Aumenta número de motoristas multados pela Lei Seca em Ribeirão

25/05/2015 08:41:00

De janeiro a abril deste ano, 331 motoristas tiveram o direito de dirigir suspenso por 1 ano pela combinação álcool e direção

F.L. Pinton/A Cidade
Corretor de imóveis Édson Furquim parou de beber em 1991: exemplo como motorista e pai; bebida foi interrompida 13 anos após acidente. (Foto: F.L. Pinton/A Cidade) 

O motorista de Ribeirão Preto está mais imprudente quando o assunto é a perigosa combinação álcool e volante. Entre janeiro e abril deste ano, 331 condutores foram notificados a entregar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) por dirigir sob efeito de bebida alcoólica. O volume é 160% maior do que os 127 notificados no mesmo período do ano passado pela mesma infração.

No ano passado, entre janeiro e abril, 6,21% dos motoristas notificados a entregar a carteira abusaram da bebida alcoólica na direção. Neste ano, no mesmo período, o índice subiu para 10,38%.
Conforme o A Cidade publicou em fevereiro deste ano, a bebida alcoólica figura entre as três principais causas de mortes em acidentes de trânsito em Ribeirão, ao lado do excesso de velocidade e as distrações, como o uso de celular e dirigir com sono.

O vendedor T.P.P. ainda contabiliza o prejuízo. Somando os estragos que terá de pagar do seu carro, da caminhonete na qual bateu e da fiança que teve de pagar, o custo será de R$ 26 mil. Ele não tinha seguro.

O acidente ocorreu no final de fevereiro. T.P.P. saía de um churrasco em Ribeirão e voltava para Cravinhos à noite, onde mora, quando na rodovia Anhanguera, na altura do antigo Jóquei Clube, bateu na traseira do carro da frente. Chovia no momento da ocorrência.

“Além do prejuízo, vou responder a processo criminal. Daqui a pouco a Justiça vem me procurar”. Por falta de dinheiro, T.P.P. ainda não mandou arrumar o veículo e está sem condução.

T.P.P. diz que o acidente serviu para mudar sua postura. “Se a gente beber, não pode dirigir de jeito nenhum. Todo mundo sabe disso, mas é difícil. Ainda bem que ninguém ficou ferido no acidente. Aquele dia eu havia bebido duas cervejas e tinha tomado água depois, estava bem”.

No momento do acidente, o vendedor estava acompanhado de um amigo. No carro da frente havia somente o motorista. Ninguém se feriu.

O bafômetro registrou 0,65 mg de álcool por litro de sangue. Acima de 0,33 mg/L, além de ser submetido às penas administrativas, o condutor responde por crime de trânsito (leia mais no quadro ao lado).

Lição

O corretor de imóveis Edson Furquim, 58, comemora a mudança em seu comportamento. Ele lembra que, em 1978, 20 anos antes da Lei Seca, bateu o carro de um amigo na lateral de outro veículo – parado na via – por conta do exagero na cerveja.

“Foi um alerta. Em 1991, parei de beber de vez. Estava exagerando muito, isso estava trazendo problemas econômicos e eu precisava ser exemplo para meus filhos. Hoje noto que, mesmo com a lei, as pessoas continuam exagerando”, afirma.

Bebeu? Chame um táxi

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José Carlos Frondola diz que Lei Seca resultou em 30% a mais de clientes no seu táxi. (Foto: F.L. Piton/A Cidade)

O taxista José Carlos Frondola, 70 anos, se aproveitou do maior rigor da Lei Seca para impulsionar seu negócio. Em junho de 2008, quando a nova legislação começou a vigorar, ele logo percebeu que poderia lucrar mais diante da nova demanda que surgia. E não é que deu certo?

De pronto, afixou nas duas laterais do seu táxi o anúncio: “Bebeu um golin? Ligue para Zé Carlin”.

“Desde então meu movimento aumentou 30%. Gente de todas as idades, da cidade e também turistas deixaram de dirigir ao saberem que iriam beber”.

Frondola considera que o aumento no fluxo de clientes tem a ver com a maior consciência dos motoristas a respeito da perigosa combinação álcool e direção.

A opinião do taxista é compartilhada com a do diretor-presidente do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Daniel Annenberg (leia mais ao lado).

“A Lei Seca foi muito boa porque evita acidentes, vem salvando muitas vidas e aumentou a quantidade de serviço para nós (risos)”, concluiu.

Fiscalização foi intensificada, diz Detran

O diretor-presidente do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Daniel Annenberg, atribui o aumento expressivo nas notificações de suspensão de CNH por conta do abuso do álcool em Ribeirão à maior fiscalização.

“Somente neste ano, o Detran realizou quatro blitze em Ribeirão, praticamente uma por mês. Estamos ampliando a fiscalização, então q uem fiscaliza mais flagra mais. Isso sem contar as ações de rotina feitas pela PM”, explicou.

Annenberg não acredita que o crescimento nas suspensões de CNH esteja relacionado a imprudência por parte dos motoristas. “Temos sentido que os condutores têm se conscientizado mais”, reforça. Entre 2011 e 2013, a redução no número de mortes no trânsito no Estado foi de 10%. Segundo o DataSUS, o número de vítimas caiu de 7.559 para 6.809.

O diretor acrescenta que a queda vai ao encontro da Década de Ação pela Segurança no Trânsito, proposta pela ONU (Organização das Nações Unidas), que prevê a redução em 50% do número de mortos e feridos no trânsito, entre 2011 e 2020, em todo o mundo.

Novas regras endurecem Lei Seca

As novas regras que endureceram a Lei Seca e começaram a vigorar em 21 de dezembro de 2012 buscaram acabar com a brecha usada por muitos motoristas para fugir de punição. Com a mudança, recusar o bafômetro deixou de impedir o processo criminal.

A modificação no Código Brasileiro de Trânsito possibilitou que vídeos, relatos, testemunhas e outras provas sejam considerados válidos contra os motoristas embriagados. Além disso, aumentou a punição administrativa, de R$ 957,70 para R$ 1.915,40. Esse valor é dobrado caso o motorista seja reincidente em um ano.

A Lei Seca havia sido esvaziada depois que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu, em março de 2012, que o bafômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para comprovar o crime.
Com isso, motoristas começaram a recusar os exames valendo-se de um direito constitucional: ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. O condutor era multado, perdia a carteira e tinha o veículo apreendido, mas não respondia a processo.



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