Sem R$ 9 mil para comprar uma cadeira motorizada, Alacoque pede socorro

26/03/2015 11:32:00

Portadora de distrofia muscular, idosa de 67 anos depende do equipamento para se locomover

Mastrangelo Reino
Cadeia motorizada é a única capaz de dar a Alacoque um restinho de independência (Foto: Mastrangelo Reino/ A Cidade)

Todo mundo tem um melhor amigo. Com Lacoque – como Margarida Maria Alacoque de Oliveira, 67 anos, é conhecida – não é diferente. Ela tem uma amiga que está sempre presente, que a apoia e lhe conforta quando ela está triste.

A melhor amiga de Lacoque, no entanto, está muito velhinha e demanda cuidados. Ela já não é ágil nem anda mais como antes. Por esse motivo, Lacoque está preocupada.

A única coisa que lhe consola é que, no seu caso, sua melhor amiga é substituível. Mas, apesar disso, é muito cara. Custa R$ 9 mil. Trata-se de sua cadeira de rodas motorizada.

Agora, você deve estar se perguntando por que a melhor amiga de Lacoque é uma cadeira de rodas motorizada. É que a idosa tem uma distrofia muscular que a impede de mexer os membros. Atualmente, ela só tem os movimentos dos dedos da mão direita e é com esses dedos que ela ‘pilota’ a sua cadeira e anda por aí.

Lacoque foi diagnosticada com a doença aos 18 anos. Ela começou a cair sem motivo e a perder a força das pernas. A jovem ativa e animada que adorava um Carnaval viu à sua frente uma vida sem bailes e danças, mas nunca praguejou contra Deus ou sentiu qualquer revolta. “Recebi bem o diagnóstico. A fé me ajudou muito e acabei aceitando ‘numa boa’”, lembra. 

A primeira cadeira de rodas de Lacoque veio em meados de 1989. “Chegamos com uma cadeira manual para ela meio receosos. Todos ficaram paralisados. Ela não, quis dar uma volta na hora”, conta a irmã, Maria Perpétuo Socorro de Oliveira, 75 anos.

Segundo Lacoque, é preferível ficar em uma cadeira de rodas do que em casa. “Gosto muito de sair, de passear. Vou à igreja e a shows”, relata.

Socorro diz que a irmã é uma lição de vida para todos. “Ela pergunta se dá trabalho e eu respondo que todo mundo dá. Mas tem doente que reclama, que é enjoado. Já ela, é alegre e leve”, destaca.
Lacoque conta com a ajuda da irmã e do sobrinho diariamente. “Sei que eu dou trabalho, mas não quero ir embora agora. O importante é viver”, afirma. 

arte/ a cidade
 

Amiga da igreja planeja uma campanha 

Lacoque comenta que a manutenção de uma cadeira de rodas motorizada é mais cara do que a de um carro. “A gente acaba de consertar uma coisa, quebra outra”, observa.

A idosa, que era manicure enquanto ainda mexia as mãos, recebe um salário mínimo de aposentadoria e ressalta que a cadeira de rodas é sua única ferramenta de locomoção. “Não dá para comprar uma nova. Uma amiga está fazendo uma campanha na igreja para tentar arrecadar dinheiro.”

Lacoque promete que sua nova melhor amiga ainda vai lhe fazer companhia por muito tempo. “Daqui três anos, faço 70. Quero uma festa de arromba e um bolo com 70 velinhas”, pede.

Socorro ri. “Ela é exigente. Dá palpite enquanto eu bordo, você precisa ver! Escolhe a cor da linha e fala ‘isso não vai ficar bom’”, conta.

De bem com a vida, Lacoque dispara: “Não tenho como reclamar, aproveitei muito antes de ficar doente e a doença não dói. Sou feliz”, finaliza. 

Poder público tem de fornecer o equipamento 

De acordo com o Estatuto do Idoso (lei 10.741/2003), “incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação”.

“Se é um bem de necessidade e está além dos limites financeiros da família, o Poder Público tem que cuidar”, esclarece a advogada Rogéria Shimura, coordenadora da Comissão do Direito do Idoso da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ribeirão Preto.

Para conseguir uma cadeira de rodas motorizada, Lacoque deve se dirigir a uma unidade de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para, então, ser encaminhada ao Centro de Reabilitação do HC (Hospital das Clínicas). Lá, o médico pode recomendar o uso do equipamento, que demora de quatro a cinco meses para chegar.

Por meio de nota, o HC informou que Lacoque não compareceu aos retornos agendados em 2011. Sua próxima consulta está marcada para junho.



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