Menino de 12 anos detido pela polícia se espelha no pai, que está preso

04/05/2015 08:52:00

Avó lamenta caminho escolhido por menino; promotor destaca importância de acompanhar o caso

Milena Aurea / A Cidade
Edna, avó do menino apreendido pela PM, não se conforma com escolha pelo crime (foto: Milena Aurea / A Cidade)

Drogas, violência e criminalidade. O que pra uns é um universo muito distante, pra outros é uma realidade cotidiana. Muitos tentam sobreviver a essas circunstâncias diariamente nas periferias, mas encontram enormes barreiras em seu caminho. Alguns resistem, outros se entregam ao que pra eles, parece ser o mais provável em suas vidas. Como viver um ambiente assim e sair ileso? Essa é a pergunta que muitas pessoas fazem.

Aos 60 anos, dona Edna conta comovida a história de sua família. Ela é avó de um dos menores, de 12 anos, detidos pela Polícia Militar no dia 14 de abril por posse de maconha e furto de bermudas na loja C&A do Ribeirão Shopping. O adolescente foi levado pelas autoridades junto com outro menor de 11 anos, que também estava envolvido.

Sentada em frente ao portão de sua casa de dois cômodos, no Jardim Progresso, ela conta que a história de seu neto é apenas mais uma em meio a milhares. O filho Eder, está preso há dez anos acusado de matar um policial em uma tentativa de assalto. Atualmente ele cumpre pena no presídio de Serrana em regime fechado.

Aos 31 anos, Eder tem três filhos com Suelen, de 29. O garoto de 12, uma menina de 10 e outro de oito meses. O pai que durante todo esse tempo esteve pouco presente na vida dos filhos, apenas em indultos e datas especiais, agora consegue aos domingos, em dia de visita. Dona Edna ajuda com 70 reais mensalmente e a nora entrega uma sacola com produtos de primeira necessidade ao marido.

Os pais concluíram apenas o primeiro grau do ensino fundamental. Suelen oscila entre períodos com ocupação e outros sem, para tentar ajudar a família. Ela vive no fundo da casa de dona Edna, que a amparou com os netos. Edna explica que ainda trabalha fiscalizando os ônibus que passam pela região e que quando Suellen trabalhava, as crianças ficavam sozinhas o dia todo. “A irmã dela ainda olhava o bebê, mas os outros dois filhos ficavam sozinhos”, diz Edna.

O adolescente detido já tem duas passagens pela polícia e, segundo a avó, diz o tempo todo que almeja ser como o pai. “É uma pena isso. Porque dos meus três filhos o Eder é o único que me deu problema”, lamenta.

Ela conta que o garoto é inteligente, mas tem causado problemas por influência ruim. “A diretora da escola tem até o meu telefone. Ela me liga até para buscar ele”, afirma. Dona Edna diz que não se envolve mais em discussões com o neto. “Eu já dei muito conselho antes e fui ofendida. Ele me responde, então eu nem interfiro mais”.  

Penas já podem ser aplicadas a adolescentes

De acordo com o Promotor da Infância e Juventude de Ribeirão Preto, Ramon Lopes Neto, a partir desse registro do boletim de ocorrência pelo furto cometido, a Assistência Social deve ser acionada. “É preciso uma investigação socioeducativa junto à família para verificar a necessidade de intervenção para que isso não volte a ser cometido por ele”, explica. Entre as ações podem ser incluídas acompanhamento psicológico e psiquiátrico ou a inclusão da família em algum programa social.

O Promotor também esclarece que até os 11 anos de idade, apenas são aplicadas medidas protetivas previstas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), como é o caso do outro menor apreendido. Já a partir dos 12 anos, é possível receber medidas punitivas. “Pode ir de uma advertência até a internação na Fundação Casa”, diz. Ainda segundo Ramon, é possível o adolescente, a partir dos 12 anos, receber tanto a medida socioeducativa quanto a protetiva. Em caso de infrações que não são consideradas graves, a pena é revertida em prestação de serviços à comunidade.



    Mais Conteúdo