Interminável, 'novo' Calçadão já está com cara de velho

28/07/2016 11:49:00

Bancos quebrados, piso sujo e mais um adiamento marcam os quatro anos e quatro meses das obras no Centro de Ribeirão Preto

Matheus Urenha / A Cidade
A maioria dos bancos instalados ao longo do calçadão está suja de terra. Segundo comerciantes, a empresa Tecla instalou os bancos já sujos e não fez a limpeza. O A Cidade encontrou oito bancos com o assento mal encaixado na base ou no solo; clique na imagem para abrir galeria (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Pisos quebrados, buracos, sujeira e muitos retoques por fazer: a uma semana de completar quatro anos e quatro meses de obras, a revitalização do Calçadão não está pronta. A parte mais complexa – troca do piso e retirada da fiação aérea – foi feita, mas o “acabamento fino”, na opinião de consumidores e comerciantes, deixa muito a desejar.

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“Está com cara de velho”, atesta a autônoma Alaíde de Campos, 48 anos, enquanto desvia de um amontado de pisos e areia que obstrui uma calçada no trecho em frente a praça Carlos Gomes. Segundo funcionários, os materiais estão lá há pelo menos seis meses. “Deixamos até um banco na loja para ajudar quem tropeça”, diz a vendedora Rosemary Schiavinato.

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O atraso na conclusão desanimou até Marcos Ferreira, presidente da Amec (Amigos, Moradores e Empresários do Centro) e um dos principais defensores da revitalização do calçadão.

“Como é difícil isso aqui, é uma obra que se arrasta e não consigo entender qual a dificuldade em terminar”, diz Marco, em uma clara demonstração de pessimismo. “Foi mentira em cima de mentira da prefeitura, quebra de confiabilidade”, completa.

Ele aponta os bancos de concreto colocados há um mês no trecho da rua Álvares de Cabral e que não tiveram o assento concretado. Na rua Tibiriçá, bancos em formato cilíndrico também estão soltos. Todos estão sujos de terra.

“Já foram colocados assim, sequer tiveram capacidade de limpar”, diz a vendedora Mariele Corrijo, 24 anos, que junto a outros funcionários lavaram por conta própria alguns bancos.

Matheus Urenha / A Cidade
Quatro bancos foram pichados e outros estão com as pontas quebradas, segundo a prefeitura, pela ação de skatistas, que os utilizam para realizar manobras. Além disso, quatro lixeiras estão tortas ou quebradas devido à ação de vândalos;  clique na imagem para abrir galeria (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Problemas

De ponta a ponta no calçadão, a reportagem encontrou, também, canteiros das palmeiras com terra batida e sem grama, pisos manchados com chicletes jogados pela população e óleo despejado por comerciantes e sinais de vandalismo. Não há nenhuma câmera do projeto Olhos de Águia instalada na área.

A prefeitura diz que fez uma vistoria semana passada e notificou a empresa Tecla – que receberá R$ 9,2 milhões pela obra – para realizar os reparos. Em abril deste ano, a previsão de encerramento do contrato foi prorrogada pela sexta vez: o prazo, que inicialmente era agosto de 2014, passará a ser outubro de 2016. 

A prefeitura ainda deve R$ 800 mil

Com custo inicial de R$ 8,2 milhões, o contrato da prefeitura com a Tecla para reforma do calçadão ficou R$ 1 milhão mais caro. Entre os motivos estão mudanças no contrato – com acréscimo e serviços, como a preparação para instalação de câmeras de monitoramento, que ainda não foram instaladas – e o atraso na Execução.

O A Cidade analisou o processo administrativo do contrato e verificou que, em abril deste ano, foi feito acréscimo de R$ 245,4 mil devido à correção inflacionária de serviços não executados entre agosto de 2013 e junho de 2015. Ou seja: devido aos atrasos nos cronogramas, a prefeitura teve que desembolsar mais. Apesar de faltarem apenas os ajustes finais na obra, o Palácio Rio Branco havia repassado, até ontem, R$ 8,4 milhões à empresa – R$ 800 mil a menos. A consulta foi feita pelo A Cidade no Portal de Transparência da prefeitura.

Matheus Urenha / A Cidade
A vendedora Tahylla Medeiros, 18 anos, acorda com uma certeza: irá presenciar tropeços em uma tampa ausente no chão do Calçadão. O problema existe há mais de um mês e, segundo ela, faz ao menos três vítimas por dia. "Eu mesmo já tropecei muito aqui";  clique na imagem para abrir galeria (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Fiscalização da área ainda é incerta

É consenso entre comerciantes e poder público: será necessário fiscalizar de perto o uso do calçadão para que ele “sobreviva” ao descaso de munícipes e de alguns comerciantes. A divergência está em como fazer isso.

“Há um problema de governo agora: como normatizar o uso do calçadão e evitar que ele seja prejudicado”, diz Abranche Fuad, secretário de Obras.

A prefeitura propõe que os comerciantes criem uma entidade para esse fim, mas a Acirp (Associação Comercial e Industrial) é contrária por acreditar que os custos da manutenção devem vir do poder público, e não dos empresários.

“É necessário que haja um grupo gestor da área central, com autonomia administrativa e financeira, para realizar os cuidados necessários”, diz Marcos Ferreira, da Amec (Amigos, Moradores e Empresários do Centro).

Arte / A Cidade

 

Secretário vai cobrar força-tarefa

O Secretário de Obras, Abranche Fuad, diz que realizou na semana passada um “check list” do Calçadão junto a funcionários da Tecla e notificou a empresa para realizar os reparos o quanto antes. Ele quer que a obra esteja pronta até o final de agosto.

“Os problemas atuais são detalhes. A parte mais trabalhosa [troca do piso e fiação embutida] foi feita”, diz. Segundo ele, 98% da execução física da obra foi concluída.

Na terça-feira (26), o A Cidade, em duas horas no Centro, não encontrou nenhum trabalhador da Tecla no local. Abranche diz que irá cobrar da empresa uma força-tarefa e diz que não há atrasos nos repasses da prefeitura.

Abranche alerta, porém, que a parte mais trabalhosa ainda está por vir: manter o calçadão bem cuidado e conscientizar comerciantes e consumidores.

A prefeitura alega que a obra sofreu atrasos devido às chuvas e à complexidade dos procedimentos – o subsolo do Calçadão, por exemplo, estava repleto de tubulações de água rompidas.

Matheus Urenha / A Cidade
Quase toda a calçada no trecho próximo à rua Barão do Amazonas está ocupada por um monte de areia, caçamba e dezenas de pisos empilhados. Segundo comerciantes, desde o início do ano o trecho está obstruído. Os materiais estão cobertos por fezes de pombos;  clique na imagem para abrir galeria (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)


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