Arrastões disparam em Ribeirão Preto e põem polícia em alerta

20/10/2017 19:01:00

De janeiro até agora, município registrou ao menos 26 ocorrências; Ipiranga e Campos Elíseos lideram as ocorrências

No fim do expediente, às 22h de terça-feira (17), José Carlos Braga, 45 anos, entrou em um bar, nos Campos Elíseos, zona Norte de Ribeirão Preto, para comprar o jantar da família. Assim que se aproximou do balcão, foi rendido por assaltantes armados. “Foi muito rápido. Os bandidos me ameaçaram, apontaram uma arma em minha cabeça e levaram o que eu tinha”.

O motorista de Uber é uma das mais recentes vítimas de um crime em ascensão na cidade: arrastão – modalidade de assalto em que os criminosos roubam várias vítimas num só local.

Levantamento feito pelo ACidade ON, com base nos boletins de ocorrência (BO) que a reportagem teve acesso, mostra que desde janeiro, a Polícia Civil registrou ao menos 26 assaltos desse tipo no município, 17 deles foram registrados nos últimos cinco meses. Pontos de ônibus e comércios são principais alvos.

Além disso, é comum que as ações sejam rápidas e violentas. Os registros também apontam que os bairros das zona Norte, seguido da zona Oeste, são os mais visados pelos criminosos. Do total de registros, 16 ocorreram na região mais carente e populosa de Ribeirão Preto. Ipiranga e Campos Elíseos são os principais bairros.

Weber Sian / A Cidade
Homens detidos são acusados de integrar quadrilha especializada em praticar arrastões em bares e restaurantes de Ribeirão Preto

 

Prisão

Na última terça-feira, por exemplo, uma mesma quadrilha fez três arrastões nos Campos Elíseos. Ousados e sem temer uma reação policial, cinco assaltantes invadiram dois bares e uma churrascaria e exigiram celulares, joias e dinheiros dos donos e todos os clientes.

O tempo de comemoração da ação criminosa, no entanto, foi curto. Menos de dez horas depois, dois dos cinco acusados de participar dos assaltos foram presos. De acordo com a Polícia Militar (PM), a quadrilha é especializada neste tipo de crime e pode estar envolvida em outros casos.

Segundo denúncias das vítimas, os arrastões são sempre promovidos por ao menos três homens armados. Mas há relatos da participação de até 12 participantes, como num arrastão registrado em 27 de junho, quando 22 pessoas foram assaltadas pelo bando. Eles levaram R$ 3 mil da lanchonete e mais os pertences – celulares e carteiras – dos clientes.

Combate ao crime

O coronel da PM Francisco Mango afirma que o patrulhamento é feito ostensivamente, a fim de conter a incidência de assaltos coletivos.

“Os arrastões são crimes cometidos repetidamente em um curto espaço de tempo. Então, quando detectados, é de praxe que o batalhão levante as queixas e mapeie as localizações e horários. Depois, começamos as operações para conter o caso e tirar estes bandidos da rua, levando em conta que cada região tem uma característica específica”, conta. O oficial reforça, ainda, a importância de acionar o policiamento e registrar o assalto.

Para Alexandre Daur, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), este é “um crime em pluralidade no município”. Ele afirma que, além da quadrilha especializada, outros acusados já foram investigados e indiciados e que, na maioria das vezes, não existe relação entre eles.

Combate setorizado

O consultor em segurança pública José Vicente Filho afirma que, na prática, o combate aos arrastões precisa ser setorizado. “Para cada ação, a polícia tem um protocolo. Por exemplo: roubos a residência são diferentes de roubos em bares, como aconteceu na última terça-feira”, destaca.

Segundo ele, esta modalidade não é para ‘grandes cabeças’. E explica: no interior ou nas capitais, o crime organizado busca grandes valores com ações ensaiadas. Em contrapartida, os arrastões são assaltos que surgem da oportunidade, mas têm grande impacto na sociedade.

“À noite, comércios com fuga fácil, em lugares escuros e com brechas na segurança são os alvos mais comuns para os bandidos. Por isso, a melhor opção aos proprietários é investir em alguns cuidados, como iluminação, câmeras de segurança e afins”, recomenda o especialista. E completa: “O dever real é da polícia, que precisa dar respostas mais rápidas para a população”.

SSP não reconhece arrastão

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que não poderia divulgar nem confirmar o número de arrastões em Ribeirão Preto, por desconhecer a nomenclatura como natureza de um crime. Para o órgão, exceto cargas, veículos e bancos, os demais roubos são computados igualmente. Nos sete primeiros meses de 2017, Ribeirão registrou 2.688 ocorrências, segundo o último documento divulgado pelo Estado. No mesmo período de 2016, foram 2.554 ocorrências.
 



    Mais Conteúdo