Assaltos a pontos de ônibus explodem em Ribeirão Preto

15/10/2017 08:02:00

De janeiro a agosto de 2017 foram 286 ocorrências e 307 vítimas, aponta análise inédita do A Cidade

Milena Aurea / A Cidade
Foto: Milena Aurea/ A Cidade)
 

- Isso é um assalto!
O homem que minutos antes havia perguntado se o ônibus iria demorar para passar segurou firme o braço da doméstica Carla (nome fictício), 68 anos. Em seguida, a vítima caiu no chão após ser empurrada por uma comparsa e teve, em plena luz do dia, às 16h de 18 de julho, os pertences roubados.

“Fica um trauma, as palavras dele não saem da minha cabeça. Toda vez que paro no ponto de ônibus, tenho medo de ser assaltada novamente”, diz Carla. Pelo receio de ser ameaçada, ela pediu para não ter o nome real revelado.

Os assaltos em pontos de parada de ônibus explodiram em Ribeirão Preto este ano. De janeiro a agosto, foram 286 ocorrências registradas na Polícia Civil, que vitimaram 307 pessoas. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2014 foram 160 casos – pouco mais da metade.

Em 2017, a média é de ao menos uma ocorrência de roubo em locais de embarque e desembarque de ônibus todos os dias.

O levantamento foi feito pelo A Cidade com base em dados obtidos junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) por meio da Lei de Acesso à Informação.

Com base nos dados do Registro Digital de Ocorrência (RDO), a reportagem realizou um mapeamento dos locais e horários em que roubos desse tipo ocorreram nos últimos quatro anos (veja infográficos ao lado).

Nos últimos três anos, os Campos Elíseos, na zona Norte, foi o bairro predileto dos criminosos. Apenas em 2017, foram ao menos 36 crimes. A rua São Paulo é a mais perigosa: 11 ocorrências registradas, seguida da avenida Marechal Costa e Silva, com nove.

Milena Aurea / A Cidade
Foto: Milena Aurea/ A Cidade

 

Rotina

Carla utiliza o transporte coletivo diariamente para trabalhar. Ela conta que conhece ao menos 30 pessoas, a maioria trabalhadores de serviços domésticos ou de limpeza, que foram assaltadas enquanto aguardavam o ônibus.

“Mudei minha rotina depois do assalto. Antes, saía de casa para visitar minha irmã à noite, sempre de ônibus. Agora, não saio mais de casa. Tenho medo”.

Perfil dos ladrões é variado

Sozinhos, em duplas, à pé ou de carro, armados com revólver ou facas, buscando alvos solitários ou arrastões. Não há um padrão para os criminosos que buscam vítimas nos pontos de ônibus.

“Hoje o crime não tem cara, não há mais aquele estereótipo do bandido de bermuda e chinelo”, afirmou a Polícia Militar em nota enviada pela assessoria de imprensa. Três vítimas em datas diferentes ouvidas pela reportagem relataram que, após o assalto, os criminosos ameaçam matar quem chamar os policiais ou registrar boletim de ocorrência. Com isso, o número de ocorrências registradas e vítimas pode estar subnotificado.

“Estava com mais três pessoas no ponto, por volta das 22h30, quando chegou uma pessoa em uma moto. Apontou um revólver para todo mundo, e tivemos que jogar bolsas, carteiras e celulares no chão para ele recolher. E, antes de ir embora, ameaçou: se alguém chamasse a polícia, todos iriam morrer”, relata o atendente Lucas Almeida, 19 anos.

Ele foi assaltado no meio do ano passado em um ponto dos Campos Elíseos, e desde então tem receio, principalmente à noite. “A iluminação é muito ruim, favorece os criminosos”, diz.

Iluminação precária

A reportagem percorreu a região dos Campos Elíseos – bairro predileto dos criminosos – e verificou iluminação precária em paradas de ponto de ônibus.

Logo no início da avenida Costa e Silva, ao lado de um supermercado, um abrigo fica na penumbra por ser encoberto pelas folhas das árvores.

“Poderia ter melhor iluminação, favorece a criminalidade”, diz o lapidador de vidros Alexandre Henrique, 22 anos, que aguardava o ônibus com a filha de 4 anos, na noite de quarta-feira (11). Ele nunca foi assaltado, mas diz suspeitar que quase foi vítima de um homem em uma motocicleta, que parou ao lado do ponto e o encarou.

Os abrigos e pontos de parada de ônibus não possuem iluminação própria – dependem dos postes de luz nas vias públicas.

Metodologia

A reportagem solicitou à Secretaria de Segurança Pública, por meio da Lei de Acesso à Informação, informações relacionadas a todos os boletins de ocorrência de roubos em Ribeirão Preto entre 2014 e 2017 que tinham, na descrição de como ocorreu o crime, as palavras “ponto de ônibus”, “parada de ônibus” ou “abrigo de ônibus”. Os dados foram repassados pela SSP dentro do prazo previsto na legislação e de acordo com o solicitado. A Cidade, em seguida, removeu as informações duplicadas seguindo a orientação da SSP. Dos 1.188 crimes nos últimos 4 anos, 1.102 foram mapeados pelo A Cidade com base nas coordenadas geográficas e endereços informados pela SSP. Foram considerados os crimes tentados e os consumados.

OUTRO LADO
Inteligência guia abordagens e patrulhas, diz PM

Em nota, a Polícia Militar afirmou que monitora os boletins de ocorrência para reforçar o patrulhamento nas áreas de maior incidência de roubos e abordar suspeitos com características semelhantes às dos assaltantes.

A PM diz, na nota, que “a legislação só beneficia o criminoso”, e que presos em flagrante são liberados poucos dias depois. Afirma, também, que a maior parte dos crimes está relacionada ao tráfico de drogas.

A Transerp afirma que realiza rotineiramente vistorias em pontos de ônibus para verificar se há iluminação falha, mato alto ou “outro fator que possa prejudicar a segurança dos usuários”.

O órgão diz que disponibiliza o contato, por meio do aplicativo WhatsApp, para os usuários sugerirem medidas de segurança e outras sugestões, pelo número (16) 99789-9707.

A superintendente da GCM de Ribeirão, Mônica Noccioli, diz que a guarda faz o patrulhamento setorizado nos horários de pico, com foco em pontos de ônibus. Entretanto, são em média apenas seis viaturas para toda a cidade.

Com a contratação de mais guardas – 50 devem reforçar o efetivo em 2018 – o patrulhamento deve ser reforçado.

 



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