Pesquisadores da USP e Inglaterra juntos na vacina contra o zika vírus

04/05/2016 14:18:00

Projeto, com duas etapas distintas, será financiado pela Fapesp e Medical Research Center

Pesquisadores da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) e da Imperial College London, da Inglaterra, trabalham juntos na tentativa de desenvolver uma vacina contra o zika vírus, apontado como uma das principais causas de microcefalia em centenas de recém-nascidos nos últimos 18 meses no Mundo.

O projeto tem custo de aproximadamente R$ 712 mil e será financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela MRC (Medical Research Center).

ASSISTA AO VÍDEO

Baixe o Adobe Flash Player

Segundo a professora Vanessa Carregaro Pereira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP, um grupo de 20 pesquisadores terá um ano para realizar o mapeamento da resposta imunológica de pacientes que já tiveram zika.

“Nossa ideia é entender como o sistema imune reage diante da infecção. Queremos saber quais partes do vírus são reconhecidas pelo sistema imununológico e de que forma elas o ativam”, explica.

Os pesquisadores da Imperial College London ficarão responsáveis pela produção dos peptídeos (moléculas que formam as proteínas) do vírus em laboratório e envio das moléculas para Ribeirão Preto.

Aqui, os pesquisadores da FMRP colocarão os peptídeos em contato com células T (tipo de leucócito, também conhecido como glóbulo branco) de pacientes que já tiveram zika para ver se essas partículas estimulam a produção de mediadores, como o interferon-gama, que atuam em células que produzem anticorpos, como o linfócito B.

Ainda não há previsão de quando a vacina ficará pronta. “Isso é um passo inicial para tentarmos entender como o vírus atua no sistema imunológico, para identificar os peptídeos virais que são capazes de estimular a resposta imune”, diz a pesquisadora.

Doença viral

A zika é uma doença viral aguda transmitida, principalmente, pelo mosquito Aedes aegypti. O vírus causa dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos e pode ocasionar a Síndrome de Guillain-Barré, que provoca fraqueza muscular e paralisia dos músculos, além de microcefalia em recém-nascidos, malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada.

“A vacina será importante para nos proteger. Ela estimula a produção de anticorpos, que se conectam ao vírus e não o deixam entrar na célula. O sistema imune reconhece, então, o vírus que está ligado ao anticorpo e pode neutralizá-lo ou aumentar os fagócitos, que destroem esse microorganismo”, diz Vanessa. 

Mastrangelo Reino / A Cidade
Gustavo Reis redobrou a atenção com os criadouros do Aedes após a doença (foto: Mastrangelo Reino)

 

Gustavo é uma das vítimas

O gerente de salão de beleza Gustavo Reis, 42 anos, chegou a perder uma entrevista de emprego por causa da zika.

Em março, ele se recuperava de uma inflamação na pele quando foi acometido pela doença. “Surgiram umas pintinhas no peito e eu percebi que estava mais fraco do que o normal”, conta.

Preocupado com sua saúde, Gustavo se dirigiu à UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), fez um exame de sangue e foi diagnosticado com zika. “Minhas plaquetas não baixaram, então o médico excluiu a hipótese de dengue”, lembra.

O gerente permaneceu em repouso durante oito dias e perdeu uma oportunidade de emprego. “Eu estava desempregado na época e não pude ir. Tive que voltar ao posto de saúde para refazer os exames e tomar soro”, relata.

Depois da doença, ele diz que redobrou os cuidados em casa. “Coloquei areia nos vasos, porque não quero que ninguém fique mal como eu. Foi horrível. Até agora estou com uma dormência na coxa e dor nas costas que podem ter relação com o vírus.”

Roseli foi infectada três vezes pelo Aedes

A dona de casa Roseli Aparecida Baggio de Carvalho, 56 anos, passou a Quinta-feira Santa de cama. “Apareceram umas manchas na pele, tive dor no corpo e meus olhos ficaram um pouco vermelhos”, afirma.

Roseli acabou tirando a doença “de letra”, porque já tinha sofrido com a dengue em abril do ano passado e com a chikungunya em fevereiro deste ano. “A pior foi a chikungunya. Tive muita dor nas articulações. Não sei onde peguei esse tanto de doença, porque não tenho vasos em casa e ponho sal nos ralos”, comenta.

A zika já fez milhares de vítimas em Ribeirão Preto. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde, foram notificados 4.332 casos suspeitos da doença no primeiro trimestre deste ano.

Em teste vacina contra a dengue

O Instituto Butantan desenvolveu uma vacina tetravalente contra a dengue e agora está realizando testes em voluntários para assegurar a qualidade do produto.

Os testes iniciais serão feitos em São Paulo com 1,2 mil voluntários que foram recrutados pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A expectativa é que a vacina esteja disponível no País a partir de 2018.

Arte / A Cidade

 

Arte / A Cidade

 



    Mais Conteúdo