Sinhá Junqueira integra projeto de incentivo ao parto normal

26/04/2015 19:40:00

Silva Junior / ME
Ana Carolina e o filho, Jorge: parto normal é a regra (Foto: Silva Junior / ME)

Jorge Mafra Son estreou a banheira de parto da Maternidade Sinhá Junqueira. Nasceu na água, sem intervenções, no seu tempo. Pontapé de uma transformação que se faz necessária em toda rede de assistência ao parto e que, há algumas semanas, ganhou força em Ribeirão Preto.

A Maternidade Sinhá Junqueira foi selecionada, entre 28 instituições do Brasil, para fazer parte de um programa de incentivo ao parto normal, coordenado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, Hospital Israelita Albert Einstein e Institute for Healthcare Improvement, com apoio do Ministério da Saúde. O contrato de adesão será assinado no dia 8 de maio, em São Paulo, momento em que as diretrizes do programa serão detalhadas.

Entre os selecionados para o projeto Parto Adequado estão 23 hospitais privados, entre eles o Sinhá, e cinco do SUS (Sistema Único de Saúde). As instituições deverão cumprir diretrizes de incentivo ao parto normal, com readequação e capacitação das equipes e revisão das práticas de assistência ao parto, desde o pré-natal.

Jorge Ricardo Kunzle, diretor técnico do Sinhá, destaca que, para eliminar a “cultura da cesárea”, é preciso uma mudança profunda. “Eu não acho que seja um retorno rápido. Há quatro anos estamos fazendo o que preconiza o projeto, com mudanças no espaço para o parto, readequação das equipes de plantão, assistência à paciente”, conta.

Ele cita que, nesse período, houve um aumento de 10% no número de partos normais realizados na maternidade. Ainda não é suficiente, porém. Dos 400 partos mensais da Sinhá, 85% são cesáreas. A tendência é a mesma nacionalmente. Dados do Ministério da Saúde revelam que o índice de cesáreas da rede suplementar é de 84%, para 40% no SUS.

Em declaração divulgada esta semana, a OMS (Organização Mundial de Saúde) alertou para os altos índices de cesáreas, principalmente no Brasil, recordista no procedimento.

Jorge não acredita que a Maternidade Sinhá vá atingir a meta estabelecida pela OMS – até 15% de cesáreas. “Somos referência para Ribeirão Preto e região em atendimento de partos de alto risco, que têm indicação para cesárea”, justifica. Além disso, ele explica, grande parte das mulheres, já na primeira consulta de pré-natal, pede a cesárea. “É preciso oferecer a elas o que o parto normal agrega de melhor, orientar”, Jorge ressalta.

Ele está certo, porém, de que é possível mudar os índices atuais. O treinamento de equipes de plantão capacitadas para a realização dos partos 24 horas por dia e o incentivo ao parto humanizado, como o de Jorge Son, ajudam a alcançar o objetivo. A Sinhá oferece salas para o parto humanizado, com banheira, como bolas e barras de apoio, terapias alternativas para a diminuição das dores. “Se não houver contraindicação, o parto normal é sempre a melhor opção para a mãe e o bebê”, o diretor garante.  

Processo natural

Os dois filhos de Ana Carolina Mafra, 35 anos, nasceram na Sinhá Junqueira. Na família de Carol, o parto normal é regra. A única exceção foi uma prima, induzida a uma cesárea sem as reais necessidades. “Depois disso, ela resolveu estudar sobre o assunto. Fez inclusive um mestrado sobre cesáreas indesejadas. Quando eu engravidei, me ajudou muito”. Lucas, primeiro filho de Carol, nasceu em fevereiro de 2012, por parto normal convencional.

Infelizmente, a maioria das mulheres não tem as informações adequadas. A ginecologista Flávia Maciel de Aguiar, criadora e administradora do grupo Geração Mãe, salienta que é preciso desconstruir a imagem que se tem sobre o parto normal. “Parir é natural, é fisiológico, faz parte da nossa sexualidade. Precisamos eliminar essa ideia de que o parto é doloroso, é cirúrgico.”

No parto do segundo filho, Carol foi além. Optou pelo parto natural. Jorge, o primeiro bebê a nascer na banheira do Sinhá, nasceu sem nenhuma intervenção. Em terra de cesáreas, esse tipo de parto, que pode ser definido como um procedimento onde as vontades da gestante são respeitadas, ainda é grande desafio a ser alcançado.

Portarias do Ministério da Saúde de 2013 e 2014 determinam, entre outras medidas, o contato imediato entre mãe e bebê após o nascimento, a amamentação na primeira hora de vida, o acolhimento do recém-nascido antes de qualquer procedimento e formaliza como parto normal o procedimento sem intervenções.

Longos caminhos que já começaram a ser percorridos. “De alguma forma, a mobilização já está acontecendo. Temos as redes sociais, os grupos de conversa. Estamos começando a mobilizar a mulher”, nas palavras de Flávia.

Por que dizer sim ao parto normal?

- A recuperação da mãe é mais rápida

- O aleitamento materno se dá mais facilmente

- As complicações são menores: menos hemorragias, menos infecção, menos chance de complicações relacionadas a cirurgias, menos uso de medicações

- O bebê tem seu tempo respeitado

- O rito de passagem, com as contrações naturais do parto, prepara o bebê para a vida fora do útero

Veja o que diz a declaração de incentivo ao parto normal feita pela OMS nesta semana

1. A cesárea é uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém, apenas quando indicada por motivos médicos.

2. A nível populacional, taxas de cesárea maiores que 10% não estão associadas com redução de mortalidade materna e neonatal.

3. A cesárea pode causar complicações significativas e às vezes permanentes, assim como sequelas ou morte.

4. Os esforços devem se concentrar em garantir que cesáreas sejam feitas nos casos em que são necessárias.

5. Ainda não estão claros quais são os efeitos das taxas de cesáreas sobre outros desfechos, além da mortalidade, tais como morbidade materna e perinatal, desfechos pediátricos e bem-estar social ou psicológico.

Fontes: Ministério da Saúde, OMS e A Cidade



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