Comissão da Verdade quer alteração de nomes que homenageiam a ditadura

31/01/2015 09:55:00

A sugestão deve ser discutida na comissão da OAB de Ribeirão Preto, mas já divide opiniões na cidade

Matheus Urenha
O ex-vereador Vicente Golfeto, hoje coordenador do Instituto de Economia da Acirp: para ele, melhor não mudar os nomes (Foto: Matheus Urenha/ A Cidade)

Imagine você morar há 30, 40 até 50 anos em um local e, de repente, o nome da sua rua ou do seu bairro é alterado.

Isso pode acontecer em Ribeirão Preto com o Pedro, a Vanilde e tantos outros moradores dos bairros Castelo Branco e Presidente Médici, além da avenida Marechal Costa e Silva, por exemplo.

Isso porque a Comissão Nacional da Verdade recomendou em seu relatório final que o Estado brasileiro mude o nome de logradouros públicos que homenageiam personalidades ligadas à ditadura militar.

A recomendação já estimula ações políticas e judiciais em várias cidades do país, além de provocar discussão entre entidades e o Ministério Público.

Em Ribeirão, o tema está na pauta da reunião da Comissão da Verdade da OAB, que será realizada no início de fevereiro.

“Sei que há uma movimentação neste sentido. A comissão vai considerar essa pauta e fazer um levantamento a respeito. Não gostaria de antecipar minha opinião antes da reunião para não influenciar na decisão do colegiado”, declarou o advogado Feres Sabino, presidente da Comissão da Verdade da OAB.

Legislativo

Vereador há mais de 35 anos na Câmara de Ribeirão Preto, Cícero Gomes (PMDB) participou da votação de projetos que homenagearam políticos ligados à ditadura – porém, nenhuma marcante ou polêmica. “Ocorreram normalmente. Era o sistema vigente na época”, destacou.

Para o veterano, os nomes não devem ser alterados por fazerem parte da história local e nacional.
“Acredito que não deveriam mexer no passado, apenas resgatar a história desses políticos para que a população saiba quem foram e o que fizeram. Além do mais, eles não pediram para serem homenageados”, frisou, emendando que “moradores podem se atrapalhar com a alteração”.

Opinião semelhante tem o ex-vereador Vicente Golfeto, atualmente coordenador do Instituto de Economia da Acirp. “Não sei se valeria a pena mudar agora. Fazer justiça dando trabalho para os outros? Muitos teriam o dessabor de mudar o endereço do IPTU e de escrituras”, diz.

“Nos aterroriza mais as injustiças da ditadura do que o farto cardápio de corrupção da democracia. Mas qual é pior?”, questionou Golfeto, que é o autor do projeto que denominou o bairro Presidente Dutra.

Para morador, nome do bairro deve ser mantido

Pedro de Marco passou praticamente a metade de sua vida morando no bairro Castelo Branco, zona Leste de Ribeirão Preto.

Com 69 anos atualmente, o comerciante está há mais de 30 anos morando e trabalhando na rua João Ferracini. Para ele, o nome do bairro deve ser mantido.

“O bairro é muito conhecido. Se o nome fosse alterado, com certeza confundiria muita gente, principalmente as pessoas de fora que vem para cá com frequência. Acredito que a mudança prejudicaria o trabalho dos Correios e também o comércio no geral”, argumentou Pedro. E ele não é o único a termer mudanças.

Questionado sobre as ações do ex-presidente Castelo Branco, que dá nome ao bairro, o comerciante se diz apolítico e afirma que parou de estudar cedo para se dedicar ao trabalho.



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