Em três anos, região registra sete ataques a carros-fortes em rodovias

15/08/2018 08:15:00

Nenhum suspeito de praticar o mais recente ataque, anteontem, em Orlândia, havia sido preso até ontem

Em setembro de 2017, ataque ocorreu em Barrinha (foto: Weber Sian / A Cidade)

Em três anos, a região de Ribeirão Preto registrou sete ataques a carros-fortes nas rodovias, sendo que em seis oportunidades os criminosos conseguiram levar o dinheiro. O caso mais recente ocorreu na noite de anteontem, na rodovia Anhanguera, entre Orlândia e Sales Oliveira. Até ontem, ninguém havia sido preso.  

Durante a ação, criminosos em três veículos teriam interceptado o carro-forte e anunciado o assalto com tiros traçantes (que deixam um rastro luminoso visível a olho nu na escuridão). Marcas de tiros de fuzil também foram encontradas.  

Outro ponto que chama a atenção é a quantidade de explosivos usada na ação. O carro ficou completamente destruído e o teto foi arrancado com a explosão.    

"Acreditamos que, às vezes, eles erram na dose porque não sabem o tipo de blindagem que foi usada. Desta vez, foi tanto que parte do dinheiro acabou sendo perdida também", declarou o diretor da Polícia Civil de Ribeirão Preto e região, João Osinski Júnior . O valor roubado pela quadrilha não foi divulgado.  

O especialista em segurança Ricardo Alves de Macedo considera que um dos motivos para explicar os repetidos ataques a carros-fortes na região é a disparidade existente hoje entre o armamento utilizado pelos criminosos e pelos policiais (leia na página ao lado).

O ataque  

O carro-forte havia saído de Orlândia e tinha como destino Ribeirão Preto. Por volta das 19h30 de segunda-feira (13), o motorista do veículo foi fechado por um dos carros do grupo. Ele perdeu o controle da direção e andou aproximadamente 50 metros sobre a grama, até bater na cerca de uma fazenda.    

Os criminosos abriram fogo e os quatro vigilantes foram obrigados a sair. Dois deles ficaram feridos no braço e na mão. Em seguida, a quadrilha colocou os explosivos e conseguiu fugir com o dinheiro transportado pela empresa.    

As vítimas foram socorridas até a Santa Casa de Orlândia, mas, devido à gravidade, precisaram ser transferidas para a unidade de Ribeirão Preto. Ambos permanecem internados, mas passam bem. 

Ataques semelhantes 

- 10 de julho de 2015
Criminosos tentam assaltar três carros-fortes que trafegavam na rodovia Antônio Machado SantAnna sentido Ribeirão-São Carlos, entre Guatapará e Rincão. Antes do pedágio, um veículo I30 preto começa a segui-los e criminosos atiram contra os carros. A quadrilha atira com fuzis, mas ninguém se fere. 

- 7 de agosto de 2015
Em um crime cinematográfico, uma quadrilha fortemente armada assalta um carro-forte, mata o motorista e, na sequência, ainda liberta 41 presos na rodovia Abrão Assed (SP-338) após um confronto com policiais militares, em Mococa. Há troca de tiros e o motorista do veículo, Vladimir Martinez, de Ribeirão Preto, morre na hora. Segundo a Polícia Militar, a quantia de R$ 1 milhão que estava em dois malotes é levada. 

- 9 de novembro de 2015
Dois carros-fortes da Protege saem em comboio de São Carlos em direção a Ribeirão Preto à noite quando um dos motoristas percebe que está sendo seguido por dois veículos na rodovia Antônio Machado SantAnna (SP-255), entre Araraquara e Guatapará. O condutor atravessa o canteiro central e consegue chegar a Ribeirão. Os bandidos atiram no outro carro-forte e matam o vigilante Paulo César Martins Silva, de 33 anos, com um tiro de fuzil na cabeça. Durante o tiroteio, o carro-forte bate em um dos veículos usados pela quadrilha, um Ford Edge preto blindado, e capota. A quadrilha consegue roubar os malotes com R$ 3,5 milhões. 

- 6 de abril de 2016
Uma quadrilha fortemente armada intercepta e explode um carro-forte da Protege na rodovia Anhanguera (SP-330), em Luiz Antônio, de manhã. Os criminosos roubam cerca de R$ 1,5 milhão e fogem. Ao todo, são três explosões no carro-forte, mas, mesmo assim, os criminosos não conseguem levar todo o dinheiro. Um vigilante é baleado na perna e um motorista que passava pelo local também é atingido. Ninguém morre. 

- 13 de março de 2017
Carro-forte da Protege é ultrapassado por um Honda CRV prata na rodovia Carlos Tonani (SP-333), em Barrinha, e sofre disparos de armas de grosso calibre na lateral. Após a ultrapassagem, integrantes do Honda atiram no motor do carro-forte, que cai na vala do canteiro central. Encapuzados e com coletes à prova de balas, cerca de dez criminosos rendem os quatro vigias e exigem que eles deixem o local. Eles explodem o carro-forte e fogem em pelo menos três carros. Depois disso, na rodovia Deputado Cunha Bueno, zona rural de Jaboticabal, uma viatura da Polícia Militar é atacada e o PM Erik Henrique Ardenghe é morto com um tiro de fuzil na cabeça. 

