Seca na lavoura faz hortifrúti virar 'hortiseco'

18/10/2014 15:55:00

E apesar da previsão de chuvas para os próximos dias, a produção de verduras já está comprometida

F.L.Piton / A Cidade
Diferenças entre uma laranja afetada pela estiagem e outra comum (foto: F.L. Piton / A Cidade)

É bom o consumidor ficar atento. Apesar da previsão de chuva para os próximos dias, algumas frutas, legumes e verduras podem faltar nos varejões de Ribeirão Preto. A causa é a forte estiagem que afetou a produtividade dos hortifrútis, já apelidados de ‘hortisecos’.

Em julho, Moacir Rosado, proprietário de uma horta na avenida Bandeirantes, na zona Oeste, comemorava a boa produção, com a horta cheia e bonita. Três meses depois, ele lamenta a falta de chuva e o calor intenso. “As verduras não estão reagindo ao calor, estão secas e murchas”, diz.

Segundo ele, outro problema enfrentado é a escassez de água. “Irrigar a plantação com o sol forte que está fazendo é o mesmo que nada. Deixo para fazer a irrigação à noite, pois é mais fresco e conserva melhor a água”, explica.

Rosado estima que sua produção caiu em cerca de 50% por causa da estiagem e do calor. “Esse calorão castiga as verduras. Alface, almeirão, couve, o cheiro verde, estão todos murchos.”
Para ele, a grande preocupação é que se não tem na horta, falta nos varejões. “Se vier uma chuva leve e constante, vai ajudar bem. Mas, para isso, tem que chover uma semana para normalizar a produção”, frisa.

Varejões
Os varejões também estão preocupados com a estiagem. “Se não tiver água, a coisa vai ficar feia. Os produtos não têm qualidade e corre o risco de faltar no mercado. Cada dia fica pior”, afirma Marco Antonio Lopes, proprietário de um varejão na zona Oeste de Ribeirão.

Ana Osone, administradora de um varejão no Centro, reforça a fala de Lopes e diz que os hortifrútis foram muito prejudicados pela seca. “Se continuar assim, não vai ter produto no mercado e o que tiver, não terá qualidade”, comenta.

Além de correr o risco de não encontrar alguns produtos, o consumidor ainda sente o peso da estiagem no bolso. “A seca causa redução da produtividade e os produtos começam a faltar no mercado.

Consequentemente, acaba afetando os preços”, explica David de Lima Isaac, engenheiro agrônomo da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Segundo Lopes, a caixa de 20 quilos do limão estava sendo vendida a R$ 100. “Se comprasse, teria que vender a R$ 8 o quilo. Muito caro”, diz.

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Horta da avenida Bandeirantes, tradicional bolsão produtor de Ribeirão Preto: desidratação e falta de qualidade entre as consequências (foto: F.L. Piton / A Cidade)

Estiagem reduz prazo de validade e gera desidratação

Muitos consumidores reclamam que estão pagando mais caro por produtos de menor qualidade. “Um produto em falta tem seu preço elevado, mesmo que a qualidade não esteja boa”, diz o engenheiro David Isaac, da Ceagesp.

Com a falta de água para irrigação, muitas frutas e verduras estão murchas. A laranja, por exemplo, foi muito afetada. “Tem grande quantidade ofertada, por estar em período de safra, mas não há qualidade. Ela murcha por causa do sol intenso, que estraga a fruta”, explica o dono de varejão Marcos Lopes.

As verduras em folha também foram prejudicadas pela estiagem e o prazo de validade diminuiu devido ao calor. “Em dois dias elas já estragam. Se não vende, perde tudo”, diz. 

“Por isso, tem muita mercadoria que nem estou comprando. Senão o prejuízo é certo”, completa o proprietário de varejão.

Segundo ele, a cebola, abóbora e o melão são alguns dos poucos produtos que não sentiram as consequências da estiagem. “Os preços estão em baixa e a qualidade ainda se mantém”, conclui.

Análise

“A estiagem prolongada está afetando a produção de hortifrútis e a qualidade também fica prejudicada. As altas temperaturas e a falta de água causam a desidratação dos produtos. Mesmo os mais resistentes à falta de água ficam com o aspecto pior devido ao calor. Perde-se muito na produção, acaba faltando no mercado e o preço sobe. A situação só deve normalizar quando entrar no período de chuvas. Mas, para melhorar a qualidade dos hortifrútis precisará chover uma quantidade em que se encharque o solo”, emenda Isaac. 

“As últimas chuvas registradas foram tão leves que não fizeram diferença, o solo continua seco. Para a produção se recuperar, tem que ter água no solo.”

 

“Mas cada cultura tem um ciclo de produção e, mesmo chovendo bastante, pode ser que algumas não se recuperem”, diz. 

 



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