'Ex-sócio' de Pablo Escobar pagou US$ 20 milhões para construir submarino do tráfico

22/05/2017 18:39:00

Dono de uma ousadia descomunal, Mário Sérgio apostou alto para expandir mercado da droga no mundo

Divulgação
Submarino do tráfico teria 28 metros de comprimento, 3 metros de largura. 3 metros de altura e peso aproximado de 145 toneladas (Foto: Divulgação)

 

Agropecuarista, contabilista e empresário, Mário Sérgio Machado Nunes levaria para o narcotráfico todo seu conhecimento de administração empresarial. Criou, como relata o livro “Cocaína – a rota caipira”, uma verdadeira multinacional de drogas.

E, como no mundo dos negócios, é imperativo a importação de ideias para expanção do mercado e dos lucros, decidiu plagiar uma estratégia colombiana de suceso: construir um submarino para distribuir toneladas de cocaína pelo mundo afora.

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Em 2010, o empresário repassou US$ 20 milhões para traficantes colombianos para a construção de um submarino na África, em parceria com o colombiano Henry de Jesús López Londoño, o Mi Sangre, maior fornecedor de cocaína para o cartel mexicano Los Zetas.

“Pelo plano, a cocaína sairia do litoral venezuelano em barcos de Mário Sérgio até o alto-mar no Suriname, onde seria realocada no submarino, que partiria até Cabo Verde, de onde a droga seria despachada em navios cargueiros até a Europa”, narra trecho do livro. Mas o projeto nunca se realizou e o brasileiro amargou o prejuízo.

Em 2012, início das investigações da Águas Profundas, Mário Sérgio já tocava outro projeto para a construção de um submarino em Conacri, capital da Guiné, por meio de seus braços direitos, ou como diz o delegado federal Bruno Gama – a ala forte de seu secretariado - Reinaldo Cinquetti e Celso Bom. 

O custo estimado para a embarcação, dessa vez, seria de US$ 3,5 milhões. Para confirmar a viabilidade do negócio e não perder mais dinheiro, Cinquetti chegou a pagar US$ 150 mil apenas para conhecer um submarino utilizado pelo narcotráfico na Colômbia.

A primeira reunião para a discussão do projeto ocorreu em janeiro de 2012, na Cidade do Panamá. Subordinados de Mário Sérgio teriam se encontrado com os três engenheiros colombianos para combinar as linhas gerais do plano.

Dois meses depois, os engenheiros foram a Conacri conhecer o local em que o submarino seria montado, com o auxílio de onze empregados africanos.

Como no plano anterior, a embarcação seria construída para ter capacidade para transportar até 5 toneladas de cocaína para a África e posterior, redistribuição de parte da droga para a Europa.

Grampo flagra projeto

As negociações do projeto do submarino coincidiram com o início do monitoramento da Águas Profunda, com autorização da Justiça. De cara, os agentes notaram que o grupo de Mário Sérgio possuía vários aparelhos, um para cada tipo de conversa. O líder, por exemplo, usava o apelido
(nickname) “Sergei” para as atividades lícitas e “Novais” para as tratativas do narcotráfico.

As primeiras mensagens já revelaram que o projeto do submarino caminhava a todo vapor. Celso afirmou ao irmão Cláudio que já visitara vários locais de construção de submarinos, chamados por eles de “barba” ou “tarro”, e demonstrava confiança no projeto, com expectativa de altos lucros: “10, 20, 30 mil [US$, possivelmente despesas do submarino] e [é] nada comparado o que ele pode ganhar no total.”

As investigações da Polícia Federal demonstraram que a quadrilha não concluiu o plano. Os telefones do bando foram monitorados do início de 2002 a maio de 2014.

‘Mulas’ levariam 30 kg de cocaína por dia à Europa

Interceptações telefônicas da PF também revelaram que, em 2013, Mário Sérgio fechou negócio com nigerianos para enviar 30 quilos de cocaína por dia por intermédio de mulas à Europa e África.

O teste feito por uma mulher de Curaçao, no Caribe, teria funcionado com sucesso por pelo menos duas semanas ininterruptas sem intervenções.

Em junho de 2013, os federais descobrem e colocam a nova rota em risco. Na época, por conta das ‘mulas’, Mario Sérgio se reunia diariamente com nigerianos. Na tarde do dia 7, marcaram uma reunião no estacionamento de um supermercado na zona Sul de São Paulo, cuja área já estava sendo monitorada por agentes federais.

Mas o forte treinamento de um casal de empregados de Mário Sérgio detectaria a presença dos policiais na área, assim que um deles sacou discretamente uma câmera para gravar imagens do carro.

Imediatamente a mulher enviou mensagem ao patrão, que ordenou: - “Cai fora. Não vai perto do carro”, a Hilux usada pelo casal estava no nome do genro de Mário Sérgio, o que poderia deixar rastro.

Mas a essa altura, o homem já tinha pego a caminhonete. Ele foi perseguido pelos agentes, mas conseguiu escapar. Os federais concentraram os esforços na mulher, que também saiu ilesa ao subir e descer de vários táxis, ônibus e metrô. Mário Sérgio determinou que ela também descartasse todos os celulares para não ser rastreada.



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