Caos em banheiros públicos provoca até interdição em Ribeirão Preto

17/05/2017 13:26:00

Situação mais grave é no sanitário da Praça das Bandeiras, onde havia fezes humanas na porta

A situação dos banheiros públicos em Ribeirão Preto é tão caótica que até provocou, no início do mês, a interdição do sanitário na Praça das Bandeiras, no Centro.

Para se ter uma ideia do problema, a dez metros da entrada do banheiro já é possível sentir o desagradável odor de fezes. Como as duas portas estão trancadas, houve gente que resolveu defecar do lado de fora do sanitário.

“Foi melhor interditar mesmo porque o perigo de contaminação era grande. Há cerca de 15 dias estive nesse banheiro e a situação era deplorável, de urina e fezes no chão”, relembra o pedreiro Juliano Fernandes, 37 anos.

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Ontem, por conta da interdição do banheiro público na Praça das Bandeiras, Juliano teve de descer uma quadra a utilizou o sanitário da Praça XV de Novembro, que também tem uma série de problemas.

Um ano e meio depois, a reportagem do A Cidade voltou a seis banheiros públicos e constatou os mesmos problemas: desde falta de torneiras e de papel higiênico, sabão armazenado de maneira improvisada em uma garrafa de água mineral, urina no chão, até a total falta de condições de uso que culminou com a interdição.

A sujeira e a falta de manutenção não causam apenas transtornos aos usuários, mas também representam um perigo à saúde.

O infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza destaca que a situação deplorável dos banheiros pode levar à transmissão de vírus, bactérias e protozoários causadores de diarreias, hepatite A e de doenças como a leptospirose. 

Falta de higiene e doenças

O infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza explica que a falta de higiene em banheiros pode levar à transmissão de doenças com contaminação fecal-oral, como as diarreias e a hepatite A. “A transmissão se dá da maneira fecal-oral – se não há uma higiene, a pessoa pode tocar com a mão contaminada a mão de outras pessoas. Se elas levarem a mão à boca ou pegarem algum alimento, podem se contaminar”, explica. De acordo com o médico, outra situação que pode ocorrer motivada pela falta de higiene é a possibilidade de transmissão de doenças como a leptospirose. “Os ratos gostam de ambientes escuros e sujos, adoram ficar entre o vaso sanitário e a parede. Podem urinar no local e transmitir a doença ao humano pela urina”, conclui.

Praça das Bandeiras

Quem tenta utilizar os sanitários da Praça das Bandeiras, no Centro, não consegue sequer chegar à porta porque foi feita uma barricada com estrutura de ferro e madeira na escada de acesso para interditar o banheiro. “Os vasos sanitários estavam todos arrebentados e nenhuma torneira funcionava. Estava uma nojeira”, resume o pedreiro Juliano Fernandes, 37, que fez uso do banheiro há cerca de 15 dias. A dez metros das duas portas do sanitário, ambas trancadas, é possível sentir um cheiro fortíssimo de fezes – ontem pela manhã, havia excremento humano no local.

Weber Sian / A Cidade
Banheiro público interditado na Praça das Bandeiras; veja mais fotos na galeria (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Parque Maurílio Biagi

No Parque Maurílio Biagi, não havia sequer papel higiênico nem papel toalha para enxugar as mãos no sanitário masculino. Todas as cabines estavam pichadas e nenhum vaso sanitário tinha bacia. Por falta de manutenção, o chão estava encardido. A situação ainda era um pouco melhor do que um ano e meio atrás, quando as paredes também estavam pichadas. “Estou secando as mãos na blusa porque não tem toalha de papel. Falta manutenção, mas também o povo não ajuda”, reclama o aposentado Paulo Fantinatti, 61, que caminha todos os dias no parque e lamenta a situação.

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Banheiro público no parque Maurílio Biagi; veja mais fotos na galeria  (foto: Weber Sian) 

Praça XV de Novembro

O sanitário masculino da Praça XV de Novembro foi o único lugar em que a reportagem flagrou a presença de um funcionário específico para ajudar na limpeza. Mas isso não significa que o local estava bem conservado. Faltavam duas torneiras da pia, não havia assento em nenhum vaso sanitário, o sabão era improvisado em uma garrafa de água mineral, uma cabine estava interditada e havia infiltração no teto. Além disso, a descarga estava quebrada em dois mictórios e havia vidros quebrados das três janelas. “A descarga funcionar bem é o mínimo para haver limpeza”, reclama o eletricista Hilton Vieira, 58, que ontem utilizou um dos mictórios e, na hora de dar descarga, o dispositivo não funcionou.

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Banheiro público na praça XV de Novembro; veja mais fotos na galeria  (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Parque Raya

Nem o sanitário público masculino do parque Raya, encravado em área nobre da zona sul de Ribeirão, escapa ileso de uma lista de problemas. As infiltrações dominam o teto e as paredes, não há papel toalha para enxugar as mãos, nem sabonete. Também falta papel higiênico. “Depois que fui há três semanas não entrei mais, agora procuro ir em casa, desse jeito não tem condições”, diz o aposentado Maurício Carvalho, 65. Ele teve de desviar de vazamentos de água que escorriam do teto em direção ao chão. No sanitário público feminino, o pouco que a reportagem pôde ver ao longe é que uma das torneiras estava quebrada.

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Banheiro público no parque Raya; veja mais fotos na galeria  (Weber Sian / A Cidade)


Terminal da Jerônimo Gonçalves

O sanitário masculino do terminal da Jerônimo é o mais recente banheiro entre os seis avaliados pela reportagem – foi inaugurado há menos de dois anos. Mesmo assim, já apresentava uma série de problemas: duas torneiras da pia estavam quebradas, faltava uma torneira em um dos nove mictórios, outra estava quebrada e uma porta de cabine estava danificada. Entre as quatro cabines, uma não tinha papel higiênico. Nenhum vaso sanitário tinha assento. E o pior: havia urina no chão e cheiro forte em uma das cabines. “E falta papel para enxugar a mão”, reclama o aposentado José Luiz Teixeira, 74 anos.

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Banheiro público no Terminal da Jerônimo Gonçalves; veja mais fotos na galeria  (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Problemas levam a círculo vicioso

Docente da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o antropólogo Claudio Bertolli Filho explica que a má conservação dos banheiros leva a um círculo vicioso em que o usuário não ajuda na manutenção do espaço. “O usuário vendo o ambiente depredado, sujo, não faz questão de cuidar”, afirma. Ele defende, no entanto, uma responsabilidade partilhada entre poder público e população: “Caberia ao Estado tomar medidas de preservação e educativas, mas o banheiro é de responsabilidade do Estado e da sociedade”. Bertolli Filho exemplifica que, no Japão, é possível manter um banheiro público “igual ao da nossa casa” com a participação efetiva do cidadão. “Um vizinho se responsabiliza pela manutenção, entra para verificar, a responsabilidade é compartilhada. Defendo esse novo pacto social aqui”, conclui.

 

 

 



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