Vítima da ditadura defende substituição de nomes de ruas e bairros

31/01/2015 10:14:00

Enfermeira defende conversa com a sociedade para que novos nomes não sejam alvo de críticas

Matheus Urenha
A enfermeira Áurea Moretti apoia a mudança dos nomes (Foto: Matheus Urenha/ A CIdade)

Vítima das torturas durante a ditadura, a enfermeira Áurea Moretti, 70 anos, defende que vias e bairros que têm nome de personalidades ligadas ao regime militar sejam substituídos pelo de pessoas torturadas à época.

“Seria justo e melhor para a cidade se essas ruas, avenidas e bairros recebessem o nome de quem foi preso e torturado, como a irmã Maurina, Wanderley Caixe, Irineu de Moraes, Mário Bugliani, Padre Celso de Syllos e tantos outros que lutaram pelos nossos direitos”, ressaltou.

Para Áurea, a homenagem também poderia se estender para outros ribeirão-pretanos que muito contribuíram com o desenvolvimento do município.

Porém, ela defende que qualquer mudança deve ser discutida com a sociedade e realizada de forma a não prejudicar os moradores dessas localidades. “Seria importante que as alterações ocorressem com a autorização dos moradores, para que eles não fiquem contra quem deu a vida pelos nossos direitos.”

Para Áurea, muitos moradores desconhecem as ações dos militares que dão nome a ruas e bairros onde moram, por isso, poderia haver resistência. “Daí a necessidade de explicarmos de fato quem foram e o que fizeram de maldade”, diz. Áurea ressalta que resgatar a história é garantir que a ditadura não volte.

Dentre os nomes de logradouros de Ribeirão Preto que homenageiam militares ligados à ditadura estão: Castelo Branco, Costa e Silva e Emílio Médici.

“O Castelo Branco foi um dos piores ditadores que já existiram. Ele estimulava perseguição, torturas e assassinatos”, diz.

Nome feio

Morador do bairro Castelo Branco há 38 anos, o comerciante Antônio de Marco defende a mudança de nome por questão de beleza.

Diferente do irmão gêmeo Pedro de Marco, Antônio acredita que a mudança seria positiva.
“Castelo Branco é um nome muito feio”, declarou.

Mudança pela segunda vez

Moradora da avenida Marechal Costa e Silva, zona Norte de Ribeirão Preto, há mais de 50 anos, a dona de casa Vanilde Francisca Poli também é contrária à mudança de nome da via.

“Eu acho ruim qualquer tipo de mudança agora, pois estamos acostumados com o nome. Certamente vai confundir todo mundo”, ressaltou a dona de casa.

Questionada sobre a postura do Marechal Costa e Silva, Vanilde, que tem 75 anos, declarou que “nunca parou para refletir a respeito” e que, “na época da ditadura, nada se comentava”.

Vanilde já sentiu na pele a mudança de nome da via onde vive com o marido.

Antes de se chamar Marechal Costa e Silva, a avenida em que mora há cinco décadas se chamava “avenida São Paulo e Minas”.

“Fazia pouco tempo que eu havia chegado da zona rural, então, não tive problemas com a alteração de nome na ocasião. Aliás, essa parte de Ribeirão Preto era só mato, passava a linha do trem, era tudo muito diferente do que é atualmente”, lembra.



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