Mãe acredita em um futuro diferente para filho internado na Fundação Casa

04/05/2015 09:05:00

Adolescente voltou a estudar e sonha em fazer aulas de futebol para ficar mais longe do caminho do crime

foto: Mastrangelo Reino
Ana acredita que, após internação na Fundação Casa, filho conseguirá se afastar do crime: “Não é fácil ver um filho assim” (foto: Mastrangelo Reino / Especial)

Pedro completou 13 anos na Fundação Casa. O nome é fictício. A mãe cultiva a esperança de levar para casa um novo menino, passado o período de internação. “Ele está mudado. Está estudando. Acredito que vai sair diferente”.

Ele começou a vender drogas ainda criança. A mãe acredita que foi aos 11 anos. Não tem certeza, porém. Só soube que algo estava muito errado quando a polícia apareceu na porta da sua casa pela primeira vez.
“Ele tinha acabado de fazer 12 anos e já estava nessa. Eu só soube quando ele foi detido”.

Pedro não usa drogas, ela garante. Vende para comprar o que o dinheiro contado da família não pode dar. Ana é faxineira. O nome dela também é fictício. “No meu trabalho não falo essas coisas. Tenho medo do que podem pensar”.

Além de Pedro, ela e o marido têm outros dois filhos, de 6 e 5 anos. O básico, entretanto, nunca faltou. “A gente trabalha para pagar o aluguel e comer. Mas hoje os meninos estão nessa onda da ostentação, com marcas, carro, ouro, um luxo que a gente não pode dar”.

Morador do Parque Ribeirão, o menino teve livre acesso ao tráfico e, todos os dias, mudava a rota da escola. “Ao invés de ir para a aula, ele ia vender droga”.

Antes da última vez, há nove meses, ele foi apreendido outras seis. Ia para a delegacia e era liberado. Em julho do ano passado, na companhia de outro adolescente, de 17 anos, foi pego com cocaína e R$ 900. Algumas semanas depois, foi novamente para a delegacia. Desta vez, ficou.

Ana sente falta do filho, mas está mais aliviada. “Pelo menos sei onde ele está”. Na fundação, Pedro fez curso de informática, pizzaiolo e voltou a estudar. Já pensa em fazer curso de futebol quando sair. “Eu fico em cima, quero saber de tudo. Não é fácil ver um filho assim. É muito, muito difícil”. 

Maria encara rotina de apreensões do filho

Maria (nome fictício) perdeu as contas das vezes em que o filho de 17 anos foi apreendido. O menino entrou para o crime quando mal chegara à adolescência. Largou a escola há quatro anos e passou um ano e meio na Fundação Casa. 

Saiu no final do ano passado, mas em fevereiro deste ano foi detido novamente e admitiu a venda da droga. Relatou à polícia que a cada dez pinos de cocaína que vende, ganha quatro como recompensa. 

A família vive na favela da Via Norte. O filho é o mais novo de quatro. Maria acha que o ambiente foi determinante nas escolhas do menino. “Às vezes me culpo por ter vindo morar aqui. Mas era isso, ou viver embaixo de alguma ponte. A gente só vive aqui porque não tem condições”. 

Ela trabalha recolhendo recicláveis desde que veio viver em Ribeirão, há 10 anos. A família era de Franca. “Agora meu sonho é voltar para a minha cidade, mas no momento está difícil”. 



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