Região perde 42 leitos para grávidas

07/07/2015 09:48:00

Situação faz com que gestantes não saibam em que município será o parto, contrariando legislação federal

A região de Ribeirão Preto perdeu 42 leitos de internação do SUS (Sistema Único de Saúde) reservados para gestantes nos últimos cincos anos. Com isso, os municípios estão recorrendo ao sistema emergencial de “vaga zero”, pela qual os hospitais são obrigados a receber os pacientes – mesmo que não haja condições adequadas para isso.

O fechamento de leitos, tendência em todo o país, acendeu o sinal de alerta no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), que ontem à noite realizou um debate sobre o tema na Câmara de Ribeirão.

“A situação é crítica. Os hospitais estão sobrecarregados e, muitas vezes, impossibilitados de prestarem o atendimento adequado. Se nada for feito, tragédias serão recorrentes”, alertou Angelo Mario Sarti, delegado superintendente do Cremesp de Ribeirão.

Segundo a Legislação Federal, a gestante deve saber em qual maternidade fará o parto assim que realizar o pré-natal. Com a falta de leitos, entretanto, o local muitas vezes é definido apenas quando as contrações já começaram.

Foi o que ocorreu com Ana Carolina, que percorreu 80 km e três cidades para ter seu filho. Segundo o DataSUS, dos 26 municípios que compõem a Departamento Regional de Saúde de Ribeirão Preto, oito não possuem leitos de internação para gestantes. Sete deles também perderam leitos em relação a 2005.

Há dez anos, segundo o DataSUS, foram feitos cerca de 18 mil partos na região em 228 leitos – média de 79 partos por leito. No ano passado, o número de partos foi praticamente o mesmo, mas agora para 189 leitos – 95 partos por leito.

Arte / A Cidade
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Preocupante
Segundo levantamento do Cremesp, os municípios direcionam a “vaga zero” principalmente para Ribeirão Preto, na Santa Casa, Máter, Unaerp e Hospital das Clínicas (HC). A Santa Casa de Sertãozinho também sofre com o problema.

O HC, por exemplo, recebe em média oito gestantes sob vaga zero todos os dias. O médico João Bosco Meziara, presidente da regional de Ribeirão da Associação de Obstetrícia e Ginecologia (Sogesp), diz que a situação é preocupante.

“Temos uma demanda muito maior do que a oferta e os hospitais acabam internando em leitos que não são totalmente adequados às gestantes. Já chegou ao ponto de, em casos de maior complexidade, a mãe ficar em uma cidade e o filho recém-nascido ser levado para outra”, explica.

Carolina esperou dois dias por leito

Grávida de três meses, Ana Carolina Pereira, 20 anos, está apreensiva. Moradora de Pradópolis, ela tem medo de que sofra novamente o que ocorreu no nascimento do seu primeiro filho, quando percorreu 80 km e três cidades para conseguir um leito – Pradópolis não possui leitos para gestantes e encaminha as pacientes até Guariba.

Em janeiro de 2013, Enzo resolveu nascer na 36ª semanas de gestação. Ana Carolina foi levada de ambulância até Guariba, mas o município informou que ela necessitaria de um leito de UTI neonatal, que não existia na cidade. Apenas na noite do dia seguinte ela conseguiu ser internada na Máter, em Ribeirão Preto. “Mas fui muito bem atendida e meu filho nasceu saudável”, diz.

Seu desejo, agora, é ter o segundo filho novamente em Ribeirão. “Mas, no posto de saúde já me disseram que só vou saber no dia do parto para qual lugar vou”, conta.

Secretaria de Saúde nega falta de leitos

O diretor do DRS (Departamento Regional de Saúde) de Ribeirão Preto, Ronaldo Dias Capelli, negou que haja déficit de leitos para gestantes na região. “Enfrentamos dificuldades, que precisam ser corrigidas, mas os problemas são pontuais”, garante.

Ele diz que muitos dos leitos fechados nos últimos anos, na prática, não funcionavam. “Não adianta manter uma equipe por R$ 400 mil mensais e realizar menos de 20 partos ao mês.”

Ronaldo diz que, para a gestante, é mais cômodo ter o parto em sua cidade. “Entretanto, temos que prezar primeiro pela segurança e, por isso, encaminhamos para centros especializados em outros municípios.”

Ele também cobrou o Governo Federal – que, em 2013, prometeu expandir em 49 leitos a rede regional. Até agora, não liberou os recursos.



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