João Victor só quer o colo da mãe, diagnosticada com leucemia na gestação

31/03/2015 10:08:00

Bebê, que completa hoje 9 dias, teve de nascer duas semanas antes da data marcada

Matheus Urenha / A Cidade
Enquanto a mãe não recebe alta, bebê João Victor é mimado pelo pai e avós (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Saudável, o recém-nascido João Victor ainda não conhece o colo da mulher que lhe deu a vida. Nem mesmo no dia em que nasceu, o bebê tão esperado pelos pais chegou a ser amparado nos braços aconchegantes da mãe.

João Victor, que completa hoje nove dias de vida, teve o nascimento antecipado em duas semanas. Tudo porque, no último dia 21, a mãe, Aline Souza Zanetti, 31 anos, foi surpreendida com um diagnóstico de leucemia, o que acabou abalando a festa da chegada do bebê.

A cesárea que estava marcada para o próximo dia 6 teve que ser adiantada e João Victor acabou nascendo no dia seguinte ao do diagnóstico. “Foi um misto de felicidade e tristeza. Ao mesmo tempo que ficamos contentes pelo João Victor, ficamos abalados com a notícia da doença”, afirma o empresário e marido, Marcelo Zanetti, 40 anos.

Assim que deu à luz, na Maternidade Sinhá Junqueira, Aline foi transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital São Francisco, onde permaneceu até a noite de ontem.
Aline descobriu a doença ao ter um sangramento, que imaginava ser comum na gestação. “Fomos para o hospital e o médico viu que aquilo não era normal”, diz.

Marcelo conta que a gestação de Aline foi tranquila e que ela fez todos os exames do pré-natal. “Ela fez um hemograma completo em setembro, mas o exame não detectou nada.”
O marido lembra que Aline chegou a ter inchaço nas pernas, manchas vermelhas e cansaço, mas eles pensaram se tratar de consequências da gravidez. “Foi um susto tremendo. Não dá nem para descrever. Ela ficou desesperada, achou que ia morrer.”

Agora, Aline está consciente e ansiosa para conhecer o filho. Ela deve receber alta ainda esta semana e terá que passar por sessões de quimioterapia. “Estamos otimistas. O pior já passou”, observa o pai. Além de João Victor, o casal tem outro filho de 2 anos chamado Pedro, que não para de perguntar pela mãe.

Arquivo Pessoal
Aline Zanetti foi levada para a UTI após o parto (foto: Arquivo pessoal)

De acordo com o residente em hematologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Emerson Rafael Lopes, Aline provavelmente desenvolveu a doença após o hemograma.

O médico explica que, por alguma razão ainda desconhecida, os leucócitos (glóbulos brancos do sangue), responsáveis pelo sistema imunológico, perdem a função de defesa do organismo e se proliferam descontroladamente, diminuindo a produção das outras células do sangue (hemácias e plaquetas).

“Os principais sinais da leucemia são sangramentos na gengiva e no nariz, manchas na pele, anemia, fraqueza, cansaço, palidez e febre”, esclarece Lopes.

Bebê precisa de doação de leite materno

Apesar de saudável, João Victor precisa de doações de leite materno. “A leucemia não impede a mulher de amamentar, mas os médicos provavelmente quiseram acostumar a mãe e o bebê desde já, porque ela vai ser submetida à quimioterapia e as drogas acabam passando pelo leite”, afirma o médico residente em hematologia Emerson Rafael Lopes.

As mães que estiverem amamentando podem ajudar doando leite ao banco de leite humano do Hospital das Clínicas, que funciona na avenida Santa Luzia, 387, no Jardim Sumaré. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 7 às 17h.

Aline também precisou de transfusões de sangue para impedir que ela tivesse uma anemia grave ou hemorragias. “Os sangramentos podiam, inclusive, ter causado um aborto durante a gravidez”, ressalta Lopes.

Cerca de 300 pessoas compareceram ao banco de sangue do Hospital São Francisco, onde Aline está internada, e doaram sangue para a paciente. “Agradecemos todas as doações. As pessoas se solidarizaram e ajudaram muito”, diz Marcelo Zanetti.

Família inteira assume o papel de Aline

A presença de Aline é fundamental, mas, segundo o marido Marcelo Zanetti, João Victor e Pedro, o primogênito de 2 anos, estão sendo cuidados por diversas mãos.

“Minha mãe, minha irmã e os pais dela estão ajudando. Todo mundo foi pego de surpresa. É uma doença silenciosa. É um defeito que dá na pessoa de repente, qualquer um pode ter.”

O baque do diagnóstico não derrubou o marido. Forte, ele continua trabalhando e prefere pensar pelo lado positivo. “O importante é que descobrimos a doença cedo e que o João Victor está bem. Agora é continuar rezando.”

O A Cidade tentou contato com o hematologista José Bernardes, responsável pelo atendimento de Aline no Hospital São Francisco, mas não obteve resposta.



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