Ichisato vai trabalhar para indenizar as vítimas, diz advogado

05/05/2016 20:49:00

Última audiência do caso do estudante Marcos Delefrate foi realizada nesta quinta-feira em Ribeirão Preto

F. L. Piton / A Cidade
Alexandre Ichisato chega ao Fórum para audiência nesta quinta-feira (5) (Foto: F. L. Piton / A Cidade)

 

O réu Alexsandro Ichisato de Azevedo, acusado da morte do estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, foi interrogado pela Justiça na tarde desta quinta-feira (5) e contou sua versão dos fatos à juíza Isabel Cristina Alonso Bezerra dos Santos, da 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais de Ribeirão Preto.

Delefrate morreu após ser atropelado por Ichisato no dia 20 de junho de 2013 durante uma manifestação no cruzamento das avenidas Professor João Fiúsa e José Adolfo Bianco Molina, na zona Sul da cidade. Outras 12 pessoas ficaram feridas.

Segundo o advogado Wagner Simões, um funcionário do supermercado localizado no cruzamento onde Delefrate foi atropelado, também ouvido na audiência, afirmou que Ichisato não foi avisado de que os clientes deveriam sair pela entrada do estabelecimento, e não pela saída. Além disso, a testemunha teria dito que o carro do réu, uma Land Rover, não passaria pela entrada por conta do tamanho do veículo.

"Ele [testemunha] deixou bem claro que o carro do Alexsandro começou a ser agredido, alvejado por pedaços de pau, skates e outras coisas que as pessoas estavam portando e que o Alexsandro só acelerou depois que ele sofreu essas agressões", relata Simões.

Já Ichisato teria se emocionado e demonstrado arrependimento, de acordo com o advogado. "Ele disse que não tinha outra saída, que não podia tomar outra providência", conta.

Conforme Simões, Ichisato preferiu acelerar em vez de marcha à ré, porque percebeu que havia pessoas atrás do carro. "Ele ficou com receio de dar marcha à ré e atropelar alguém que estivesse atrás do carro, por isso a manobra dele para frente foi no sentido de desviar das pessoas que estavam ali no meio da multidão", alega.

O advogado ainda argumenta que Delefrate estava deitado ou sentado no chão e, portanto, fora do campo de visão de Ichisato. "Ele não teve nem vontade de causar morte nem a culpa específica por negligência ou por imperícia da parte dele", defende.

No total, 25 pessoas foram ouvidas. Com o fim da fase de instrução, a juíza deve decidir, em dez dias, se Ichisato vai a júri popular. Simões, no entanto, acredita que o réu responderá ao processo em liberdade. "Mesmo que não se use o termo 'legítima defesa' por conta de que as agressões não foram diretamente a ele, mas sim ao veículo, o carro era blindado, mas a blindagem do lado dele caiu e ele ficou extremamente vulnerável e foi a partir daí que ele entrou em desespero e acelerou."

Ichisato está preso há três anos no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Ribeirão Preto. "Ele alegou que, em liberdade, vai trabalhar para indenizar as vítimas, que ele tem arrependimento, que ele tem receio do que pode acontecer com ele", comenta o advogado. "Viver da forma que ele está vivendo, segundo ele mesmo confidenciou para mim, se ele tivesse a opção de escolher, ele escolheria ter morrido", completa.

Para Simões, a massagem cardíaca que os manifestantes fizeram em Delefrate podem ter ocasionado a morte do jovem. "Ele teria batido a cabeça na guia e sofrido traumatismo craniano. A última coisa que se faz em alguém com traumatismo é massagem cardíaca, porque acelera a saída do sangue. E ele morreu de hemorragia", conclui.

O promotor Marcus Túlio Nicolino, responsável pela acusação, não quis comentar o caso.



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