Fila de espera para consultas em Ribeirão Preto é de mais de 15 mil pacientes

18/10/2017 14:36:00

Mutirão quer reduzir fila para as consultas de proctologia, neurologia e para as cirurgias de catarata

Weber Sian / A Cidade
Por causa de dores e da demora do sistema público, Marta por fazer cirurgia com um médico particular (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Ribeirão Preto tem cerca de 15 mil pacientes na fila de espera por consultas na rede pública. Em alguns casos, a demora no atendimento pode ultrapassar os três anos.

Para minimizar o problema, a secretaria de Saúde realiza, desde agosto, mutirões para reduzir a fila de espera em consultas de proctologia, neurologia e cirurgias de catarata.

Espera

A aposentada Marta Salvador, 60, afirma ter esperado cerca de três anos para conseguir uma consulta com o proctologista. Ela relembra que, em 2014, o clínico geral do posto de saúde do bairro Dom Mielle (zona Oeste) a encaminhou para o especialista.

Como já havia sido avisada que a demora seria grande, Marta resolveu pagar por um médico particular, já que sentia muitas dores. “Passei pelo médico e acabei fazendo a cirurgia para retirar um nódulo. Um ano e meio depois da cirurgia me chamaram para a consulta na rede pública”, relembra. Marta fez a consulta no mês passado e o médico avaliou que o problema está sob controle. “Já nem me lembrava mais da consulta”, completa.

O secretário municipal de Saúde, Sandro Scarpelini, destaca que o mutirão já surte efeitos. Ele relembra que a proctologia era a especialidade médica com maior espera por consultas na rede pública em Ribeirão e que, agora, caiu para segundo lugar no ranking (leia mais no quadro ao lado).

Solução

Até agora, 297 consultas de proctologia foram realizadas, mas ainda há 2,7 mil pacientes na fila de espera. O mutirão para atender essa especialidade foi possível por conta de uma clínica particular, de propriedade de médicos do Hospital das Clínicas, que se dispôs a prestar o serviço de maneira voluntária nos finais de semana.

“Nós sabemos que o mutirão é uma solução paliativa e a solução definitiva para essa questão seria o AME [Ambulatório Médico de Especialidades]”, declarou o secretário. Ele explica que, caso o Estado implante o AME no prédio da UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) Central, haveria mais especialistas e o paciente poderia fazer exames e consultas no mesmo prédio, o que agilizaria o fluxo.

“O Ministério da Saúde vai repassar recursos para 700 cirurgias de catarata”, frisou Scarpelini. 

‘Depois da cirurgia, vou nascer de novo’

A aposentada Neide Carvalho, 72, está na expectativa para ser submetida a uma cirurgia da catarata. Na segunda-feira (16), saiu o resultado do exame de sangue que integra os procedimentos pré-operatórios. “Faz quase três anos que estou na espera. Perdi praticamente toda a visão do olho esquerdo e enxergo muito pouco com o olho direito. Depois dessa cirurgia, vou nascer de novo”, comemora. Neide relata que tem sérias dificuldades no cotidiano por causa da baixa visão. “Não ando mais sozinha na rua, não consigo andar de ônibus, sempre preciso de ajuda, fico muito dependente.” A Secretaria Municipal de Saúde declarou que a paciente ainda necessita passar por uma consulta com o retinólogo – médico oftalmologista especialista em retina – e realizar um exame de USG (pré-operatório), por isso ainda não foi marcada a data da cirurgia.

Weber Sian / A Cidade
Depois de mais de três anos à espera de uma consulta, Neide Carvalho vive a expectativa de poder recuperar a visão (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Mais mutirões

O secretário municipal de Saúde, Sandro Scarpelini, anunciou que mais mutirões serão realizados para reduzir a demanda reprimida, mas ainda estão sendo fechadas parcerias para operacionalizar o atendimento. Por ora, no entanto, ainda não há data definida para o início dos exames. “Estamos em negociações para zerar a fila de espera do ultrassom de mama e também de biópsia de próstata”, concluiu.

Análise - Falta assistência primária com mais recursos

“Um dos fatores que promovem grande tempo de espera em especialidades está relacionado à falta de resolutividade da rede básica de saúde. Se houvesse uma assistência primária com um pouco mais de recursos, com certeza desoneraria na sequência a questão de cirurgias ou exames. Outra questão é que, como os recursos da saúde são limitados, no caso em que chega uma urgência, por exemplo, esse caso acaba sendo atendido primeiro e os outros menos urgentes, como uma hérnia ou catarata por exemplo, vão se acumulando e criam-se as filas. Para se ter uma ideia do baixo investimento em saúde aqui, no Canadá são investidos 4 mil dólares por ano por paciente no sistema público. No Brasil, esse número é dez vezes menor, chegando a aproximadamente 400 dólares por ano.”

Especialidades com maior tempo de espera em consultas

1 - Uroginecologia: 39 meses
2 - Proctologia: 31 meses
3 - Uro feminina: 29 meses
4 - Cirurgia ginecológica: 25 meses
5 - Ortopedia hospitalar: 25 meses
6 - Neurologia infantil: 23 meses
7 - Cirurgia pediátrica: 21 meses
8 - Neurogeriatria: 19 meses
9 - Cirurgia vascular: 18 meses
10 - Pneumologia: 16 meses
11 - Nutrologia infantil: 15 meses
12 - Gastroenterologia adulto: 14 meses
13 - Neurologia adulto: 14 meses

Weber Sian / A Cidade
Secretário de Saúde, Sandro Scarpelini (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

 

 

 



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