"Reagi ao assalto, porque queria meu celular de volta", diz vítima

07/07/2015 09:57:00

Mesmo com orientação de policiais, vítimas reagem a assaltos e fazem justiça com as próprias mãos; prática é condenável

colaboração
detido Ao tentar roubar uma bicicleta de uma criança de 10 anos, ladrão foi detido por populares

“Ele chegou me agredindo e tudo aconteceu muito rápido. Num primeiro momento, fiquei com muita raiva, percebi que ele tinha minha estatura e que não estava armado, então bati nele. A única coisa que queria naquele momento era meu celular de volta, pois comprei com o dinheiro do meu trabalho e nele tenho minhas coisas, em especial fotos”, conta a costureira de 40 anos, que preferiu não ter o nome identificado.

Ela faz parte de uma perigosa estatística, a de pessoas que reagem a assaltos. Somente na semana passada, em Araraquara, dois casos foram registrados. A polícia é enfática e pede para que as pessoas não se oponham aos assaltantes.

O da costureira ocorreu no bairro Santa Angelina. A mulher estava na avenida Armando Salles de Oliveira, quando foi abordada por um homem de 31 anos. Ele pediu o celular e começou a agredi-la. A mulher então reagiu com socos e chutes e conseguiu derrubá-lo do veículo, antes dele fugir.

A polícia foi chamada e o homem precisou ser socorrido por conta das escoriações no rosto. Após o atendimento médico, ele foi levado para o Plantão Policial, onde foi preso em flagrante e encaminhado para cadeia de São Carlos. Ele chegou a ser reconhecido por outros seis roubos a transeuntes em Araraquara.

A vítima conta ainda que não sentiu medo no momento do assalto, apenas raiva. “Fiquei com raiva, pois ele chegou me agredindo. Do assalto não fiquei com medo, mas a Justiça não deve segurar ele por muito tempo, o que me deixa preocupada, pois tenho filhos”, ressalta.

Na mesma semana, populares seguraram um homem de 30 anos, que tentou roubar a bicicleta de um garoto de 10, mediante ameaça, na avenida Octaviano de Arruda Campos, na Vila Xavier.

Várias pessoas que passavam pelo local, no momento do crime, conseguiram segurar o assaltante. O rapaz foi preso e encaminhado a ADP (Anexo de Detenção Provisório) da Penitenciária de Araraquara.

Não reagir - A orientação das polícias é que a vítima nunca reaja a assaltos. “A orientação é sempre não reagir, pois nesse caso o fator surpresa está do lado do assaltante. Ele pode estar armado ou recebendo a cobertura de outro indivíduo. Por isso é melhor deixar levar o bem material do que perder a vida”, explica o delegado Edivaldo Ravenna.

Ainda de acordo com o delegado, o mais importante é que a pessoa memorize as feições do assaltante, para que depois possa ser feita uma investigação e reconhecimento. “Quanto mais precisas forem as informações, mais fácil será a prisão dos criminosos e a recuperação ou apreensão de objetos”, diz Ravenna.

“Orientamos nunca reagir no caso de ser rendido por criminosos, pois a vida é o bem mais precioso e uma reação poderá ter como consequências graves, como a perda da vida”, ressalta a Polícia Militar, em nota.

Reação x justiça - Para o sociólogo e professor da Uniara, Edmundo de Oliveira, a reação das vítimas pode ser explicada por dois motivos. Primeiro é instintivo, ou seja, a pessoa reage sem pensar; segundo é querer fazer justiça com as próprias mãos, ao entender que a justiça é falha. “Você pode fazer justiça de uma maneira civilizada ou não civilizada. A atitude de se fazer com as próprias mãos é perigosa e mostra que alguma coisa está falhando”, ressalta.

Ainda no caso do garoto, em que a população se uniu para segurar o autor do roubo, Edmundo ressalta que esse tipo de efeito é conhecido nas relações como ‘efeito manada’, quando todos acabam se juntando em prol de uma terceira pessoa. “Esse tipo de caso causa um efeito que as pessoas deixam de pensar individualmente e passam a pensar em grupo”, finaliza.



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