Do celular à falta de respeito ao volante

20/08/2017 14:00:00

Motoristas, que enfrentam no dia a dia o trânsito caótico de Ribeirão Preto, listam os principais problemas

Matheus Urenha / A Cidade

 

Quando falamos em problemas que dificultam o trânsito em Ribeirão Preto, alguns são unanimidades entre os motoristas: falta do uso da seta, dirigir falando ao celular, falta de respeito, pressa e, lógico, os buracos.

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Para o taxista Antônio Roberto Vicentine Franco, de 46 anos, a inutilização da seta é um exemplo de desrespeito. Porém, há pouco mais de um mês, ele incluiu, com pesar, mais um obstáculo à lista: os buracos em via pública.

Isso porque, além de taxista, Antônio era padrasto do motoboy Edward Alves da Silva Junior, que morreu oito dias depois de cair em um buraco no Centro da cidade – a família ainda acusa dois hospitais públicos de negligencia médica, a UBDS Central e Beneficência Portuguesa.

“Não dá para aceitar ou explicar o que aconteceu. O pior é que, mesmo assim, os buracos continuam por aí. Em minhas corridas, tenho muitas coisas para reclamar, mas, ultimamente, até faço caminhos mais longos para não passar em algumas ruas. Nós, taxistas, sofremos muito com a manutenção dos carros”.

Anselmo Albino, 51, também é taxista. Para ele, os problemas do trânsito local são incontáveis, mas, entre os principais, está a pressa do dia a dia. “Se for para contar quantos motoristas passam do sinal amarelo para o vermelho durante um período, perco as contas”, afirma. E completa: “Eles pensam que buzina é freio e, além de atrapalhar, é um perigo aos pedestres”.

Além disso, diz que a estrutura viária não acompanhou o crescimento da cidade. “Trabalho há mais de meia década neste ramo. Anos atrás, o foco era o coletivo. Agora, todo ano aparece uma nova empresa de transporte privado e, consequentemente, mais carros rodando”, conclui Anselmo.

E ele está certo. Segundo dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Ribeirão Preto tinha, até maio de 2017, 509.634 veículos registrados. Carros e motos representam, juntos, 77% do total, com 288.791 e 104.859, respectivamente. O terceiro meio de transporte mais comum é as caminhonetes, com 34.613.

Júlia Fernandes
Antônio era padrasto do motoboy Edward Alves da Silva Junior, que morreu oito dias depois de cair em um buraco no Centro da cidade (Foto: Júlia Fernandes / A Cidade)

 

Quinto país com mais mortes

Para o advogado Hugo Moura, especialista em trânsito, os obstáculos de desenvolvimento do trânsito não estão ligados apenas às imprudências cometidas pelos motoristas, mas, também, a falta de educação, más condições asfálticas e precariedade na sinalização.

“Comportamentos perigosos não devem ser justificados pela atual estrutura sociopolítica que vivemos, mas acredito que o trânsito reflete nossa cultura, e a população, como um todo, se sente no direito de burlar as leis. Portanto, falar em solução no curto prazo é utopia”, afirma.

O especialista acrescenta, ainda, que o Brasil é o quinto país entre os que mais têm mortes no trânsito e que a melhora está atrelada a educação, segurança e bem estar de todos – motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. A mudança deve ser inserida, segundo Moura, desde criança, para que estes se tornem motoristas conscientes.

Júlia Fernandes
A pressa do dia a dia é um dos principais problemas do trânsito de Ribeirão Preto, segundo Anselmo Albino (Foto: Júlia Fernandes / A Cidade)

 

Transerp diz fazer a fiscalização

Por meio de nota, a Transerp (Empresa de Trânsito e Transporte em Ribeirão Preto), informou que conta com 34 agentes civis, além de dois radares fixos e três estáticos, que avaliam constantemente a sinalização e o fluxo de veículos de toda a malha viária da cidade.

Questionada sobre a proporção do número de veículos ao de fiscais, diz que “todos os agentes da Transerp foram aprovados em concursos públicos realizados nos anos 2002 e 2007. [...] a realização para ampliação do quadro de funcionários, compatibilizando-o com as necessidades do município, está condicionada à disponibilidade de recursos financeiros”, escreveu, via assessoria de imprensa.

O último concurso para contratação de agentes ocorreu na gestão do ex-prefeito Welson Gasparini (PSDB), há 10 anos. ACidade ON revelou em reportagem, publicada em junho deste ano, o real déficit de fiscalização no trânsito de Ribeirão Preto. Mesmo o Denatran preconizando ao menos 250 homens para 500 mil veículos, o município tem apenas 34 agentes. A média é de um marronzinho para cada 14,7 mil veículos.



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