Depois de reportagens do ACidade ON, Letícia e outros 17 serão chamados para tratamento multidisciplinar
A Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto define hoje o cronograma de atendimento a 18 bebês diagnosticados com microcefalia associada ao zika vírus, que corriam o risco de regressão em seus tratamentos - iniciados no Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas - por falta de vagas no SUS (Sistema Único de Saúde).
A medida foi tomada após reportagens do ACidade ON denunciar que ao menos dois bebês - Letícia Fiorin Padial, de 1 ano e 5 meses, e Luiz Miguel Rodrigues- estão sem o devido acompanhamento multidisciplinar desde que tiveram alta do Programa de Estimulação Precoce do CER do HC.
No caso de Letícia, a alta ocorreu no início de outubro deste ano e desde então ela aguardava ser chamada para retomar o tratamento de fonoterapia e terapia ocupacional em serviços oferecidos pelo município. Após a reportagem mostrar a espera da menina, inicialmente a prefeitura agendou a avaliação para o dia 12 de dezembro e, agora, informou que vai antecipar essa data.
A situação de Luiz Miguel é pior: ele deixou o hospital no mês de julho e já perdeu algumas funções. Antes, ele conseguia se alimentar com refeições sólidas pela boca e agora, como perdeu movimentos do rosto e deglutição, não consegue segurar nem mais a chupeta.
As histórias das duas crianças foram reveladas em reportagens publicadas na segunda (20) e terça-feira (21) pelo ACidade ON (veja abaixo). À tarde, a Prefeitura informou por nota que, nesta quarta-feira (22), serão definidos todos os atendimentos “e todos os responsáveis pelos pacientes receberão a comunicação dos agendamentos”, informa o documento.
Regressão
De acordo com o especialista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, a possibilidade de os bebês terem os tratamentos iniciados no HC interrompidos - em ambos os casos por falta de vagas - poderia causar a regressão em seus quadros de melhoras.
Segundo ele, a falta de sequência nos tratamentos poderia jogar por terra todo o trabalho feito anteriormente. “A reabilitação não tem a intenção de recuperar as crianças com microcefalia, mas impedir que sofram perdas de funções importantes e permitam uma condição de vida melhor a elas”, afirmou Jean na segunda-feira, ao ACidade ON.
Letícia
Para não perder os avanços já conquistados pela filha Letícia, a mãe da criança, Verônica Fiorin Padial, 29, e a filha mais velha, de 8 anos, aplicam em casa alguns dos exercícios principais.
“Não é o ideal, mas, por enquanto, consegui apenas algumas tardes com alunos de fisioterapia [de uma universidade particular da cidade]. E, como sei que os estímulos mentais são fundamentais, dei meu jeito enquanto aguardo uma resposta da Secretaria da Saúde”, afirma.
A mãe tem assumido o papel dos profissionais multidisciplinares. Só que agora as macas e aparelhos especiais, que antes faziam parte da rotina de Letícia, foram substituídos por alguns brinquedos musicais e um tapete colorido, na casa onde a família mora, no Jardim Avelino Palma, bairro localizado na zona Norte de Ribeirão Preto.
Luiz Miguel
Desde julho deste ano, quando o menino Luiz Miguel Rodrigues, de 1 ano e 4 meses, teve alta do protocolo criado e aplicado pelo CER (Centro de Reabilitação) do HC (Hospital das Clínicas), o bebê permanece em casa, sem nenhum tipo de acompanhamento profissional oferecido pelo município. A fisioterapia é feita gratuitamente em uma universidade particular.
“Além desta, tínhamos três sessões de terapia ocupacional e fonoaudiologia por semana. Nessa época, o Luiz Miguel chegou a comer alimentos sólidos pela boca e, agora, já perdeu parte dos movimentos do rosto. Nem segurar a chupeta sozinho ele consegue mais”, diz a mãe, Lays Souza da Silva.
Luiz Miguel chegou a conseguir uma sessão de atendimento na UBS do Jardim Aeroporto. No entanto, o local não tinha parte dos equipamentos necessários.O que é a microcefalia
É uma malformação congênita em que o cérebro do bebê não se desenvolve de
maneira adequada, devido à presença do zika vírus, que se aloja no sistema nervoso central.
Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que
habitualmente é superior a 32 cm.