O jardineiro José Antônio Ferreira, 56 anos, atacado por três cães da raça pit bull na tarde de terça-feira (28) enquanto trabalhava, no Alto da Boa Vista (zona Sul), passou por cirurgia reconstrutora e segue sem previsão de alta. A família já começou nesta quarta-feira (29) a tomar providências para processar o dono dos cães.

“O dono dos cães tem que pagar pelo que fez. Não foi a primeira vez que isso ocorreu, é muita imprudência”, diz Felipe Daniel Ferreira, 20, filho da vítima.

Ele esteve nesta quarta no hospital e disse que o pai já passou por uma cirurgia reconstrutiva e deverá passar por outro procedimento de enxerto para refazer os ferimentos. Segundo o filho, as mordidas ocorreram nos braços e nas pernas. “O cão também arrancou uma parte da orelha esquerda dele”.

O HC informou que o jardineiro está internado na unidade semi-intensiva da Unidade de Emergência, com quadro estável, mas não corre risco de morte. “Não há previsão de alta”.

Para o adestrador de cães e psicólogo canino Sérgio Cantadeiros, situações assim acontecem porque os donos não impõem regras aos animais.

O delegado autuou o dono do pitbull em flagrante por lesão corporal, omissão na guarda de animais e crime ambiental. Foi arbitrada uma fiança de R$ 8 mil. Odono dos cães pagou e responderá pelo crime em liberdade.

“Estava passando de carro e primeiro pensei que ele estava brincando com os cachorros, mas comecei a ouvir os gritos de socorro. Na hora eu fiquei com medo de sair de dentro do carro. Os cachorros ficaram uns 5 minutos atacando ele”, diz o desempregado Jean Carlos da Silva, que levou José Antônio à UBDS Central.

Outro lado

O A Cidade esteve nesta quarta na residência do dono dos cães, no Alto da Boa Vista, para que ele se manifestasse sobre as acusações , mas ninguém atendeu. À Polícia Civil, o dono informou que os cães escaparam pelo portão que estava com defeito na trava, por isso conseguiram fugir. 

 

‘Criança teria morrido’

“O maior perigo é na hora de as crianças saírem da escola. Eles passam bem na esquina da rua onde estão os cachorros para voltar para casa, durante dois turnos. Pode ocorrer uma fatalidade, então tem que ser tomada uma providência urgente”, afirma a dona de casa Maria Amélia Milhorini, 48, vizinha da casa onde estão os pit bulls que atacaram o jardineiro.

Assim que começou a ouvir os gritos da vítima, Maria Amélia até pensou em chegar perto do local, mas, com medo de também ser atacada, assistiu à cena de cima do muro de casa.

“Pelo menos três carros buzinaram para espantar os cachorros e juntou umas 20 pessoas para tentar ajudar o homem. Teve gente que deu paulada nos cães, mas eles só largaram o jardineiro quando quiseram. Se fosse uma criança, com certeza teria morrido depois das mordidas, judiaram muito dele”.

A vizinha diz que, como já houve ocorrências anteriores, o ideal seria que o dono dos cães mandasse os três animais embora.

Dono dos cães deverá ser multado

A Polícia Civil informou que, conforme previsto no decreto 48.553/2004 - que regulamenta a Lei 11.531/2003 -, comunicou a Vigilância Sanitária e Centro de Zoonoses para adotar as medidas cabíveis e decidir sobre a aplicação da multa.

Lei estadual em vigor desde 2013 determina que os donos de pit bulls devem mantê-los em condições adequadas de segurança que impossibilitem a evasão dos animais.

A multa é de R$ 235,50. Segundo a coordenadora de Bem-Estar Animal, Stefânia Dallas, a fiscalização e a aplicação das multas cabem às polícias Civil e Militar.

Stefânia informou que cabe à prefeitura a fiscalização em caso de despejo de animais. Quem flagrar essa situação deve ligar para 3610-6067.

 

Em 2 meses, 3 ataques

Nos últimos dois meses, os pit bulls do Alto da Boa Vista promoveram três ataques, segundo vizinhos.
Há dois meses, o vizinho Donizete Bueno da Silva, 55, conta que um andarilho passava com um cão pela rua quando os três pitbulls fugiram da casa e atacaram o cachorro. “Não aconteceu nada com o andarilho, mas o cachorro que estava com ele morreu”.

Há um mês, foi a vez de Donizete sentir na pele o descaso do vizinho com os cachorros. “Pelo buraco do portão eles atacaram meu cão, o Tigrão, de 11 meses. Deram mordidas no focinho dele e a cara dele ficou bem machucada, ainda tem cicatriz. O dono dos pit bulls pagou R$ 600 de veterinário”.

Donizete teme que esse descuido ainda possa custar uma vida. “Quando saio de carro e vou abrir o portão, eu fecho meu cachorro dentro de casa para evitar que ele seja atacado novamente”.

Análise>>>Cuidado deve ser redobrado

“Quem tem animal agressivo deve ter um cuidado ainda maior com a residência para impedir que os animais fujam para a rua. Esses ataques por pit bulls ocorrem geralmente porque os cães são instigados ou passaram por alguma situação de estresse. Eu tenho uma mestiça de pit bull que é um animal supermanso, não é da natureza da raça ser agressivo. Hoje a gente nota que os donos estão muito mais responsáveis com relação à posse, mas ainda ocorrem episódios de ataques. A responsabilidade neste caso tem que ser apurada, se houve negligência, e também deve ser verificado como esses animais são tratados, se sofrem violência. Isso deve ser feito para que todos que vivem no entorno possam ficar tranquilos, e os cães também”.

Patrícia Atta, coordenadora da Comissão de Defesa e Direitos dos Animais da OAB