- 6 de setembro de 2017
Carro-forte é roubado e explodido na rodovia Carlos Tonani, no trecho que liga Barrinha a Jaboticabal. Dois carros interceptam o veículo da empresa Protege e, armados de fuzis ponto 50, os criminosos levam os malotes de dinheiro. Os vigilantes que estavam a bordo do carro-forte conseguem sair do veículo e não se ferem gravemente. Assaltantes usam dinamites para destruir o veículo.   

Empresa diz prestar assistência  

Por meio de nota, a Protege declarou que está prestando toda a assistência necessária aos seus colaboradores e também "colabora com as autoridades na investigação em curso." Informou ainda que os dois vigilantes atingidos estão hospitalizados, foram submetidos a cirurgia e passam bem.  

"A Protege esclarece que cumpre, rigorosamente, a legislação em vigor do setor, ressaltando que exerce atividade regulamentada pela Polícia Federal e demais órgãos competentes, e investe, constantemente, em novas tecnologias para aprimorar suas operações", completa a nota.  

Nesta semana, ação foi entre Orlândia e Sales Oliveira (Reprodução)

Crime teria relação com o tráfico 

O diretor da Polícia Civil na região, João Osinski Júnior, relacionou o ataque ao carro-forte na rodovia entre Orlândia e Sales de Oliveira com o tráfico de drogas.    

Ele afirmou que as quadrilhas têm buscado dinheiro de forma rápida para suprir a atuação constante da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) contra o crime organizado.    

"Esse trabalho incessante vem causando prejuízos a eles, retirando toneladas de drogas das ruas. Logicamente, essa droga precisa ser paga por aquele que a perdeu, e o único lugar que existe dinheiro em grande quantidade é nos caixas eletrônicos ou então em carros-fortes", explica.    

Segundo o delegado, não há dúvidas sobre a articulação entre quadrilhas da Capital com bandidos da região. "Ninguém sai de São Paulo caçando esses veículos. Eles sabiam que o carro estava carregado e tinham informações privilegiadas sobre o trajeto", concluiu.
O trabalho de investigação está sendo feito em conjunto com o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), da Capital. (Com EPTV)  

Em 2016, criminosos explodiram empresa  

Em 5 de julho de 2016, uma quadrilha com vários veículos e armamento de guerra explodiu por três vezes a empresa Prosegur na avenida Saudade, nos Campos Elíseos, e fugiu com R$ 51,2 milhões. Criminosos incendiaram veículos e explodiram um transformador de energia do bairro.  

Durante a fuga dos criminosos, o cabo da Polícia Rodoviária Tarcísio Wilker Gomes, 43 anos, foi atingido pela quadrilha por um disparo na cabeça, a cerca de 100 metros de distância, e morreu na hora, no km 321 do Anel Viário em Ribeirão. O morador de rua Ubiratan Soares Berto, 38, se escondeu debaixo de um carro para fugir da troca de tiros, mas o veículo acabou pegando fogo e ele morreu.  

Na época, dois suspeitos foram presos em Caldas Novas, em Goiás, com R$ 160 mil, e dois em Ribeirão Preto, um deles com R$ 34 mil e armas. Também foram presos outros dois suspeitos em São Paulo e mais um em Atibaia. O criminoso que seria líder da quadrilha está foragido e é processado à revelia.  

Feridos  

2 vigilantes ficaram feridos no ataque ao carro-forte da Protege na noite de anteontem, na rodovia Anhanguera, entre Orlândia e Sales Oliveira. Eles foram socorridos e passam bem. 

Mortos  

2 pessoas morreram no ataque à sede da Prosegur em julho de 2016 - o cabo da Polícia Rodoviária Tarcísio Wilker Gomes, de 43 anos, e o morador de rua Ubiratan Soares Berto, 38.

Análise

Disparidade muito grande no armamento 

"Existe uma disparidade muito grande entre o armamento utilizado pelos vigilantes, que usam revólver 38 e no máximo uma espingarda calibre 12, e o armamento pesado utilizado pelos criminosos, obtido por contrabando e tráfico de armas. São pessoas de organizações criminosas com informações privilegiadas que planejam por um bom tempo o crime, sabem que o carro-forte vai passar em determinado horário em certo local. Procuram locais que estejam no meio do caminho das bases da Polícia Rodoviária. No caso desse crime perto de Sales Oliveira, os criminosos sabem que nessa cidade não há um efetivo grande de policiais. Além disso, não há efetivo policial suficiente fiscalizando as rodovias. O efetivo da Polícia Civil em Ribeirão foi reduzido à metade nos últimos dez anos, os dois batalhões da Polícia Militar de Ribeirão contam com um pouco mais de 1,2 mil homens e deveria haver 3.000. Também há poucos homens da Polícia Federal, que cobre mais de 50 cidades e tem hoje 14 homens. Para solucionar essa questão, seria preciso armar melhor os vigilantes, as polícias e aumentar o efetivo policial, além de obter mais e melhores viaturas, como helicópteros, por exemplo." (Ricardo Alves de Macedo,
Especialista em segurança)



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