Saúde por habitante em Ribeirão Preto 'vale' uma cartela de analgésico

31/07/2014 10:57:00

Estudo mostra que em Ribeirão investimento da prefeitura, Estado e União somado é de R$ 1,82 por pessoa

Matheus Urenha / A Cidade
Mariane esperou cinco horas por consulta para a avó (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Uma cartela com quatro comprimidos de analgésico. É quanto vale diariamente a saúde dos ribeirão-pretanos.

Segundo levantamento feito no começo de julho pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Constas Abertas, o município investiu R$ 1,82 por dia em recursos próprios ou repassados pelo governo estadual e federal em cada um de seus 649,5 mil habitantes no ano passado.

Mesmo assim, proporcionalmente Ribeirão Preto é o sétimo entre os 20 maiores municípios do Estado de São Paulo em investimento diário na saúde, acima até da capital, que aplica R$ 1,61. São Bernardo do Campo, cidade campeã, repassa R$ 2,71 diariamente.

“Atualmente vivemos uma situação de calamidade generalizada na saúde pública devido a falta de investimentos, principalmente do governo Federal”, explica o médico Desiré Callegari, diretor de comunicação do CFM, em entrevista ao A Cidade.

Sobre o valor investido em Ribeirão Preto, ele afirma que “logicamente é muito pouco”, porém seguindo a tendência nacional.

Callegari diz que a falta de verbas reflete diretamente na qualidade dos serviços. Mariane Aparecida da Silva, de 16 anos, sentiu na pele o problema ontem, ao esperar cinco horas para que sua avó de 69 anos fosse atendida na UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) Central.

Levantamento feito pelo A Cidade com base na metodologia aplicada pelo CFM revela que 11 dos 27 municípios da região de Ribeirão Preto o investimento é ainda menor: eles aplicam menos que R$ 1,50 diariamente na saúde de seus habitantes (ver infográfico abaixo).

Na região, quem menos investe proporcionalmente é São Joaquim da Barra, com R$ 1,02 ao dia para cada habitante.

Arte / A Cidade
Infográfico mostra o investimento na saúde por habitante em Ribeirão Preto (Arte / A Cidade)

 

Internacional
Segundo o CFM, os governos municipais, estaduais e federal investem, somados, R$ 3,05 diariamente na saúde de cada brasileiro. “Está muito aquém da necessidade”, diz Callegari.

Ao ano, o investimento per capita na saúde no Brasil é de US$ 512. De acordo com o CFM, alguns países com sistema público universal de saúde chegam a investir quase oito vezes mais, como França (US$ 3.813), Alemanha (US$ 3.819) e Canadá (US$ 3.982).

Plano de saúde recebe o dobro dos usuários
Segundo o Conselho Federal de Medicina, os usuários de planos de saúde privado pagam, em média, o dobro às prestadoras de serviço do que recebem do poder público.

Levantamento do A Cidade junto à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostra que, em março deste ano, 293,4 mil ribeirão-pretanos (45% da população) possuía plano privado. Em 2000, a proporção era de 38%.

No Brasil, de acordo com o CFM, o usuário paga em média R$ 179 ao mês para a rede particular. Em contrapartida, os governos federais, municipais e estaduais investem, somados, R$ 91,50 em cada habitante.

“É uma situação inadmissível, que leva a crer que a saúde pública de qualidade não é uma prioridade dos governos”, diz Desiré Callegari, diretor do CFM.  

Outro lado

Em nota, o Ministério da Saúde disse que “na última década o orçamento federal executado mais que dobrou, passando de R$ 32,7 bilhões (2004) para R$ 83,1 bilhões (2013), exclusivamente, em ações e serviços públicos de saúde em todo o país”. A pasta explica que, em 2003, o gasto per capita da União em ações e serviços públicos de saúde era de R$ 154 e a previsão para 2014 é de que os gastos por habitante cheguem a R$ 444, “um aumento de 188%”. O Ministério da Saúde diz que, no ano passado, destinou R$ 57,4 bilhões para Atenção Básica aos estados e municípios brasileiros.



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