Das 26 viaturas do Samu, 12 estão paradas sem prestar socorro

21/03/2017 14:11:00

Onze delas estão no conserto e uma, Zero Km, está no pátio desde janeiro à espera de documentos para rodar

Renato Lopes / Especial
A Cidade flagrou 11 ambulâncias do Samu paradas em duas oficinas da região (foto: Renato Lopes / Especial)

 

Doze das 26 ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Ribeirão Preto que deveriam estar prestando socorro a pacientes acidentados e doentes em situação de urgência e emergência estão paradas, algumas delas desde dezembro do ano passado.

Das 12, 11 estão sendo consertadas ou esperando autorização para conserto em duas oficinas mecânicas da região. Outra, uma viatura Zero km, está sem rodar desde janeiro por falta de documentação e seguro.
A média diária de chamados que o órgão recebe na cidade é de 145. Com a falta de viaturas, o atendimento passou a ficar sobrecarregado, já que cada ambulância em atividade socorre em média 12 pacientes/dia, equivalente a um atendimento a cada 2 horas ininterruptas.

É computado nesse prazo desde o momento que a equipe recebe o chamado, à ida ao local, estabilização do paciente e transporte dele a um hospital. Vale lembrar que a equipe do Samu só pode deixar o hospital, após o paciente ser recebido por um médico.

Com isso, a espera pelo atendimento que deveria ser de até no máximo 20 minutos acaba ultrapassando mais de 1 hora, sem contar os casos em que o Samu chega a nem atender o chamado por falta de ambulância.

Foi o que ocorreu com o gesseiro Márcio Rodrigues Junior, de 22 anos, que sofreu acidente de moto na última quinta-feira. Após esperar 1h20 por uma ambulância do Samu, o rapaz acabou sendo levado ai hospital pelo Resgate do Corpo de Bombeiros. O Samu admitiu que não prestou atendimento por falta de viatura.

Na oficina

O A Cidade esteve ontem nas duas oficinas conveniadas à Prefeitura de Ribeirão que prestam serviço de mecânica ao Samu.

Em um delas, em Sertãozinho, das seis viaturas paradas no local, três delas não têm previsão de quando voltarão a rondar porque os motores fundiram. O custo estimado para consertar gira em torno de R$ 50 mil para cada viatura.

Outras cinco ambulâncias quebradas foram encontradas pelo A Cidade numa oficina de Ribeirão. Um dos carros está no local desde o início do ano porque o conserto não foi liberado por impasse com a seguradora.

Socorristas que trabalham no Samu afirmam que a prefeitura não realiza manutenção preventiva nas ambulâncias.  

Motoristas denunciam falta de manutenção nos veículos

Socorristas ouvidos pelo A Cidade afirmam que a maioria das viaturas apresenta problemas no giroflex, pneus carecas, suspensão danificada e até macas deterioradas. Há relatos, inclusive, de motoristas que se negaram a entrar em uma das ambulâncias para não colocar a própria vida e a do paciente em risco.

“Isso porque o socorro pode não ser concluído. Já aconteceu comigo de estar transportando um paciente para o hospital e a viatura quebrar no meio do caminho. Tivemos que esperar uma outra chegar para dar sequência ao socorro”, afirmou um motorista que pediu anonimato.

“A prefeitura não faz a manutenção e, quando as ambulâncias quebram a liberação do conserto não ocorre com tanta agilidade. A gente precisa ficar cobrando”, disse outro socorrista.

Um terceiro motorista relatou que prestar socorro durante a chuva é dramático. Segundo ele, em uma das viaturas a água da chuva entra pelo vidro dianteiro e do motorista. “Fica água caindo nas pernas e acaba atingindo também o paciente. É uma situação constrangedora”.

Renato Lopes / Especial
"Se fosse algo mais grave, não sei o que teria acontecido comigo. Foi lamentável o que aconteceu. Algo que não pode acontecer". Márcio Rodrigues Junior, 22 anos, gesseiro que esperou por atendimento do Samu durante 1h20 na última quinta-feira (foto: Renato Lopes / Especial)

 

Acidentado espera Samu por 1 hora e 20 

Após esperar 1 hora e 20 minutos por uma ambulância do Samu, a família do gesseiro Márcio Rodrigues Junior, de 22 anos, teve de acionar o Resgate do Corpo de Bombeiros para socorrer o rapaz que havia sofrido um acidente de moto. A própria coordenação do Samu admitiu que não prestou atendimento ao rapaz porque não havia ambulância disponível.

“Se fosse algo mais grave, não sei o que teria acontecido comigo. Eu estava muito ensanguenta devido a um ferimento no braço”, disse o rapaz.

Rodrigues Junior seguia de moto pela avenida Renê Olívia Strang, no bairro Jardim Paiva, quando caiu de moto ao atropelar um cachorro.

Sem previsão

O pai da vítima, o comerciante Márcio Rodrigues, afirma que até tentou socorrê-lo por meios próprios, mas foi impedido pelos policiais militares.

 “Eu ligava no Samu e diziam que não havia previsão para socorrer o meu filho. Esse é um serviço que não pode ter falhas. Se o meu filho tivesse sofrido uma fratura exposta ou algo mais grave, poderia ter morrido. É inadmissível o que ocorreu. Não pode acontecer numa cidade do porte de Ribeirão”, criticou o comerciante.

Câmara não descarta abrir ‘CPI do Samu’

A Câmara de Ribeirão discute a possibilidade de abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o abandono de ambulâncias do Samu quebradas em oficinas. Algumas estão no conserto desde dezembro.

A proposta de investigação pelo Legislativo é do vereador oposicionista Orlando Pesoti (PDT) e deve ganhar apoio de outros parlamentares a partir de hoje.

“É preciso apurar possível ato de improbidade administrativa. Essas ambulâncias concedidas pelo governo federal foram compradas com dinheiro público. Existe ainda prejuízo no atendimento da população”, afirmou o pedetista.

Orlando afirma que a prefeitura deve explicações sobre como é o processo de contratação das oficinas para prestar os consertos e também sobre os pagamentos realizados.

Na semana passada, o vereador já encaminhou ofício ao Ministério Público pedindo abertura de inquérito para apurar o caso.

Prefeitura se cala sobre impacto no serviço

Apesar de o A Cidade ter contado 11 ambulâncias quebradas nas duas oficinas, a prefeitura reconhece apenas 10. Das seis viaturas na oficina de Sertãozinho, a administração municipal afirma que duas serão liberadas para voltar a rodar entre hoje e amanhã. Outras ainda aguardam orçamento. Na mecânica de Ribeirão, a Secretaria da Saúde afirma que estão outras quatro - uma sairá do conserto amanhã.

Questionada sobre o impacto na prestação de serviço à população, a administração municipal não se pronunciou. A Prefeitura também não deu qualquer informação sobre a USA (Unidade de Suporte Avançado) que está parada por falta de documentação. 



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