Daerp estima reduzir perdas de água para 32% em quatro anos

19/09/2017 17:02:00

Ministério Público, no entanto, pode propor TAC para exigir uma meta mais rigorosa para a autarquia

Mariana Martins / A Cidade

 

O Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) estima reduzir as perdas de água em vazamentos de rede ou de reservatórios para 32,28% até 2021. A projeção apresentada pela autarquia está em inquérito movido pelo Ministério Público que apura as perdas do líquido em Ribeirão.

No entanto, a promotora do Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente), Claudia Habib, não descarta a celebração de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que tornaria a meta mais rigorosa para o departamento.

A proposta é que Ribeirão siga outros 26 municípios da Bacia do Rio Pardo que já assinaram um acordo com o Ministério Público se comprometendo a reduzir para 20% as perdas de água até o final de 2019.

Em 2012 e em 2014, essas cidades assinaram o acordo e os resultados, segundo Habib, já estão sendo sentidos. “Tambaú, por exemplo, tinha perdas de 78,24% em 2015 e que caíram para 43,4% em 2017”, afirmou a promotora.

Perdas

As perdas de água em vazamentos de rede ou reservatórios estão atualmente em 42%. Conforme A Cidade mostrou em agosto, Ribeirão Preto joga fora, por dia, 265 milhões de litros de água por causa de vazamentos, problemas em hidrômetros e furtos.

Investigação

Iniciada em maio, a investigação cobra um plano de diagnóstico e de ações relativo a perdas de água, ainda não apresentado pela autarquia. O departamento se comprometeu a apresentar esse plano em um ano.

A promotora ressalta que medidas vêm sendo tomadas pelo Daerp para reduzir as perdas de água, como a diminuição da pressão na rede e manobras hidráulicas para o equilíbrio da pressão – ações que previnem os vazamentos.

Falta d’água

Em meio ao cenário de desperdício, moradores sofrem constantemente com vazamentos e falta d’água, muitas vezes crônica. É o que acontece, por exemplo, no Alto da Boa Vista (zona Sul).

O fisioterapeuta Mayko Olinto, 41, relembra que há dez anos, desde que se mudou para o bairro, sofre com o problema. “O Daerp deve fechar o registro, porque a água acaba às 9h e volta à noite ou de madrugada”, diz.

Mesmo com três galões para armazenar água, é comum a situação de ter de tomar banho na casa de parentes ou no clube. “Isso acontece de duas a três vezes por semana. Aqui em casa há duas crianças e um idoso”, conclui.

Poços clandestinos

Outra investigação do Ministério Público ataca os poços de água clandestinos. Um inquérito foi aberto em 2014 e, no mês passado, o Daerp assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em que se compromete a enviar semestralmente ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) um relatório de ligações de esgoto que não possuem pontos de captação de água, indício de fraude.

Weber Sian / A Cidade

No Paulo Gomes Romeo, Rosalina Seribelo de Paula ficou uma semana sem abastecimento (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

 

Rua fica uma semana sem água

Moradores da rua José Antonio Bernardes, no Paulo Gomes Romeo (zona Oeste), amargaram a semana inteira passada sem água.

A moradora Rosalina Seribelo de Paula, 54, conta que mora há três meses no local e nunca havia passado por isso antes. “Semana passada a água só vinha à noite, ontem [anteontem] chegou às 23h, horário que liguei a máquina para lavar roupa, que ficou toda acumulada”, relembra.

No Monte Alegre (zona Oeste), a semana passada também foi de torneiras vazias. “A noiva do meu filho, que mora lá, veio tomar banho aqui antes de ir para o serviço”, relembra.

No Jardim Paiva (zona Oeste), moradores da rua Victória Boainaim reclamam que falta água desde a última quarta-feira (13). “A água acaba às 9h e quando vou dormir, às 23h, ainda não voltou. Eu, meu marido e minha filha estamos tomando banho na casa da minha mãe”, reclama a vendedora Elizete Capuzzo, 36 anos.

Dados eram ‘inventados’

Os dados de perda de água fornecidos pelo Daerp ao Ministério das Cidades eram inventados. Os números, inclusive, serviam de base para um ranking elaborado pelo Instituto Trata Brasil.

No mais atual, divulgado este ano com dados referentes a 2015, a perda apresentada pelo Daerp era de 23%.

Ribeirão ficou na 22ª colocação entre as 100 maiores cidades mais populosas do Brasil. Um ano antes, com dados referentes a 2014, Ribeirão ficou na 8ª colocação nacional, com 15% de perdas.

A “bomba” foi apresentada por Luiz Alberto Mantilla, ex-diretor técnico do Daerp, em delação premiada à Polícia Federal e ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), em setembro de 2016.

Em depoimento, Mantilla declarou que “o volume de água de serviço era inventado”. A informação foi divulgada à época com exclusividade pelo A Cidade.

Com relação aos dados relativos a 2016, divulgados em agosto deste ano, a assessoria de imprensa do Daerp declarou que as informações foram obtidas com base em dados reais, efetivamente medidos e correspondem à realidade do que ocorreu no ano anterior, na gestão passada. “Estes dados foram encaminhados ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades.”

Calote de 10% inibe investimentos

A Cidade publicou, no início deste mês, que dois em cada dez contribuintes não pagam a conta de água e esgoto ao Daerp. O resultado disso é um calote acumulado de R$ 225 milhões até junho deste ano, dinheiro que poderia ser investido em melhorias no abastecimento.

O diretor financeiro do Daerp, Marcus Vinicius Berzoti, admitiu que a inadimplência tem um peso muito grande no atendimento ao cidadão.

“O que os contribuintes inadimplentes deixam de pagar reflete na falta de recursos necessários para os investimentos que precisam ser feitos para a melhoria na qualidade do serviço prestado à população”, declarou.

OUTRO LADO
Daerp elabora plano

O Daerp declarou, por meio de nota, que já começou a elaborar um plano de diagnóstico e de ações e que o documento estará pronto em um ano. A autarquia deverá fazer um levantamento completo dos setores de distribuição contendo as zonas de pressão na rede e medição.

Sobre a falta d’água no Paulo Gomes Romeo e no Jardim Paiva, o Daerp declarou que, há duas semanas, fez uma obra de extensão de rede para melhorar o abastecimento nas regiões. Entretanto, ainda existem reclamações em algumas ruas da área central dos dois bairros. “O Daerp vai iniciar nesta terça-feira (19) uma varredura na rede dessas ruas para tentar localizar vazamentos ocultos ou outros problemas que possam interferir no abastecimento.”

Sobre a falta d’água no Alto da Boa Vista, o Daerp afirmou que também está realizando uma varredura de toda a rede e dos reservatórios e poços para verificação. “Os técnicos estão fazendo trabalho de geofonagem - técnica que utiliza equipamento de alta precisão para detectar possíveis vazamentos nas redes de água - para tentar encontrar vazamentos ocultos que também estejam contribuindo para despressurizar a rede. Na semana passada, foi encontrado um vazamento em uma adutora que abastecia a região. O conserto já foi realizado na sexta-feira (15)”, declarou.



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