Punições eram aplicadas quando as vítimas de exploração sexual não lucravam o valor de R$ 170 da diária exigida pelos investigados
A delegada Luciana Maibachi Gebrim, responsável pela Operação Fada Madrinha no interior de São Paulo, revelou durante coletiva de imprensa, na tarde desta quinta-feira (9), que as 14 transexuais mantidas em cativeiro, em Franca, eram humilhadas e espancadas com barras de ferro e pedaços de pau com pregos na ponta.
As punições aconteceriam quando as vitimas de exploração sexual não lucravam o valor mínimo de R$ 170 por dia, cobrado pelos investigados. Até o momento, três pessoas foram presas acusadas de tráfico internacional de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, associação criminosa, rufianismo e exercício ilegal da medicina.
"Elas eram informadas que, para realizarem os seus sonhos, teriam de pagar uma diária. Do contrário, eram humilhadas de diversas formas. Sabemos que elas já foram deixadas nuas nas rodovias, tiveram os cabelos raspados e até agredidas fisicamente com barros de ferro e pedaços de pau e pregos", destaca a policial.
Próteses reaproveitadas
A investigação concluiu, ainda, que as vítimas eram recrutadas pelas redes sociais, em diversas regiões do País, acreditando que seriam preparadas para concursos de beleza no exterior, principalmente na Itália. A quadrilha oferecia a elas cirurgias faciais e corporais.
Quando chegavam a Franca, eram submetidas a exploração sexual. A maioria passava por procedimentos ilegais, como a injeção de silicone industrial e implantes de próteses mamarias reutilizadas, vencidas ou de baixa qualidade.
"Algumas das trans que fizeram isso tiveram sequelas e necrose do tecido. Eram próteses de outras transexuais, que eram deixadas nessas clínicas investigadas e os médicos reaproveitavam", completa Luciana. Compras de roupas, sapatos e perucas também eram exigidos.
Operação Fada Madrinha
A ação foi realizada pela manhã em parceria com o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal. Dois foram detidos em Franca. O terceiro em São Paulo.
Ao todo, 52 policiais federais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva e oito de busca e apreensão nas cidades de Franca (SP), São Paulo (SP), Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Jataí (GO), Rio Verde (GO) e Leopoldina (MG).
As investigações, no entanto, foram iniciadas em 2017. De acordo com a Polícia Federal de Ribeirão Preto, que auxiliou nas diligências da região, o esquema de aliciamento das transexuais foi descoberto na internet. A ação policial foi acompanhada por representantes do Ministério do Trabalho e Emprego e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que ficarão responsáveis pelas medidas protetivas às vítimas.