Varejo disputa a moda evangélica

28/09/2014 16:50:00

A condição é de que as roupas sejam comportadas, como blusas e vestidos com mangas e saias abaixo dos joelhos

F.L. Piton / A Cidade
Thaís em sua loja, no Boulevard: crescimento de 50% (Foto: F.L. Piton / A Cidade)

Ribeirão Preto possui 120.064 pessoas que se declaram evangélicas, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destas, cerca de 70 mil são mulheres. E o varejo está de olho nelas.

Observa-se na cidade o aumento do número de lojas de roupas voltadas para esse público, chamadas de moda evangélica. “É um mercado em pleno crescimento. Em Ribeirão há apenas quatro lojas exclusivas para esse público”, afirma Thaís Tales de Oliveira Coutinho.

Thaís é evangélica e, agora, empresária. Há cinco meses ela abriu uma loja de moda evangélica, chamada Filhas de Jó. Voltada para o público feminino, o comércio traz peças para quem segue a religião ou gosta de roupas mais comportadas.

Segundo ela, o padrão evangélico se define por roupas mais comportadas, como blusas e vestidos com mangas e sem decotes, e saias abaixo dos joelhos. “Mas, isso não quer dizer que são peças fora de moda”, frisa.

Thaís ressalta que os homens evangélicos não têm dificuldade em encontrar roupas, pois usam terno e roupas sociais, encontrados em qualquer loja. A dificuldade é para o público feminino. “Antes de abrir a Filhas de Jó, eu acabava comprando em lojas comuns e tinha que adaptar as peças, como no caso de vestidos sem manga, que mandava fazer um bolero para usar junto”.

A empresária, por sua vez, afirma que além do público evangélico, a loja atende pessoas que gostam de roupas mais comportadas. “Tanto é que nesses cinco meses de funcionamento, o aumento nas vendas tem sido progressivo. Quem veio e comprou, acabou voltando”, diz.

Com números positivos, Thaís espera um crescimento de, pelo menos, 50% para o próximo ano. “Como há muita demanda para este público, acabamos atraindo pessoas de outras cidades”, acrescenta.

Para o economista da Associação Comercial e Industrial, Fred Guimarães, este é um nicho de mercado interessante e que possui grande demanda.

Bíblia lidera o ranking de vendas

Outro ramo que os evangélicos movimentam é o de livrarias. José Garcia Cáceres é proprietário da livraria cristã Palavra Viva.

“Vendo bíblias, livros, CD, DVD, marcador de livro. Um conteúdo religioso extenso e voltado aos evangélicos”, diz.

Segundo ele, o produto de maior procura é a bíblia, seguido pelos CDs de música gospel. “Tenho bíblias que custam de R$ 5,30 a R$ 325. Uma variedade enorme”, afirma.

Para Cáceres, esse é um setor com movimento constante. “Sem bíblia ninguém fica.

A maioria dos evangélicos tem no mínimo três, cada um. Uma para deixar em casa, outra no trabalho, no carro. Não fica sem uma bíblia por perto”.

Loja oferece de saias jeans e blusas a vestidos

Zilda Maria de Moraes Vaccari é vendedora na loja de moda evangélica Saia & Cia há nove anos e viu o crescimento do negócio.

“No início, nosso forte eram as saias jeans tradicionais”, conta a profissional.

Há 12 anos no mercado, a loja expandiu o ramo de negócio e hoje vende saias jeans, de tecido, blusas e vestidos.

“Roupas para mulheres cristãs e com muito estilo”, frisa.

Com o passar do tempo, a loja conseguiu inovar também em estampas e cores, e ainda se manter dentro do padrão que a religião prega.

“As confecções estão por dentro do que é tendência no mundo da moda e então, adaptam para a mulher cristã”, explica Zilda.

Segundo ela, a procura na loja é muito grande. “Não só de Ribeirão, mas também das cidades da região como Cravinhos, Serrana, Serra Azul, Jardinópolis, Sertãozinho, Altinópolis”, afirma.

Dificuldades

A estudante Bianca Avelar da Silva, de 16 anos, conta que antes de conhecer a loja, tinha muitas dificuldades em comprar roupa.

“Para a minha idade, as saias são muito curtas e as blusas decotadas”, diz a estudante.

“Ter uma loja em Ribeirão Preto em que encontro peças na moda e dentro do padrão evangélico é ótimo”, completa.

Análise

‘É uma realidade de mercado’

“A segmentação de alguns setores, como é o caso da moda evangélica, não é apenas uma tendência, e, sim, uma realidade de mercado. É prático e estratégico. As empresas trabalham focando em um público-alvo específico, ao invés de direcionar o produto à marca. E ao direcionar para um setor, como o evangélico, é mais fácil entender o que ele precisa e assim, atender ao público com qualidade. Segmentar um setor, nada mais é do que condicionar uma oferta a um público específico. É dar ao cliente o que ele realmente procura. Isso ajuda a fidelizar a marca. A ideia central é saber onde o público está e oferecer o que ele precisa. Se a estratégia for bem trabalhada, a possibilidade de dar certo é muito grande. Ter um mix de produtos adequados e uma comunicação estratégica é a chave do sucesso para atrair o público-alvo.”

Renato de Campos,
Especialista em marketing e consumo



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