Jovens são as maiores vítimas do vírus HIV

13/12/2017 10:44:00

Entre as 179 pessoas que se infectaram em 2016, em Ribeirão Preto, 36% são do sexo masculino, com idade de 20 a 29 anos

Matheus Urenha / A Cidade
Augusto Cardeal descobriu ter HIV em 2016: 'Fiz uma escolha errada e agora assumo as responsabilidades' (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Homens jovens, de 20 a 29 anos, e homossexuais, são hoje o grupo mais vulnerável para contrair o HIV em Ribeirão Preto. A conclusão está em um relatório do Programa Municipal de DST, Aids, Tuberculose e Hepatites.

Entre as 179 pessoas que pegaram o vírus em 2016, 65, ou 36%, são homens dos 20 aos 29 anos. Dez anos atrás, em 2007, somente 13% entre os novos infectados (14 entre 104) se encaixavam no mesmo perfil.

Dentro desse grupo atual está o recepcionista Augusto Cardeal, 26 anos, que descobriu o HIV há um ano e meio. Quando recebeu o teste positivo, em junho de 2016, ainda não havia atinado sobre o que estava acontecendo. “A ficha só caiu quando fui realizar alguns exames e a quantidade me impressionou, eram mais de 30 tipos. Naquele momento eu chorei dolorosamente, me apropriei da minha condição”, relembra.

A coordenadora do Programa Municipal de DST e Aids, Lis Neves, considera que um dos motivos para a alta dos casos de HIV nessa faixa etária pode estar relacionada ao fato de que os jovens de hoje não viram a “cara” da Aids, já que a doença era considerada uma “sentença de morte” entre as décadas de 1980 e 1990.

“A busca pelo prazer também é muito intensa e o jovem acaba pensando só depois. Hoje a Aids é considerada uma doença crônica, em que se toma um remédio e existe o controle”, pontua.

Prevenção

A Secretaria Municipal de Saúde vem trabalhando com o público jovem para intensificar a prevenção da doença. Em agosto, a pasta deu início a um projeto em 19 escolas públicas, em parceria com a Escola de Enfermagem da USP.

Professores e alunos do 8º e 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio foram treinados para serem interlocutores da prevenção nas escolas. Em cada escola, 20 alunos e um professor foram capacitados.

“O grande objetivo foi fazer com que o jovem reflita para uma tomada de decisão segura com relação à sexualidade. Uma sementinha se plantou, teve aluno que conversou com os pais sobre o tema. Quando perguntamos a eles se há discussão com os pais, a maioria dos alunos diz que não consegue conversar”, destacou.

Palestras, teatro, rádio comunitária e um espaço na escola com orientações sobre DSTs figuraram entre as atividades desenvolvidas pelos alunos. “Em 2018 também pretendemos trazer as universidades”, concluiu.

Augusto foca na responsabilidade social

O recepcionista Augusto Cardeal descobriu ter HIV em junho de 2016. Com o tempo, a culpa pela contaminação foi superada, dando lugar a uma noção de responsabilidade social. “Eu passei a encarar que fiz uma escolha quando transei sem camisinha e agora assumo as responsabilidades.”

Encarar o assunto com tranquilidade e muita consciência fez com que ele se tornasse um militante da causa. Atualmente, Cardeal usa aplicativos de celular para incentivar o uso do preservativo e a realização de testes de HIV.

Ele relembra que a combinação do coquetel contra o HIV com antidepressivos surtiu efeitos indesejáveis. O cansaço e os pesadelos das primeiras semanas de medicação, no entanto, foram hoje parcialmente superados.

“Por um momento eu achei que preferiria ter câncer e disse isso para minha mãe. Falei que ela teria muito orgulho de contar a todos que o filho dela estava lutando contra o câncer. Pois contar que o filho estava lutando contra o HIV remetia à promiscuidade”, contou.

Cardeal garante que nunca sofreu rejeição de seus parceiros. “Eu assumi ser soropositivo e em Ribeirão quase todo mundo sabe. Quem vem até mim já chega sabendo.”

Para ele, falta discutir sobre sexo em casa e nas escolas. Abandonar a visão pecaminosa do ato e chamar atenção para os riscos que existem ao não se proteger. (Colaboração: Marina Marzola)

Matheus Urenha / A Cidade
Lis Neves diz que hoje a sobrevida da pessoa infectada pelo vírus HIV é maior, por conta dos medicamentos (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Aids já matou 1.335 em Ribeirão

O vírus da Aids foi responsável pela morte de 1.335 pessoas em Ribeirão Preto nos últimos 17 anos. O número de óbitos, no entanto, vem caindo progressivamente. Em 2000, por exemplo, a doença matou 133 pessoas no município. No ano passado, foram registradas 39 mortes em decorrência da doença, o menor índice dos últimos 17 anos. Durante o período a queda das mortes por Aids foi de 70%. “Os medicamentos evoluíram e hoje a sobrevida é maior. Hoje o paciente toma menos remédios, por menos vezes, e a medicação tem menos efeitos colaterais”, justifica Lis Neves, coordenadora do Programa Municipal de DST e Aids.

Avanço entre os idosos

Outro dado atual da epidemia que chamou a atenção da coordenação do Programa de DST e Aids foi o crescimento dos casos de HIV entre os idosos. 

Segundo o relatório, em 2016 foram registrados nove casos novos em pessoas com 60 anos ou mais em Ribeirão – cinco em mulheres e quatro em homens. Em 2007 um novo caso, em homem, foi registrado dentro dessa faixa etária. 

O avanço da doença entre a terceira idade preocupa especialistas, já que os efeitos do HIV seriam mais prejudiciais ao idoso e, com isso, a evolução para a Aids – quando as infecções oportunistas surgem – pode ser mais rápida. 

 

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