Pablo é condenado a 24 anos de prisão

29/06/2016 22:02:00

Jurados seguiram tese do Ministério Público e condenaram empresário pelo homicídio triplamente qualificado de garota de programa

F.L.Piton / A Cidade
Pablo (Centro) foi julgado no Fórum de Ribeirão Preto nesta quarta-feira (29) (Foto: F.L.Piton / A Cidade)

 

Notícia atualizada às 9h50 em 30/6/2016

Após 18 anos de espera e 12 horas de julgamento, o empresário Pablo Russel Rocha, 41 anos, foi condenado a 24 anos de prisão pela morte da garota de programa Selma Helena Artigas da Silva, a Nicole, 22 anos, ocorrido em 11 de setembro de 1998.

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Ele, que irá cumprir a pena em regime inicialmente fechado, saiu chorando do plenário, escoltado por policiais até a Central de Flagrantes. De lá seria encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Ribeirão.

Quatro dos sete jurados -três mulheres e quatro homens - seguiram a tese do Ministério Público de que jovem foi vítima de homicídio triplamente qualificado - motivo fútil, sem chance de defesa e por meio cruel - e votaram pela condenação do empresário.

“O acusado agiu com extrema agressividade, tendo amarrado a vítima para o lado de fora do veículo e a arrastado no asfalto, em ruas desta cidade por quilômetros, conforme reconhecido pelos jurados e demonstrado pelos laudos periciais (...) o que revela sua culpabilidade especialmente acentuada e a personalidade violenta”, afirmou o juiz Giovani Augusto Serra Azul Guimarães, em sentença lida às 21h55 desta quarta-feira (29).

Os advogados de Pablo irão recorrer da decisão. Eles consideraram a pena exagerada e, também, o cumprimento imediato da sentença em regime fechado.

Público

Cerca de 150 pessoas acompanharam o julgamento, iniciado às 10h20, marcado por momentos de emoção do réu, da mãe da vítima e por calorosos bate bocas entre defesa e acusação, que tiveram que ser interrompidos pelo juiz.

“A Justiça tardou, mas não falhou”, afirmou após o julgamento o promotor de Justiça José Vicente Pinto Ferreira. Para ele, o determinante para a condenação foi o fato de Nicole ter ficado presa pelo punho esquerdo no cinto de segurança da Pajero. “Era impossível, em um acidente, se enroscar pelo braço esquerdo. A perícia comprovou isso”, afirmou.

O promotor lembrou aos jurados que o cinto deu duas voltas no braço de Nicole, formando um “laço de forca” que não poderia ocorrer por acidente.

Já a defesa de Pablo ressaltou que não foram encontrados sinais de luta corporal e que Nicole, após ter consumido cocaína e bebida alcoólica, teria enrolado o braço no cinto ao descer do veículo - uma caminhonete Pajero.

A defesa alegou, também, que o empresário foi perseguido pelo Ministério Público e pelo juiz inicial do caso, Luís Augusto Freire Teotônio.

Depoimentos contraditórios

Duas testemunhas de acusação contestaram nesta quarta as informações de Pablo sobre o itinerário - Anel Viário, Adelmo Perdiza e Caramuru- que ele fez na noite da morte da garota.

O garçom Roberto Carlos Daleffi disse que saía com outros três colegas do restaurante onde trabalhava, na Maurílio Biagi, próximo ao SEB COC, quando viu uma caminhonete com as mesmas características do veículo de Pablo passar em alta velocidade com algo grande pendurado.

Roberto disse que tentaram seguir a caminhonete, mas não conseguiram alcançar nem identificar o que estava sendo arrastado.

Já o investigador Edson Luiz Rossi disse que fez diligências e encontrou um pedaço de veludo vinho e um pé de um sapato que seriam de Nicole na avenida Maurílio Biagi, em frente onde hoje há uma loja Havan.

O Ministério Público mostrou, também, três peças de roupa de Nicole encontradas na avenida Francisco Junqueira e lembrou que frentista também viu a Pajero com algo marrado.

‘Condenação aplaca a dor’

Antes mesmo do julgamento de Pablo, a família de Selma, divulgou uma carta demonstrando confiança de que a justiça seria feita e o réu condenado.

“A família sabe que nada trará a vítima de volta à vida, mas a condenação do réu deve aplacar, com certeza, um pouco da dor que (os familiares) sentem”, diz trecho da carta.

Nesta quarta, a mãe e a irmã de Selma acompanharam o julgamento. Elas não quiseram dar declarações à imprensa, mas disseram, por meio do advogado, que havia “satisfação por verem a Justiça sendo feita”.

Segundo a família, a exposição que a morte de Nicole já provocou e provoca tem causado muitos danos à saúde física e emocional da mãe e da irmã.

“A mãe, Sônia Zenithi, tem sofrido ininterruptamente durante esses 18 anos. Sua dor não se limita apenas à trágica morte da filha, mas também pela demora da Justiça (...) porque nem mesmo a condenação civil de indenização vem sendo cumprida.”

A família moveu ação indenizatória contra Pablo, que foi condenado a pagar R$ 446,2 mil. Entretanto, os advogados da mãe e da irmã da vítima dizem que apenas parte foi paga.

‘A vida dela foi ceifada. A minha também’

Ao ser interrogado, Pablo manteve a serenidade e o discurso de que o que ocorreu na noite da morte de Nicole foi um acidente e não um homicídio doloso.

“Eu não sou a vítima aqui. Não estou negando que houve um acidente. Mas eu não tive intenção. Sei que independente do resultado, isso [sofrimento] vai continuar. A família dela [Nicole] foi destruída. A minha também. A vida dela foi ceifada. A minha também.” Pablo afirmou que deu uma carona para Nicole da Chácara da Japonesa, para levá-la ao Reb’s Café, na avenida Nove de Julho.

Ele diz que saiu pelo Anvel Viário e entrou pela Adelmo Perdizza. Na Caramuru, Nicole teria segurado na direção, tentando forçá-lo a pegar uma entrada para o Parque Ribeirão, mas ele se recusou. Nicole teria ficado ofendida e pedido para parar o carro. Ela desceu, bateu a porta e ele ele teria arrancado em alta velocidade. Dois quilômetros depois percebeu que havia algo preso na Pajero e parou.

“Confesso que nem reconheci a moça. Fiquei apavorado. Parecia uma criança de 3 anos, morrendo de medo. Soltei a mão da moça [que estava enroscada no cinto], entrei no carro e fui para casa”.



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