Justiça bloqueia sítio do ex-vereador Giló em Minas Gerais

08/12/2017 08:03:00

Terras foram compradas pelo genro da ex-prefeita Dárcy Vera por R$ 985 mi, em fevereiro de 2013

Tiago de Brino / Especial
Giló foi afastado da Câmara com o início da Operação Sevandija, em setembro do ano passado (foto: Tiago de Brino / Especial)

 

A Justiça bloqueou, a pedido do Ministério Público, um sítio do ex-vereador Giló, genro da ex-prefeita Dárcy Vera. O imóvel, localizado em Minas Gerais, foi adquirido em fevereiro de 2013 por R$ 985 mil, segundo documentos apreendidos pela Operação Sevandija na Câmara em setembro do ano passado. Entretanto, até hoje a propriedade não foi transferida para seu nome.

Segundo o MP, é “evidente a incompatibilidade do valor do bem imóvel com o salário declarado” por Giló, que em depoimento à Polícia Federal afirmou receber apenas rendimentos como vereador (em 2016 era de R$ 10,4 mil líquidos).

Já o advogado de Giló diz que o MP “promove um show midiático” para “criminalizar” o ex-vereador, e garante ter toda a documentação que comprova a legalidade da compra.

Os promotores de Justiça querem saber como Giló conseguiu dinheiro para comprar a propriedade. Em seu gabinete na Câmara, a Polícia Federal encontrou um controle dos pagamentos ao antigo dono sítio. Até dezembro de 2014, pelos registros, foram pagos R$ 700,2 mil.

Apenas a entrada, paga em 23 de fevereiro de 2013, foi no valor de R$ 80 mil. O Gaeco apura se trata-se apenas de “coincidência” o fato de, 23 dias antes, a advogada Zuely Librandi ter recebido a primeira parcela, paga pela prefeitura, dos honorários advocatícios (leia ao lado).

O sítio

A propriedade tem 42 hectares – 420 mil metros quadrados, equivalente a quase 60 gramados do estádio do Maracanã – e está localizada na cidade de Fortaleza de Minas, a 140 km de Ribeirão Preto.
O sítio possui uma sede, um barracão, dois currais, uma casa do caseiro e 80 mil pés de café. Com a propriedade, Giló adquiriu um trator, uma carreta e alguns animais.

Em sua declaração de bens na Justiça Eleitoral, Giló constou a propriedade. Disse, porém, que tinha 50% de “terra nua”, no valor de R$ 175 mil. 

‘Imóvel foi declarado ao IR’

O advogado Paulo Roberto Franchi afirmou que Giló está levantando toda a documentação necessária para comprovar a legalidade da aquisição. Ele diz que o ex-vereador adquiriu o sítio com um cunhado, casado com sua irmã. Esse cunhado, explica, transferiu, devidamente registrado em cartório, um imóvel de sua propriedade ao vendedor do sítio como parte do pagamento.

Giló, segundo o defensor, fez empréstimos bancários declarados à Receita Federal e junto a terceiros para bancar sua parte na aquisição. Além disso, diz, o sítio rendia cerca de 400 a 500 sacas de café, que eram vendidas a cooperativas da região por cerca de R$ 200 mil. O valor era utilizado para abater da compra.

Sobre o fato de Giló não ter registrado em cartório o sítio em seu nome, Paulo justifica que a compra foi feita parcelada e a transferência só seria feita, por exigência do antigo proprietário, quando todas as parcelas fossem quitadas. Mesmo assim, diz, Giló e o cunhado declararam o imóvel em suas declarações de Imposto de Renda a partir de 2014.

“Essa documentação foi apreendida em 1º de setembro do ano passado e era de conhecimento do MP desde então. O que mudou para só agora pedirem o bloqueio? Querem encontrar uma forma de criminalizá-lo, já que não conseguirão com a denúncia [de apadrinhamentos na Atmosphera]”, atacou o advogado.

Divulgação / Polícia Federal e Ministério Público
Imagens divulgadas pela Polícia Federal e Ministério Público mostram Giló (PTB) e Marcelo Plastino durante encontro em café

 

Relação com propina é investigada

A Sevandija investiga se o sítio tem relação com a propina de R$ 7 milhões que Dárcy Vera receberia, segundo delação de Wagner Rodrigues, para viabilizar o acordo dos honorários advocatícios de Zuely Librandi. Giló é pai do único neto da ex-prefeita. Entre os dias 1º e 20 de fevereiro, mês em que Giló comprou o sítio e pagou R$ 80 mil de entrada, Zuely sacou R$ 2 milhões em dinheiro vivo.

ENTENDA O CASO

Do que Giló é acusado?
De corrupção passiva, por ter nomeado apadrinhados na Atmosphera em troca de dar apoio político a Dárcy Vera na Câmara

Ele foi preso?
O Ministério Público
não pediu a sua prisão.

Ele recebeu dinheiro de Marcelo Plastino?
Giló foi flagrado pela Polícia Federal em um encontro com o dono da Atmosphera no dia 4 de maio de 2016. Interceptação telefônica mostra ambos combinando um “café”. Não foi constatada, porém, a entrega de dinheiro. Em documentos atribuídos a Marcelo Plastino, na delação premiada de seu ex-sócio e de sua ex-namorada, consta que a sigla G, nas notas de R$ 2, seria referência a Giló. Em planilha apreendida na madrugada da morte do empresário, o então vereador teria recebido R$ 30 mil. Ele nega. O Ministério Público não teve indícios suficientes para denunciá-lo pelo recebimento do dinheiro.

Por que o sítio foi bloqueado?
Todos os réus da Sevandija tiveram seus bens bloqueados para, em caso de condenação, ressarcirem os cofres públicos. O sítio não havia sido bloqueado antes por não estar no nome do ex-vereador.

Giló é considerado culpado?
Não. O processo ainda tramita em primeira instância e a sentença do juiz deve ser publicada no primeiro quadrimestre de 2017. Mesmo se for condenado, ele pode recorrer a instâncias superiores.



    Mais Conteúdo