvimento da companhia no esquema.

Outras cinco vítimas também prestaram depoimento no Fórum.

Para o advogado das suspeitas, Antônio Carlos de Oliveira, o fato de elas responderem por 54 casos não significa que serão condenadas. Marta, Regiane e Maria Rosa estiveram no Fórum, mas não prestaram depoimentos.

Dárcy e irmã são inocentes
Sobre o envolvimento da prefeita Dárcy Vera (PSD) e de sua irmã, Marli Vera, o promotor Maurício Lins Ferraz afirma que, com as provas atuais, está arquivado.

“Se não surgirem novas provas, já que, com as provas atuais, está arquivado [sobre o possível envolvimento das duas]. Se futuramente surgirem novas provas, as investigações podem ser reabertas”, disse.

O promotor afirmou, ainda, que a chefe do Executivo e Marli negam qualquer envolvimento.
Segundo o promotor, o que houve no curso do processo foram pessoas dizendo que os valores arrecadados pelas estelionatárias eram entregues para a prefeita. “Mas não se conseguiu ir além disso [da informação], se houve efetivamente essa ligação. Não houve provas mais consistentes [no curso do processo]”, afirmou.

Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi aberta pela Câmara de Vereadores em 2012 investigou o caso e também não comprovou qualquer ligação da prefeita e de sua irmã no esquema.

MP investigará Genivaldo
O Ministério Público vai investigar o uso do gabinete do vereador Genivaldo Gomes (PSD), líder do governo Dárcy Vera (PSD) na Câmara, como uma específica de balcão de negócios de casas populares.

A informação é do promotor de Cidadania, Sebastião Sérgio da Silveira. “Em princípio, esse fato deverá ser juntado no inquérito que já apura possíveis irregularidades na Cohab, já que pode haver conexão entre os fatos”, enfatizou por meio de nota.

Gravação obtida com exclusividade pelo A Cidade mostra o gabinete do vereador Genivaldo Gomes (PSD), líder do Governo na Câmara, funciona como uma específica de balcão de negócios de casas populares.

Na conversa telefônica com uma munícipe, a assessora apresenta valores e até se coloca à disposição para intermediar a negociação – de acordo com a gravação o imóvel custaria R$ 65 mil, sendo a entrada no valor de R$ 7 mil e R$ 58 mil parcelados.
(Monize Zampieri)



    Mais Conteúdo