Autores de matança no Ipiranga estão livres e impunes

20/06/2018 08:00:00

Série de ataques que deixou 5 mortos e 4 feridos teve início três horas após a execução do cabo Roberto Abramovicius, o Brama, no dia 21 de junho do ano passado


Arte: Daniel Torrieri / A Cidade

A série de ataques que deixou quatro mortos e outros cinco feridos entre os dias 21 e 23 de junho de 2017, e aterrorizou os moradores da região do Ipiranga, na zona Norte de Ribeirão Perto, ainda está sem resposta da polícia. Passado um ano, os inquéritos abertos pela Polícia Civil seguem sem apontar sequer um responsável pela matança e os autores continuam livres e impunes.

A onda de execuções teve início logo após o assassinato do cabo da PM (Polícia Militar) Roberto Pereira Abramovicius, o Brama, então com 38 anos, ocorrido na manhã do dia 21 de junho do ano passado.

O policial trabalhava como segurança em um posto de combustíveis no Ipiranga quando foi executado com dois tiros na cabeça.

Acusado do crime, o jovem Alef Viera dos Santos foi preso quase três meses depois. O motivo seria vingança, pois Alef acreditaria que o PM estivesse envolvido na morte de seu irmão.
 
Encapuzados num carro prata 

À época, testemunhas apontaram como autores dos ataques homens encapuzados em um carro prata.

Os quatro atentados foram registrados em um raio de cinco quilômetros do posto onde o PM foi morto, no cruzamento das ruas Itajubá com Américo Batista, na região Norte.

O delegado Cláudio Salles Júnior, do Setor de Homicídios da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), afirma que as investigações esbarram na lei do silêncio.

"Até o momento não temos uma pessoa identificada ou uma informação concreta. Ninguém fala absolutamente nada. Familiar mesmo, não fala nada, porque não presenciou", diz o delegado. 

Quando acontece um crime, segundo Salles Júnior, principalmente no meio da rua, o lógico é que todo mundo vá olhar o que está acontecendo. "Nesse caso, ninguém sabe dizer que carro foi usado, alguém que fale que foi desse modelo, dessa cor, pelo menos alguns números da placa. Nada, absolutamente nada", declara.

Três ataques ocorreram à luz do dia 21 de junho, no horário em que os policiais procuravam o assassino de Brama.
 

NOITE DE 23 DE JUNHO - Encapuzados abrem fogo contra três rapazes no cruzamento da Rio Negro com a rua Itajubá, no Ipiranga, e matam 2 (foto: Thiago Roque / A Cidade)

Bruno Henrique Januário Dias, 16, Fábio Henrique de Oliveira, 34, foram mortos, respectivamente, nos bairros Jardim Jandaia e Simioni. Gustavo dos Santos, 23, Luiz Alberto Francisco, 61, e mais dois adolescente, que não tiveram os nomes divulgados, foram feridos por tiros no cruzamento das ruas Porto Seguro com Itaguaçu.

No dia 23, o ataque foi no cruzamento das ruas Itajubá com Rio Negro. Elias David da Silva, 45, Adam Pires de Mesquita, 20, foram mortos por volta de 23h30. Alef Barbosa de Oliveira, 23, sobreviveu.

Familiares e vizinhos das vítimas ouvidos pelo jornal A Cidade à época afirmaram que os ataques foram cometidos por quem não tinha medo ou tinha a certeza de que não seria preso pelo crime.

Salles Júnior, apesar de não descartar essa hipótese, acredita também que um dos motivos seria uma briga entre quadrilhas que teriam se aproveitado da execução do PM.

"Criou-se um negócio que teria sido vingança dos PMs. Só que isso não acontece. Quando é PM que mata bandido, de imediato tem aquele toque de recolher. Na verdade, nada disso aconteceu. Não houve retaliação por parte de facção criminosa nenhuma, então isso já é um indicativo que muito dificilmente foi a vingança de PM", afirma.  

Delegado Cláudio Salles Júnior comanda ás investigações dos homicídios na zona Norte (Fotos: Weber Sian / A Cidade)

O delegado explica que já pediu prorrogação nos inquéritos e diz que não quer encaminhar os casos para a Justiça sem apontar uma solução.

"Vamos tentar ao máximo. Se não tiver pelo menos o mínimo de informação necessária, fica difícil de chegar à autoria. Nos primeiros meses, se alguém sabe de alguma coisa não fala por medo. Por experiência, o tempo, muitas das vezes, acaba ajudando", diz.

A investigação da Polícia Civil é acompanhada pelo promotor Eliseu José Berardo Gonçalves, que não quis dar entrevista sobre o caso. Por meio da assessoria do MP, o promotor informou que as investigações ainda estão nas mãos da polícia e que por isso, não tinha nada a declarar. 

"Na [delegacia de] Homicídios a gente não puxa para o lado de ninguém, se matou vai pagar", afirma o delegado Salles Júnior.
 

Ouvidoria

O Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, disse ao ACidade ON que vai encaminhar um ofício nesta semana para a Corregedoria da PM (Polícia Militar) e para DIG de Ribeirão Preto com o objetivo de saber se há ligação entre a execução do cabo Brama e os assassinatos que ocorreram na sequência.

"Os casos estão como autoria desconhecida e a investigação é difícil. Se a corregedoria investiga é porque há o mínimo de indício", comenta.

Mariano lembra que assumiu a Ouvidoria em fevereiro último, mas que está se empenhando em conseguir uma resposta para esses crimes.

ACidade ON solicitou na quinta-feira (14) um posicionamento da Corregedoria da PM sobre um Inquérito Policial Militar (IPM) aberto após a morte do cabo Brama, mas não obteve resposta.

Uma cunhada do policial ouvida no dia do sepultamento dele também não retornou a um pedido de entrevista.

Alexandra Abramovicius, 47 anos, disse à época que Brama tinha inimigos, mas que a família desconhecia ameaças contra o policial.

"No trabalho ele era profissional e pagou um preço muito caro".



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