Greve expõe crise na saúde; pacientes sofrem com espera e faltam remédios e insumos
A greve dos servidores municipais desde terça-feira expôs a crise da saúde pública. Pacientes são penalizados com a longa espera na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e com a falta de medicamentos de distribuição gratuita e de insumos médicos básicos, como gaze, água sanitária e agulha para coletar sangue.
Segundo levantamento feito pelos funcionários, faltam hoje na rede básica 12 tipos de medicamentos, entre anticonvulsivantes e para tratar hipertensão e próstata. Ao menos cinco tipos de insumos estão em falta.
“Diante dessa situação, os servidores não conseguem atender a população com eficácia e segurança”, denuncia Débora Alessandra da Silva, coordenadora da saúde do sindicato dos servidores.
As denúncias da falta de remédios e de insumos partiram do sindicato dos servidores municipais e foram confirmadas por funcionários de três postos de saúde consultados ontem pelo A Cidade – dois da zona Leste e outro da zona Norte de Ribeirão.
“Tem alguns remédios desses que são doados pelo programa Farmácia Popular do governo federal, mas a receita do paciente não pode ter mais de quatro meses. O doente fica sem saída”, explica o funcionário de um posto de saúde. Com medo de represália, o servidor não quis se identificar.
Hipertenso, Luiz Carlos Mattos, 65, está nessa situação, já que a receita que ele tinha ontem é de junho do ano passado.
Dois ‘nãos’
O aposentado passou ontem pela unidade de saúde do Jardim Zara, zona Leste, e recebeu dois “não”. Ele tinha uma consulta de retorno no médico marcada para o início da manhã, mas foi informado que não seria atendido por conta da greve.
“Vou esperar a greve acabar para ir ao médico. O duro é que ainda dirijo e quando a pressão sobe enxergo dez semáforos e minha perna treme”, diz.
Depois, Mattos levou a receita para retirar o medicamento hidroclorotiazida na farmácia e também não conseguiu. “Minha aposentadoria é baixa. A greve está acontecendo e quem paga o pato é o povo. Já tive que pagar por esse remédio no ano passado e vou ter que comprar de novo, vai apertar meu orçamento porque não posso ficar sem”, concluiu.
Movimento superlota UPA e pacientes reclamam
A greve dos servidores tem superlotado a UPA. Segundo a Secretaria da Saúde, a demanda aumentou 40% no setor de clínica médica e 10% na pediatria. Foi necessária a instalação de mais cadeiras no posto para acomodar os pacientes.
A dona de casa Marlene Fialho, 51, foi anteontem pela manhã ao posto do Ipiranga após sentir fortes dores no peito, mas como não havia médico foi encaminhada à UPA.
Chegou à unidade às 11h, onde fez um eletrocardiograma e quatro exames de sangue. Os três primeiros testes deram inconclusivos e o quarto foi feito às 2h da madrugada de ontem. Após ficar 15 horas no posto de saúde, ela foi dispensada e pegaria o resultado do quarto exame na manhã de ontem.
Marlene voltou às 10h à UPA e o quarto exame detectou alteração cardíaca, mas um novo teste foi repetido para confirmar o diagnóstico – a paciente colocou ponte de safena há sete meses. Às 15h30 de ontem, a paciente ainda esperava o resultado do último exame. “Essa greve tem que acabar logo. É muita demora”.