Valter Braz, o Boi Veio, Pedro Reis e Francisco Ferreira são inesquecíveis plantadores de sonhos

27/07/2014 17:47:00

José Márcio Castro Alves / arquivo pessoal
Boi Veio (à esq) e Pedro Reis. Encontro no sítio. José Márcio Castro Alves / arquivo pessoal

Quando o jornalista João Garcia (1947-2012) pegou o “Caminho da Roça”, em 1996, foi colhendo pepitas do chão. Ouro puro.

Uma delas foi o seu Valter Braz, o Boi Veio, mineiro de Ubá, que vivia “pra lá da pinguela”, num ranchinho, sozinho mais sua cachorra Bolinha, já pros lados de Santo Antônio da Alegria. Ali, plantava sua hortinha, tomava água da mina.

Brincalhão, alegre, Boi Veio imitava bêbado e gritava: “Morreu Boi Veio!” Foi assim que ganhou o apelido.

De resto, não havia homem mais sóbrio. Religioso, discreto, solitário, falava pouco, ouvia muito. Fazia a própria comida, roçava seu mato, conhecia todos os segredos do carro de boi. E elencava o nome de cada peça: eixo, canzil... Era capaz também de falar o nome das estrelas.

Quando encontrava seu Pedro Reis, morador do Sítio do Faísca, em Altinópolis, a conversa ficava ainda melhor. Seu Pedro, casado com dona Lurdes, que fazia um bolo de fubá maravilhoso, seria muito procurado hoje, se estivesse vivo.

É que ele previa o tempo com perfeição.
“Quando a sariema bate o queixo, é porque vem água”, dizia. E não errava. Com certeza, esta estiagem que deixou rios e cachoeiras em pedra pura, assustaria muito seu Pedro, um homem que vivia para plantar e colher.

Chico Louco
Outro caipira que João Garcia pôs em vitrine nacional, este no “Canto da Piracema”, na EPTV, foi o pescador Francisco Ferreira, o Chico Louco, que morreu aos 76 anos.

Ele era compositor, embaixador de Reis e contador de casos, além de ter ficado famoso por dançar catira com a primeira bailarina do Teatro Nacional do Rio, Ana Botafogo.

Toda esta gente sempre viveu no campo e tinha a alma da roça. Nenhum deles era o Jeca Tatu, deprimido e simplório. Eram sim, caipiras simples e sábios, conhecedores de mistérios. Deixaram saudade. Fazem muita falta.



    Mais Conteúdo