Falta até gaze nos postos de saúde em Ribeirão Preto

27/03/2015 10:10:00

Greve expõe crise na saúde; pacientes sofrem com espera e faltam remédios e insumos

Milena Aurea / A Cidade
Luiz Carlos Mattos não conseguiu ontem remédio para hipertensão no posto do Jardim Zara (foto: Milena Aurea / A Cidade)

A greve dos servidores municipais desde terça-feira expôs a crise da saúde pública. Pacientes são penalizados com a longa espera na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e com a falta de medicamentos de distribuição gratuita e de insumos médicos básicos, como gaze, água sanitária e agulha para coletar sangue.

Segundo levantamento feito pelos funcionários, faltam hoje na rede básica 12 tipos de medicamentos, entre anticonvulsivantes e para tratar hipertensão e próstata. Ao menos cinco tipos de insumos estão em falta.

“Diante dessa situação, os servidores não conseguem atender a população com eficácia e segurança”, denuncia Débora Alessandra da Silva, coordenadora da saúde do sindicato dos servidores.
As denúncias da falta de remédios e de insumos partiram do sindicato dos servidores municipais e foram confirmadas por funcionários de três postos de saúde consultados ontem pelo A Cidade – dois da zona Leste e outro da zona Norte de Ribeirão.

“Tem alguns remédios desses que são doados pelo programa Farmácia Popular do governo federal, mas a receita do paciente não pode ter mais de quatro meses. O doente fica sem saída”, explica o funcionário de um posto de saúde. Com medo de represália, o servidor não quis se identificar.
Hipertenso, Luiz Carlos Mattos, 65, está nessa situação, já que a receita que ele tinha ontem é de junho do ano passado.

Dois ‘nãos’
O aposentado passou ontem pela unidade de saúde do Jardim Zara, zona Leste, e recebeu dois “não”. Ele tinha uma consulta de retorno no médico marcada para o início da manhã, mas foi informado que não seria atendido por conta da greve.

“Vou esperar a greve acabar para ir ao médico. O duro é que ainda dirijo e quando a pressão sobe enxergo dez semáforos e minha perna treme”, diz.

Depois, Mattos levou a receita para retirar o medicamento hidroclorotiazida na farmácia e também não conseguiu. “Minha aposentadoria é baixa. A greve está acontecendo e quem paga o pato é o povo. Já tive que pagar por esse remédio no ano passado e vou ter que comprar de novo, vai apertar meu orçamento porque não posso ficar sem”, concluiu. 

Movimento superlota UPA e pacientes reclamam

A greve dos servidores tem superlotado a UPA. Segundo a Secretaria da Saúde, a demanda aumentou 40% no setor de clínica médica e 10% na pediatria. Foi necessária a instalação de mais cadeiras no posto para acomodar os pacientes.

A dona de casa Marlene Fialho, 51, foi anteontem pela manhã ao posto do Ipiranga após sentir fortes dores no peito, mas como não havia médico foi encaminhada à UPA. 

Chegou à unidade às 11h, onde fez um eletrocardiograma e quatro exames de sangue. Os três primeiros testes deram inconclusivos e o quarto foi feito às 2h da madrugada de ontem. Após ficar 15 horas no posto de saúde, ela foi dispensada e pegaria o resultado do quarto exame na manhã de ontem.

Marlene voltou às 10h à UPA e o quarto exame detectou alteração cardíaca, mas um novo teste foi repetido para confirmar o diagnóstico – a paciente colocou ponte de safena há sete meses. Às 15h30 de ontem, a paciente ainda esperava o resultado do último exame. “Essa greve tem que acabar logo. É muita demora”.

Saúde e educação têm 50% na ativa
O presidente do Sindicato dos Servidores Municipais, Wagner Rodrigues, disse ontem ao A Cidade que 50% dos servidores da saúde e da educação seguem trabalhando. “No Daerp e nos outros setores, 30% do efetivo estão trabalhando”.
Segundo ofício da prefeitura enviado ao sindicato na última terça-feira, o pedido do Executivo era que pelo menos 30% dos servidores do Daerp continuassem trabalhando; nos outros setores, no entanto, não foi determinado percentual.
Sobre a decisão judicial de ontem que obriga a manutenção de 100% do atendimento na saúde e no Daerp até a elaboração de escala,  Rodrigues disse que o sindicato não foi notificado e, portanto, a adesão segue hoje da mesma maneira. 
Falta de remédios é pontual
A Secretaria de Saúde nega falta de insumos e diz que a escassez de remédios é pontual. “O clorofenicol não é padronizado. Os estoques de enoxaparina e nistatina estão normais. O fornecedor entregou parte do estriol e outra deve chegar na próxima semana”. 
A empresa atrasou a entrega de sulfato ferroso e está sendo acionada. “Sobre a benzilpenicilina, falta matéria-prima, mas Ribeirão tem”.
Foi feito um novo pregão para clonidina e o remédio deve chegar em dez dias. “Foram solicitados mais de 2 milhões de comprimidos de hidroclotiazida e a empresa não entrega. Se não chegarem até o fim da semana, a empresa será multada. O mesmo acontece com a doxasozina”. 
No caso do fenobarbital, falta matéria-prima no País. “A aquisição do carbonato de cálcio é difícil porque a maioria é regulamentada como suplemento alimentar”.


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