Crise econômica não é 'desculpa' para aumento da criminalidade

25/04/2017 19:19:00

É o que diz professora da USP de Ribeirão Preto que participará de seminário para discutir criminologia nesta quarta-feira (26)

Renato Lopes / Especial
Rosilene Martins teve dinheiro e aliança roubada por assaltante (Foto: Renato Lopes / Especial)

 

Os casos de roubo em Ribeirão Preto aumentaram 21% do primeiro trimestre do ano passado para o mesmo período deste ano, de acordo com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo).

Somente nos meses de janeiro a março de 2017, a Polícia Civil registrou 1.105 roubos na cidade – sem contar os de veículos.

Muitos culpam a atual situação econômica do Brasil, mas, segundo a professora Ruth Estevão, da FFCLRP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto), a crise não pode sentar no banco dos réus sozinha.

"Não é porque a pessoa está desempregada que ela vai cometer um crime. Uma pessoa que rouba tem que conhecer um receptador para passar o item roubado adiante. Para isso, ela já tem que estar inserida no mundo do crime. Você explica a pobreza macrossocialmente, não no nível individual. Você pode ser pobre e não assaltar", comenta.

Sentiu na pele

A faxineira Rosilene Martins, 49 anos, experimentou a amarga sensação de ser assaltada em plena luz do dia. Ela atravessava a passarela da avenida Castelo Branco, zona Leste da cidade, quando foi abordada por um homem por volta das 16h.

"Ele me mandou abrir a bolsa e entregar tudo o que eu tinha. Ele estava com a mão embaixo da camiseta, indicando estar armado, então eu entreguei R$ 50 e ele ainda pegou a minha aliança. Ele só não quis meu celular, porque era velho", conta.

Sensibilizados com a situação de Rosilene, os colegas de trabalho da faxineira fizeram uma "vaquinha" e compraram uma aliança nova para ela. "Eu tive essa 'sorte', mas não é todo mundo que tem. É muito ruim se sentir inseguro. Eu ando com pouco dinheiro, sempre olhando para os lados. A cidade precisa de mais policiamento", comenta.

Possíveis causas e soluções

São muitos os fatores que contribuem para a criminalidade, conforme a professora Ruth Estevão: bairros sem equipamentos sociais (áreas de lazer, Centros de Referência de Assistência Social, Centros de Atenção Psicossocial etc.) e criminalizados, famílias desestruturadas, evasão escolar, uso de drogas, alcoolismo, prostituição e crescimento desordenado das cidades.

"É uma série de insucessos. Teríamos que investir na formação dos professores. Eles precisam adquirir conhecimento para aprender a trabalhar com crianças que não se ajustam muito bem. É necessário identificar as crianças que têm problemas psicossociais e acudir em uma baixa idade. Muitas pessoas, por exemplo, são explosivas. Mas é possível aprender a controlar essa explosividade. Não adianta só punir. Precisamos prevenir. O certo seria ter as melhores escolas nos bairros mais necessitados", destaca.

Seminário de criminologia

Para debater o crime, o comportamento do criminoso e o porquê do cometimento do delito, a Organização Comunitária Santo Antônio Maria de Claret, em parceria com a FDRP (Faculdade de Direito de Ribeirão Preto) e da FFCLRP, realiza, nesta quarta-feira (26), o II Seminário Internacional de Criminologia.

O evento ocorre das 9h às 18h, na FDRP (Rua Professor Aymar Baptista Prado, 835), no campus da USP (Universidade de São Paulo), localizado na avenida Bandeirantes, 3900.

As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas pela internet. Mais informações pelo e-mail iearp@usp.br ou pelo telefone (16) 3315-0368.



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