Bebê com microcefalia perde tratamento após ficar internado

21/11/2017 18:32:00

Depois do caso da Letícia, que ainda não deu início ao acompanhamento, Luiz Miguel está há pelo menos 2 meses sem as sessões

Arquivo pessoal
Luiz Miguel, de 1 ano e 4 meses, tem microcefalia associada ao zika vírus (Foto: Arquivo pessoal)

 

O pequeno Luiz Miguel Rodrigues, de 1 ano e 4 meses, tem microcefalia associada ao zika vírus e, assim como Letícia Padial, teve o tratamento fisioterápico interrompido há, pelo menos, dois meses, por falta de vaga no SUS, que são concedidas pela Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto.

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De acordo com a mãe dele, Lays Souza da Silva, desde julho deste ano, quando a família teve alta do protocolo criado e aplicado pelo Centro de Reabilitação (CER) do Hospital das Clínicas (HC), o bebê permanece em casa, sem nenhum tipo de acompanhamento profissional oferecido pelo município. A fisioterapia é feita gratuitamente em uma universidade particular.

“Além desta, tínhamos três sessões de terapia ocupacional e fonoaudiologia por semana. Nessa época, o Luiz Miguel chegou a comer alimentos sólidos pela boca e, agora, já perdeu parte dos movimentos do rosto. Nem segurar a chupeta sozinho ele consegue mais”, diz a mãe.

Ao ACidade ON, Lays explica que, depois do HC, ela levou o encaminhamento, que deveria garantir a continuidade dos recursos às crianças com microcefalia, na UBS do Jardim Aeroporto e conseguiu uma triagem para o filho no Nadef (Núcleo Atendimento a Deficientes).

“Só consegui porque insisti muito. Mas, mesmo assim, foi eficiente por pouco tempo. Na primeira consulta, ele não foi atendido porque o centro não tinha aspirador nasal, e meu filho é muito congestionado. Depois, perdemos a vaga porque ele precisou ser internado, por causa de um quadro de pneumonia”, afirma Lays, que ainda aguarda um posicionamento da Saúde.

“Eu e todas as outras mães só esperamos e lutamos pelo tratamento que nossos filhos merecem, porque a falta dele tem piorado a qualidade de vida dos bebês”, completa.

Lembra da Letícia?

Diferente do que foi afirmado na última segunda-feira (20) ao ACidade ON, através da Prefeitura de Ribeirão Preto, a família de Letícia Padial, de 1 ano e 5 meses, que também é portadora da microcefalia associada ao zika vírus, não foi notificada sobre a vaga liberada à ela para as sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia no ER-Nadef.

Para não perder os avanços já conquistados pela criança, Verônica e a filha mais velha, de 8 anos, aplicam em Letícia, na sala de casa, alguns dos exercícios principais.

“Não é o ideal, mas, por enquanto, consegui apenas algumas tardes com alunos de fisioterapia [de uma universidade particular da cidade]. E, como sei que os estímulos mentais são fundamentais, dei meu jeito enquanto aguardo uma resposta da Secretaria da Saúde”, afirma.

Weber Sian / A Cidade
Saúde diz que avaliação está agendada para 12 de dezembro (Foto: Weber Sian/ A Cidade)

 

Especialista

Em entrevista ao ACidade ON, feita na última segunda-feira (20), Jean Gorinchteyn, especialista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, afirmou que, devido à delicadeza do quadro, deixar bebês com microcefalia sem estímulos chega a ser uma involução – como se todo o trabalho antes aplicado não existisse, porque os déficits, fortalecimento da musculatura e questões mentais são áreas desenvolvidas a longo prazo e precisam ter continuidade.

Além disso, o médico diz que a reabilitação não tem a intenção de recuperar as crianças com microcefalia, mas impedir com que elas sofram perdas de funções importantes e permita uma condição de vida melhor à elas, junto a eficiência e multidisciplinaridade do tratamento, que inclui os pediatras, neuropediatras, fisioterapeuta, fonoterapeuta e terapeuta ocupacional.

Outro lado

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde informa que, no caso da paciente Letícia, agendada para atendimento em 12 de dezembro, a consulta será antecipada.

Já a situação do paciente Luiz Miguel, que aguarda agendamento de consulta pela equipe do Nadef, será assumida pelo Complexo Regulador da Secretaria, responsável pelos agendamentos de consultas e regulação.

O mesmo ocorrerá com os demais 16 pacientes portadores de microcefalia em Ribeirão Preto, que serão acompanhados pelo Complexo Regulador.

A definição de atendimentos de todos eles se dará nesta quarta-feira (22), e todos os responsáveis pelos pacientes receberão a comunicação de agendamentos.


 



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