Maria mantém casa abrigo para 24 ex-moradores de rua

10/12/2017 14:28:00

Voluntária se destaca por sua generosidade; cidade tem 70 pessoas em situação de rua

Da reportagem
Maria contribui para ajudar 24 'meninos' ex-moradores de rua (Amanda Rocha/ACidadeON)

 

Quando se fala em solidariedade e em ação voluntária em Araraquara, não dá para deixar de citar Maria Lúcia Batitas Akutsu, que há três anos faz um trabalho independente, com a ajuda de terceiros, para manter uma casa e abrigar 24 ex-moradores de rua.

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“É uma casa de acolhida, onde os meninos ficam um tempo. Quando eles querem ir embora, podem ir. O ir e vir é para isso”, diz ela, lembrando que ficou nove anos no Japão fazendo trabalho voluntário com população de rua e hoje mantém a Casa de Acolhida Sacrário de Amor de Araraquara.

A voluntária usa de sua boa vontade e de boa parte do seu salário para custear as despesas da casa, incluindo o aluguel. Maria sabe que o único jeito de os seus garotos voltarem a ter uma vida digna e independente é com um emprego, mas esse é o ponto mais difícil, segundo ela.

“Preciso que eles sejam inseridos no mercado de trabalho. Muitas vezes eles não têm para onde ir ou para onde voltar, A família não quer muitas vezes. Vou colocar na rua novamente? Não”, afirma.
Maria não tem dúvidas de que a inclusão social se faz não só com arroz e feijão, mas através de oportunidades de trabalho e formas de reinserção dessas pessoas em situação de rua de volta à sociedade.

“A maior é a necessidade de arrumarem emprego. Eles têm direitos, mas qual o direito que eles podem procurar? Quais são os direitos deles? Preciso da ajuda dessas pessoas que tenham a possibilidade de inseri-los novamente na sociedade”, reforça.

Uma dessas pessoas é Júlio Cesar dos Santos Jesus, de 35 anos. Ele está há dois anos em Araraquara e passou a morar na rua por conta do vício em crack e cocaína. “Aquilo para mim foi um baque. Eu me afundei mais ainda. Mas depois minha mãe me ajudou e fui para casa Sacrário de Amor. Hoje sou coordenador lá e ajudo os meninos como posso”, comenta.

Problema sério
Segundo o último levantamento realizado pelos serviços de atendimento à população em situação de rua de Araraquara, SEAS (Serviço Especializado em Abordagem Social), Centro Pop (Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua) e Unidade de Acolhimento Casa Transitória ‘Assad Kan’, foi constatado cerca de 70 pessoas em situação de rua no município.

Maria Fernanda Luiz, coordenadora executiva de Direitos Humanos, enfatiza que um dos princípios da política nacional da população em situação de rua está na importância de oferecer lazer e cultura para essa população. Dentro do projeto da 1ª Edição da Semana Municipal de Direitos Humanos, houve, na terça-feira (5), uma roda de samba na Casa Transitória, entidade mantida pela Prefeitura.

“Pensamos em uma roda de samba nesse primeiro momento das atividades que pretendemos realizar. É sempre importante a gente entender que a população de rua faz parte da sociedade araraquarense, precisamos dar visibilidade a demanda que eles nos colocam. E que a gente entende a necessidade de trabalhar em prol dessa população também”, pontua.

Nessa primeira semana foram desenvolvidas atividades e ações com o olhar para a população em situação de rua, também como oportunidade de aproximação dessas pessoas.

Da reportagem
Araraquara tem 70 pessoas em situação de rua atualmente (Amanda Rocha/ACidadeON)

 

600 pessoas por mês
De acordo com Eliana Maria Branco Veigas, gestora da Casa Transitória, são atendidos de oito a dez pessoas diariamente. No momento, a Casa está com 14 pessoas acolhidas que residem no espaço, sendo três mulheres e 11 homens. O atendimento mensal gira em torno de 600 pessoas. Muitos vêm de outras cidades buscando emprego ou estão apenas de passagem por aqui.

Esperança
Ex-morador de rua, Maicon Fernando Dangelo, de 32 anos, está ‘de passagem’ pela Casa Transitória pela segunda vez. Desentendimentos com sua mãe, que é alcoólatra como ele, o fez sair de casa. Além do álcool, também faz uso de entorpecentes. Ele relata que já teve uma ‘vida normal’, com carro, esposa e filha, mas hoje vive sozinho e dependendo de ajuda para sobreviver.

Sua esperança é de se restabelecer, fazer tratamento e voltar a trabalhar. “Sou uma pessoa que tenho capacidade. Tenho meus conhecimentos e quero contribuir com a sociedade através do meu trabalho, sendo remunerado por isso. Quero ter novamente uma casa, mesmo que alugada, para me reaproximar de minha filha, da minha família. Essa é minha esperança”, diz, com os olhos marejados.

Dia Internacional
O dia 10 de dezembro é considerado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. A data foi instituída em 1950, dois anos após a Organização das Nações Unidas (ONU) adotar a Declaração Universal dos Direitos Humanos como marco legal regulador das relações entre governos e pessoas. Com esse ato, mais do que celebrar, a ONU visava destacar o longo caminho a ser percorrido na efetivação dos preceitos da declaração.
 



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