Sertãozinho tem mais uma escola ocupada por estudantes

27/11/2015 12:43:00

Agora, já são duas unidades estaduais de ensino ocupadas por alunos contra a reorganização

F.L. Piton / A Cidade
Estudantes da Ferrucio Chiaratti, no bairro Alvorada, ocuparam a escola nesta quinta-feira; clique para abrir galeria (Foto: F.L. Piton / A Cidade)

Alunos da rede estadual de ensino ocuparam mais uma escola de Sertãozinho nesta quinta-feira (26). Depois da Bruno Pieroni, ocupada na terça-feira, os estudantes tomaram a escola Ferrucio Chiaratti, que atende mais de 800 alunos no bairro Alvorada.

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Os alunos protestam contra a reorganização das escolas proposta pelo governo estadual. No estado, de acordo com a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), são 151 escolas ocupadas.

A escola Ferrucio atenderá apenas Ensino Fundamental em 2016, remanejando 349 alunos do Ensino Médio e EJA (Ensino de Jovens e Adultos) para uma unidade que fica a um quilômetro de distância. Na manhã desta quinta, após reunião com os alunos e organizações que ocupam a escola Pieroni, localizada no Centro, os estudantes da Ferrucio decidiram aderir à manifestação.

Eles reclamam da distância e da mudança de bairro e dizem que, antes mesmo da transferência, estão enfrentando preconceito por morarem em local de periferia. “Já disseram lá na nova escola que vão ter que construir um muro para separar quem vem do Alvorada”, conta Thiago do Nascimento Pereira, 16 anos.

Vinicius Moisés Ramos trabalha como pintor no horário inverso à aula. O trabalho fica perto da escola Ferrucio, de onde ele sai às 12h20, para almoçar e entrar às 13h no serviço. “Lá na outra escola não é garantido que vai ter aula de manhã e, mesmo que tenha, vai ficar longe para mim. Como que faz?”, questiona.

Apoio aos alunos

Professores, pais e a comunidade em geral estão apoiando a ocupação. Nesta quinta, primeiro dia do ato, os alunos já empilhavam doações de alimentos e produtos de limpeza e higiene. “Estão certos. Vai ser muito ruim para eles mudar de bairro assim. E outra, vai fechar escola para quê?”, criticou Marlucia Maria de Jesus, mãe de um aluno. “É justo porque a escola é deles. Eles estão ficando sem escola”, complementou a professora Miriam Camargo.

Os alunos estão divididos em grupos para cuidar da alimentação, limpeza e segurança dentro da escola. Os dias sem aula serão preenchidos por oficinas e atividades culturais.

F.L. Piton / A Cidade
Estudantes são contrários ao projeto de reorganização do governdo do Estado; clique para abrir galeria (Foto: F.L. Piton / A Cidade)

A Upes (União Paulista dos Estudantes Secundaristas) e a Apeoesp apoiam a ocupação. Não há previsão de término da ação.

Justiça nega reintegração

A Justiça negou pedido da Procuradoria Geral do Estado para reintegração de posse da escola Bruno Pieroni, ocupada por estudantes na terça-feira.

Os alunos protestam contra o fechamento da unidade em 2016, que vai remanejar 417 alunos.
A dirigente de ensino de Sertãozinho, Cássia Regina Furtado, informou nesta quinta que aguarda proposta de negociação por parte dos alunos e pretende organizar uma reunião nesta sexta-feira (27).

Ela nega que a escola para onde os alunos serão remanejados, Winston Churchill, seja distante. “Fica a um quilômetro de distância. Eles não estão longe”.

Quanto ao preconceito, que os alunos dizem sofrer, ela argumenta: “Nós já temos outros alunos do Alvorado estudando na Churchill”. Cássia diz que a escolha foi tomada depois de análise. “A escola tem infra-estrutura muito melhor”.

E explicou que esteve na escola Bruno Pieroni com o procurador do Estado na quarta-feira (25). “Mas partiu do Estado. É assim em qualquer ocupação de prédio público”, informou.

Em Ribeirão

Em Ribeirão Preto, não haverá fechamento de escolas. Cinco unidades serão reorganizadas, com remanejamento de alunos do Ensino Médio e Fundamental. O Estado diz que pretende criar escolas de ciclo único.

Do Otoniel para a Unip

A Fuvest alterou o local de prova para os candidatos que prestariam o vestibular no Otoniel Mota para a Unip (Universidade Paulista). A mudança é decorrente das ocupações em protesto à reorganização do ensino.

Análise>>>‘Ocupação é apropriação da escola’

Eu trabalhei 30 anos na rede pública em São Paulo. A gente viu muita coisa acontecer, mas nada do que aconteceu em avanço, em democratização da escola teve a expressão que tem o movimento desses jovens. O termo escola pública, na prática, é muito relativo. O espaço nem sempre é tão público. Os alunos estão lá, mas não se sentem lá, não sentem o espaço como deles. É da população, mas é interpretado como um favor. Daí, o fato de não se concordar com uma política que vem de cima para baixo e desconsidera que aqui tem um público pensante. A manifestação é a apropriação da escola no melhor sentido que poderíamos ter. É o espaço público no sentido verdadeiro.

Cileda Perrella , professora da Unifesp



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