Partidos disputam artista por artista para rechear a campanha nesta reta final

23/10/2014 10:24:00

Especialistas afirmam que o 'voto famoso' até ajuda, mas não determina a decisão final do eleitor

Na disputa para conquistar o eleitorado, as campanhas de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rouseff (PT) travam uma batalha paralela para conquistar o apoio do maior número de intelectuais e celebridades na reta final de campanha.

Além da estrela vermelha, símbolo do partido, as peças publicitárias petistas contam com nomes como o ator global Osmar Prado e o cantor e compositor Chico Buarque. Ontem, Dilma recebeu o apoio de Caetano Veloso, que havia declarado voto em Marina Silva (PSB) no primeiro turno.

Já as estrelas tucanas envolvem desde o técnico de vôlei Bernardinho e o pentacampeão Ronaldo até a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó.

“A aparição de celebridades é um fator que pode somar na conquista do voto, mas não é determinante para o eleitor”, explica o consultor político Carlos Manhanelli, autor e coordenador de 17 livros sobre campanha eleitoral.

O professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e historiador Maximiliano Vicente concorda. “Personalidades acabam se tornando pontos de referência para seus seguidores, mas não são determinantes na escolha dos votos”, afirma. A batalha de estrelas não é novidade em campanhas eleitorais. Em 1989, a campanha de Lula mostrou vários artistas de branco cantando o jingle “Lula lá”.

Apesar disso, foi derrotado por Fernando Collor, que tinha a atriz Claudia Raia como apoiadora. Em 2002, José Serra (PSDB) mostrou a atriz Regina Duarte dizendo ter medo do PT – Lula venceria naquele ano. 

Na campanha deste ano, o diferencial é que o apoio de artistas tem ampla repercussão nas redes sociais, em especial Facebook e Twitter. As principais ações dos militantes é comparar, e compartilhar, qual celebridade apoia cada candidato, desqualificando os apoiadores do adversário.

“É parecido com guerra de criança de jardim de infância, querendo ver qual pai tem o melhor carro. Isso apenas reforça o voto dos militantes e simpatizantes, mas tem pouco efeito sobre os indecisos, nulos, brancos e abstenções, que deveriam ser os principais alvos das campanhas”, opina Manhanelli.

O apoio de celebridades também rende saias justas aos candidatos. Na semana passada, Dado Dolabella, apoiador de Aécio, comparou o eleitor de Dilma a quem tem ebola. Em troca, a militância petista lembrou que o ator foi condenado por espancar a ex-mulher.

Arte / A Cidade
Partidos apostam em famosos para aumentar o eleitorado (Arte / A Cidade)

O término dos showmícios

Em 2006, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu a realização de showmícios – eventos políticos que contavam com apresentações de artistas renomados, mediante pagamento de cachê. Além de tentar diminuir os gastos das campanhas, o objetivo era focar a disputa nas propostas dos candidatos.

Os showmícios eram utilizados, principalmente, pelos candidatos às prefeituras. E tinham sucesso.

“O cantor e compositor Luiz Gonzaga percorria o sertão nordestino pedindo votos para os coronéis da época”, lembra o consultor político Carlos Manhanelli.

Nesse caso, de acordo com Manhanelli, o apoio se refletia nas urnas, pois o eleitor do Nordeste era identificado com a figura de Gonzaga.

“No contexto atual, é importante ressaltar que há vários fatores que influenciam no voto. Se sou religioso, por exemplo, o apoio de uma liderança de minha religião será muito mais determinante do que de um cantor que admiro”, afirma o consultor. 

Destaque ao projeto político

“Todos os candidatos procuram nomes de influência na sociedade para serem seus apoiadores. Na democracia brasileira pós-abertura, um divisor de águas foi a campanha presidencial de 1989, que se tornou referência nesse sentido, com boa parte dos atores da rede Globo apoiando a candidatura de Lula no segundo turno contra o Collor. Naquele ano, entretanto, tínhamos duas opções claramente divergentes. Neste pleito, ambas as candidaturas expõem menos o conteúdo de suas propostas. O ideal seria que o projeto político ficasse em primeiro plano. Só lamento que tenhamos chegados a esse ponto, um desrespeito ao eleitor. De toda forma, apesar do marketing, o apoio do famoso não é determinante para a escolha do eleitor. Maximiliano Vicente, professor da Unesp e historiador político



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