Adolescente voltou a estudar e sonha em fazer aulas de futebol para ficar mais longe do caminho do crime
Pedro completou 13 anos na Fundação Casa. O nome é fictício. A mãe cultiva a esperança de levar para casa um novo menino, passado o período de internação. “Ele está mudado. Está estudando. Acredito que vai sair diferente”.
Ele começou a vender drogas ainda criança. A mãe acredita que foi aos 11 anos. Não tem certeza, porém. Só soube que algo estava muito errado quando a polícia apareceu na porta da sua casa pela primeira vez.
“Ele tinha acabado de fazer 12 anos e já estava nessa. Eu só soube quando ele foi detido”.
Pedro não usa drogas, ela garante. Vende para comprar o que o dinheiro contado da família não pode dar. Ana é faxineira. O nome dela também é fictício. “No meu trabalho não falo essas coisas. Tenho medo do que podem pensar”.
Além de Pedro, ela e o marido têm outros dois filhos, de 6 e 5 anos. O básico, entretanto, nunca faltou. “A gente trabalha para pagar o aluguel e comer. Mas hoje os meninos estão nessa onda da ostentação, com marcas, carro, ouro, um luxo que a gente não pode dar”.
Morador do Parque Ribeirão, o menino teve livre acesso ao tráfico e, todos os dias, mudava a rota da escola. “Ao invés de ir para a aula, ele ia vender droga”.
Antes da última vez, há nove meses, ele foi apreendido outras seis. Ia para a delegacia e era liberado. Em julho do ano passado, na companhia de outro adolescente, de 17 anos, foi pego com cocaína e R$ 900. Algumas semanas depois, foi novamente para a delegacia. Desta vez, ficou.
Ana sente falta do filho, mas está mais aliviada. “Pelo menos sei onde ele está”. Na fundação, Pedro fez curso de informática, pizzaiolo e voltou a estudar. Já pensa em fazer curso de futebol quando sair. “Eu fico em cima, quero saber de tudo. Não é fácil ver um filho assim. É muito, muito difícil”.
Maria encara rotina de apreensões do filho
Maria (nome fictício) perdeu as contas das vezes em que o filho de 17 anos foi apreendido. O menino entrou para o crime quando mal chegara à adolescência. Largou a escola há quatro anos e passou um ano e meio na Fundação Casa.
Saiu no final do ano passado, mas em fevereiro deste ano foi detido novamente e admitiu a venda da droga. Relatou à polícia que a cada dez pinos de cocaína que vende, ganha quatro como recompensa.
A família vive na favela da Via Norte. O filho é o mais novo de quatro. Maria acha que o ambiente foi determinante nas escolhas do menino. “Às vezes me culpo por ter vindo morar aqui. Mas era isso, ou viver embaixo de alguma ponte. A gente só vive aqui porque não tem condições”.
Ela trabalha recolhendo recicláveis desde que veio viver em Ribeirão, há 10 anos. A família era de Franca. “Agora meu sonho é voltar para a minha cidade, mas no momento está difícil”.