Atendimento médico melhora, mas demora na UPA continua igual

08/10/2015 13:37:00

Apesar de elogiarem equipe médica, pacientes têm lista grande de reclamações sobre a unidade

F.L.Piton / A Cidade
UPA da 13 de Maio estava lotada na tarde de ontem; pacientes reclamam de demora, má educação dos funcionários e ar-condicionado quebrado (foto: F.L.Piton / A Cidade)

Demora de quatro horas, ar-condicionado quebrado, equipe de enfermagem sem pacicência: depois de um ano da intervenção do secretário de saúde Stênio Miranda na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), pacientes elogiam consultas médicas, mas lista de reclamações ainda é grande.

Em 7 de outubro do ano passado, a prefeita Darcy Vera (PSD) determinou que o secretário transferisse seu gabinete para a UPA, para avaliação e melhoria no atendimento da unidade.

A morte de Gabriela Zafra e de Fernando Garcia, por possível negligência médica, motivou a transferência. Gabriela morreu por meningococcemia após procurar a UPA três vezes e Fernando de infecção generalizada após quatro passagens na unidade.

Após um ano da intervenção - que durou alguns meses - pacientes consideram que os médicos da unidade estão mais atenciosos. A demora no atendimento, porém, é a principal queixa.

Às 13h30 de ontem, a movimentação na UPA era tão grande que pessoas aguardavam em bancos do lado de fora da unidade.

Jocasta Manoel chegou às 10h, mas só passou pelo médico às 14h20. “A consulta foi boa, mas até chegar no médico é díficil”.

O fechamento da UBDS Cuiabá é uma das razões para tanta demora. Pacientes atendidos na unidade, em reforma desde fevereiro, procuram a UPA. Ao paciente, cabe lamentar. “É muita demora”, nas palavras de Jocasta.

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Aos 83 anos, Osmilda Canevarolli depende de cadeira de rodas para se locomover (foto: F.L. Piton / A Cidade)

Oito pacientes e seis histórias de muita espera e insatisfação

Espera sem idade
Aos 83 anos, Osmilda Canevarolli depende de cadeira de rodas para se locomover. Há alguns meses, quebrou o fêmur, passou por cirurgia, e viveu maus bocados. As filhas cuidam da idosa como podem e nesta quarta-feira, foram tomadas pela revolta. “Você acha que ela tem condições de esperar tanto?”, bradou Rosa Maria em frente a UPA. Ela e a mãe chegaram à unidade às 12 e às 14h30 não tinham nenhuma previsão de atendimento. Por ficar muito tempo deitada, a idosa tem feridas por todo o corpo. Uma delas inflamou e as dores são intensas. “Dói, dói muito”, dona Osmilda, que não consegue falar muito, se esforçou para a entrevista. “A impressão é de que não estão chamando. Parece que nunca diminui”, criticou Rosa.

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Caio Cezar de Freitas Balieiro, 26 anos, tenta marcar consulta para o pai (foto: F.L.Piton / A Cidade)

Peregrinação
Caio Cezar de Freitas Balieiro, 26 anos, era pura preocupação na tarde de ontem. Há três dias, tenta conseguir um atendimento médico adequado para o pai, Jairo Balieiro Filho, de 63 anos. Na segunda, a pressão do idoso subiu e a família procurou a unidade de saúde do bairro Heitor Rigon. Jairo foi medicado e liberado. “Eles me disseram para procurar a UBDS se não melhorasse”, contou o filho. Na terça, sem melhora, levou o pai à UBDS do Quintino Facci. Novamente, medicação e alta. “Daí, me disseram para levar na UPA se não melhorasse”. Ontem, lá estava ele com o idoso, sem previsão de quando seriam atendidos. Faz três dias que estamos tentando resolver isso. Agora, vai saber quanto vamos esperar!”, desabafou Caio.

