Prefeitura tenta convencer os empresários a cuidar de praças e de canteiros de avenidas localizadas na periferia
Praças e áreas verdes bem cuidadas, com espaço para lazer e descanso para famílias. E o melhor: sem que a Prefeitura de Ribeirão Preto tenha que gastar por isso. Por enquanto, esta realidade só ocorre em bairros nobres, principalmente na zona Sul.
Na última semana, a prefeitura apresentou uma lista de 37 áreas que foram “adotadas” por empresas ou construtoras por meio do projeto “Verde Cidade”, da Secretaria de Meio Ambiente. Da relação, apenas duas parcerias não foram firmadas visando áreas na zona Sul ou em bairros valorizados da zona Leste, como a Lagoinha – um posto de combustível vai revitalizar parte do canteiro da avenida Caramuru e uma drogaria da avenida do Café adotará outra área.
Nos dois casos, as áreas ficam próximas a estabelecimentos comerciais que vão bancar a manutenção dos espaços. Em troca, uma placa é colocada com o nome de quem mantém a manutenção. “A questão é comercial. O empresário não quer uma área verde em frente ao comércio dele mal cuidada”, diz Marcelo Pereira de Souza, professor de política e gestão ambiental da USP.
A prefeitura reconhece que o trabalho mais complicado é convencer empresários a também adotar áreas em regiões mais afastadas, mas acredita que o resultado será positivo. “É um trabalho de formiguinha, de convencimento dos comerciantes”, diz o secretário de Meio Ambiente, Daniel Gobbi, que garante estar em negociação avançada com empresas que serão parceiras na revitalização de canteiros e áreas mais afastadas do Centro e bairros nobres.
De acordo com o secretário, empresas que já adotaram áreas na zona Sul, por exemplo, se mostraram interessadas em “acolher” áreas esquecidas da zona Oeste, como o Parque Ribeirão.
Enquanto isso não ocorre, moradores das regiões com menos estruturas de lazer, reclamam. “As poucas praças que existem no bairro não estão legais. Seria ótimo ter alguém cuidando sempre dos espaços”, diz o vendedor Ronaldo Oliveira de Almeida, que mora no Ribeirão Verde.
Não tem como obrigar
De acordo com o secretário Daniel Gobbi, o principal papel da pasta é conquistar os empresários na base da conversa. Segundo ele, não há um mecanismo legal que obrigue que a adoção também ocorra em áreas menos nobres. Já especialista ouvido pelo A Cidade diz que é preciso endurecer mais. Hoje, segundo o Meio Ambiente, pelo menos 50 processos de “adoção” de áreas estão em análise na pasta.
Zona Sul é ‘privilegiada’
No início do ano, o A Cidade visitou 15 praças das cinco regiões de Ribeirão e constatou a diferença de qualidade entre elas.
A praça Matheus Nader Nemer (Praça da Bike), no Irajá, recebia no fim de tarde cerca de cinquenta pessoas em uma quarta-feira. No mesmo horário, apenas três frequentavam a Praça Armando Lagamba, no Quintino Facci 2 – com o dobro do tamanho, mas sem nenhum dos equipamentos, como academia ao ar livre, da unidade da zona Sul.
Se as praças da zona Sul são atrativos para as famílias, nas regiões menos valorizadas os donos das praças são traficantes e moradores de rua, como o A Cidade mostrou, em fevereiro, na praça José Mortari, na Vila Tibério. Na ocasião, os moradores pediam maior atenção da prefeitura e uma academia ao ar livre. Nada mudou até agora.
Auxílio para a periferia