Porteiro tem bolsa encontrada por equipe do Daerp e comemora

16/08/2017 19:01:00

Dentro havia o salário do mês, celular, cartões bancários e documentos pessoais do arrimo de família

Milena Aurea / A Cidade
O porteiro Valter Dutra Neves, 42, comemora a recuperação da bolsa com o salário inteiro do mês, celular, documentos pessoais e mais (Foto: Milena Aurea/ A Cidade)

 

O porteiro Valter Dutra Neves, 42, comemora a recuperação da bolsa com o salário inteiro do mês, celular, documentos pessoais, cartões bancários, vale-transporte e holerite.

VEJA FOTOS DO ENCONTRO ENTRE VALTER E A EQUIPE DO DAERP

Graças a uma equipe do Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto), o desespero motivado pela perda da bolsa no trajeto para o trabalho se transformou em alívio e gratidão.

“Eu já tinha perdido as esperanças porque hoje os valores estão invertidos. Não é comum essa situação acontecer”, declarou.

Valter saiu de bicicleta de casa, no Jardim Monte Alegre (zona Oeste), rumo ao trabalho, no Iguatemi (zona Leste). Antes de chegar ao emprego, o porteiro descontaria no banco o cheque com o salário (R$ 2.069,00) que estava em uma bolsa amarrada na traseira da bike. Descontar o cheque seria fácil, pois já estava endossado pelo dono.

Quando passava pela avenida Antônio e Helena Zerrener, o nó desatou e a bolsa caiu sobre o asfalto.

Valter não percebeu e seguiu o trajeto rumo ao banco. Ao chegar na avenida Francisco Junqueira, esquina com a rua Álvares Cabral, notou a ausência da bolsa na garupa da bicicleta.

“Voltei desesperado até a rotatória Amin Calil e não achei nada. Nem voltei mais porque achei que não adiantaria”, relembra Valter, que sustenta um filho de 12 anos e a mulher, desempregada.

Sem celular, Valter pediu para usar o telefone em uma loja na avenida Francisco Junqueira. Ligou para a administradora do condomínio onde trabalha e pediu para a empresa ligar para o banco e sustar o cheque o mais rápido possível. Foi orientado que teria de fazer um boletim de ocorrência.

“Como eu iria atrasar, liguei no condomínio onde trabalho para avisar. Já eram quase 14h e eu entraria às 14h. O porteiro me falou que tinham achado minha bolsa e ligaram no condomínio para avisar. Perguntei se tinham recuperado tudo e ele não soube falar”, relembra.

A boa notícia, portanto, ainda era revestida de dúvida – não sabia se os pertences ainda estavam realmente na bolsa.

Valter foi então direto ao condomínio. Quando chegou, o colega passou o endereço de onde a equipe do Daerp estava para a bolsa ser devolvida, na Vila Virgínia. “Peguei o carro emprestado do zelador e fui pegar”, relembra. Quando recebeu a bolsa de volta, a melhor surpresa dos últimos tempos: todo o conteúdo da bolsa foi devolvido.

‘Não sossegamos enquanto não devolvemos’

O motorista do Daerp, Daniel Caçador, 55, relembra que a equipe seguia para a base na hora do almoço, na rua Pernambuco, após fazer um serviço de desentupimento de rede na Vila Virgínia (zona Oeste).

“Quando eu estava na esquina da Zerrenner com a rua Isaías Graci, vi uma bolsa jogada no meio da avenida. Encostei o carro para pegar.” O servidor Jair Laporte, 60, que também estava na equipe, desceu do carro e pegou a bolsa.

Daniel explica que a equipe chegou até Valter porque no holerite constava a empresa onde ele trabalhava. “Enquanto a gente não entregou tudo de volta, não sossegamos. Sou pai, avô, pensamos muito na família, trabalhamos e sabemos o quanto é suado ganhar o salário no final do mês. Se algo não é seu, a obrigação é devolver.”

A bolsa de Valter foi encontrada pela equipe do Daerp por volta das 12h40 e devolvida duas horas depois. No mesmo dia em que a bolsa foi encontrada, no último dia 4, o porteiro fez questão de ligar no 115 (SAC do departamento) para registrar um elogio à equipe.

Daniel não teve a mesma sorte

Se Valter teve a sorte de ter recuperado todos os seus bens perdidos, o motorista do Daerp que ajudou o porteiro não foi tão sortudo.

Daniel Caçador relembra que, há cerca de dez anos, perdeu a carteira com documentos pessoais e R$ 20. Uma semana depois, ouviu na rádio que uma pessoa havia achado a carteira e foi buscá-la na emissora. “A pessoa deixou na recepção da rádio, nem sei quem foi, mas o dinheiro havia sumido da carteira”, relembra.

Em outra ocasião mais recente, há cerca de dois anos, foi Daniel quem encontrou uma carteira com documentos quando caminhava a pé para o trabalho. Não havia dinheiro. “Era uma funcionária de hotel e tinha o telefone dela marcado, daí entrei em contato e devolvi”, concluiu.

Valter já esteve ‘do outro lado’

O que aconteceu com Valter – ter recuperado absolutamente tudo o que havia perdido – tem cara dos efeitos da “lei da ação e reação”.

O porteiro relembra que, há cerca de dez anos, ele achou em cima de um telefone público, na rua General Câmara, uma calculadora, oito cheques de terceiros que totalizavam R$ 480 e mais R$ 40 em dinheiro.

“Fui ao bar que ficava na frente do orelhão e perguntei se alguém havia perdido. Ninguém sabia. Deixei recado e levei para a minha casa. Uma semana depois, quem perdeu foi ao bar e depois foi em casa pegar tudo.”

Mais recentemente, há quatro meses, Valter achou um celular no banco do ônibus circular da linha do Jardim Paiva e o devolveu para a dona.

Arte: Gaspar Martins
Casos semelhantes ocorridos no Brasil (Arte: Gaspar Martins/ A Cidade)


 



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