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A estudante Lilian Márcia Turci Reis, 24 anos, deixou a UPA insatisfeita (foto: F.L.Piton / A Cidade)

Sem remédio
A estudante Lilian Márcia Turci Reis, 24 anos, deixou a UPA insatisfeita na tarde de ontem. Chegou às 10h15 e só saiu às 14h25, com receita de medicamento que, conforme lhe foi informado, está em falta na Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto. Ela foi orientada a comprar Amoxicilina para curar a infecção de ouvido e garganta. “A consulta foi boa. O médico olhou, perguntou, foi atencioso. Mas não consegui a medicação que preciso”, ela criticou. Para Lilian, que é estudante, tirar a medicação do bolso tem grande peso. “Eu não tenho salário. Dependo dos outros. É bem complicado...”. A amoxicilina é um antibiótico básico, que deve estar na lista das unidades de saúde.

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João Antônio Santos da Conceição, 24 anos, aguardava atendimento (foto: F.L.Piton / A Cidade)

Desânimo
Pálido, João Antônio Santos da Conceição, 24 anos, se sentou em um banco improvisado na parte externa da UPA. Apoiou a cabeça entre as mãos e ensaiou um choro. Se conteve, porém. Mas não guardou o desabafo. “Eu tô fraco. Com vômito, diarréia. Não tô me sentindo bem. E tanto faz. Eles não estão nem aí”. Já fazia uma hora que aguardava, sem nenhuma previsão de atendimento. “É a primeira vez que vim aqui. É péssimo”, criticou. A companheira, Silvanete Alves da Silva, sempre busca atendimento na UPA. “Isso aqui é sempre assim”, reclamou. Tentou conter a vontade de João em ir embora. “Ele quer ir, mas não tem como. Precisa de atendimento médico”.

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Acompanhando a mulher, José Ricardo da Silveira estava cansado de esperar (foto: F.L. Piton / A Cidade)

Saúde de insistência
Do lado de fora da UPA, José Ricardo da Silveira estava cansado de esperar. Acompanhando a mulher, Jocasta Roque Manoel, 27 anos, desde às 10h, ele já havia esgotado a paciência.No dia anterior, a canseira foi tanta que Jocasta foi embora sem atendimento. “Tanto dinheiro que Ribeirão tem, para a Saúde estar assim. Nada se resolve”. A consulta saiu às 14h20. Jocasta gostou do atendimento. “O médico foi bem atencioso”. Ela estima que, em cinco meses, passou pela UPA, pelo menos, 10 vezes, com o mesmo problema. A infecção de garganta só piorou. A conduta, até ontem, era sempre a mesma. Medicação, e só. Ontem, o médico fez um encaminhamento para o otorrino. “Agora melhora!”.

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Elisangela Borges aguarda um leito de internação para o irmão (foto: F.L.Piton / A Cidade)

Espera sem fim
Desde às 7h de anteontem, Elisangela Borges aguarda, com o irmão, um leito de internação. Helinton Borges, 42 anos, está com toxoplasmose, além de outra doença grave e sem cura. “Com imunidade baixa, o corpo dele está cheio de feridas, ele não consegue comer, está muito difícil”, ela desabafou.

Elisangela falou sobre a falta de ar-condicionado na unidade e, principalmente, a falta de doçura. “As enfermeiras tratam a gente com muita grosseira. Falta humanização aqui”. A Prefeitura informou que pediu a vaga de internação para o Hospital das Clínicas, “única referência existente na região”, conforme nota, mas não havia leitos disponíveis.

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Alberto Gonçalves elogiou o atendimento em comparação com a capital (foto: F.L. Piton / A Cidade)

Melhor que a capital
A irmã de Alberto Gonçalves está em observação na UPA, com quadro de infecção de urina, há três dias.

O homem, 72 anos, morador de São Paulo, elogiou o atendimento ribeirão-pretano, porém com base nos moldes da capital. “As UPAs de lá não tem nem médico, medicamento, nada. Aqui, eu vejo que, dentro das possibilidades deles, estão atendendo, fazendo tudo que podem”.

Só elogios
Entre 10 pacientes ouvidos pelo A Cidade na UPA ontem, Maria Luiza Bordon é a única que saiu sorrindo. A aposentada, 74 anos, procurou a unidade com suspeita de caxumba, chegou às 12h30 e saiu às 14h30. “Já fiz

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Maria Luiza Bordon saiu satisfeita da UPA após atendimento (foto: F.L.Piton / A Cidade)

exame de sangue e venho depois buscar o resultado. A consulta foi ótima e eu não tenho do que reclamar”, ela, grande excessão, elogiou.

 


 



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