Em vez de um conserto, prefeitura terá de fazer dois na via que acabou de ser recapeada nos Campos Elíseos

06/03/2015 09:35:00

Primeiro, recapearam vazamento. Na hora de consertá-lo, Daerp abriu buraco do lado oposto da rua

F. L. Piton/ A Cidade
Vazamento sob asfalto e buraco aberto pelo Daerp compõem cenário na rua (Foto: F. L. Piton/ A Cidade)

A rua Silveira Martins, nos Campos Elíseos, que desde a manhã de terça-feira recebe obras de recapeamento, tem sido palco de uma série de falhas da administração pública.

Anteontem pela manhã, os operários ignoraram um vazamento de água potável que persiste há mais de um ano na via, na altura do número 500, e passaram o asfalto novo por cima. Poucos minutos depois, a água já brotava sob o piche fresco.

Procurado pela imprensa, o Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto ficou de fazer o reparo. No mesmo dia à noite, entretanto, em vez de consertar o vazamento, os funcionários abriram um buraco do lado oposto, a 20 metros do problema. 

Na opinião dos comerciantes, os funcionários falharam de novo. E agora, em vez de um reparo, terão de fazer dois na rua recém-recapeada.

“Abriram o buraco errado ontem [anteontem] à noite e hoje [ontem] cedo vieram dar uma olhada. Foram embora e disseram que vão arrumar à noite. É um absurdo”, diz o comerciante Fábio Siqueira.

Para o morador Luís Antônio da Silva, as falhas apontadas revelam o descaso da administração com o dinheiro público. “Foram gastos material e mão de obra nesse recapeamento, que agora terá de ser refeito. E tudo sai do nosso bolso.”

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Moradores da zona Norte reclamam da demora de colocação de asfalto após o Daerp solucionar vazamentos (Foto: F. L. Piton/ A Cidade)

Daerp
O Daerp apresentou duas versões para o buraco feito do lado oposto do vazamento. Inicialmente, a autarquia disse, por meio de nota, que se tratava de um outro vazamento invisível na via.

Depois, justificou que o asfalto foi aberto para localizar outros vazamentos subterrâneos na rua. “Os moradores falaram que havia outros vazamentos, mas a equipe não achava. Por isso, do outro lado, foi feita a geofonagem (aparelho que capta ruídos de vazamentos profundos no período noturno), quando o barulho é menor”.

Segundo a autarquia, há 15 dias uma equipe do Daerp faz vistorias e consertos de vazamentos em todas as vias do bairro que receberão recapeamento.

Demora no conserto gera reclamação
Além do repúdio da população ao recape sobre vazamentos, moradores da zona Norte também reclamam da demora de colocação de asfalto após o Daerp solucionar vazamentos.

Na esquina da rua Romano Coró com a João Xavier, no bairro Tanquinho, o vazamento reparado há 15 dias virou um “cenário de guerra”, já que não foi colocado asfalto logo depois do conserto. “O serviço é muito mal feito. A prefeitura devia repor o asfalto logo depois de o vazamento ser consertado, para nivelar logo a rua. Esse monte de terra estava ainda maior dois dias atrás”, reclama a auxiliar de limpeza Ana Maria de Azevedo, vizinha do vazamento.

A 50 metros dali, na rua Romano Coró, outro exemplo de vazamento mal reparado. O asfalto está esfarelando e motoristas e pedestres têm de lidar com pedras soltas. Os motociclistas têm de fazer acrobacias para permanecer sobre as duas rodas.

“O asfalto se desfaz e fica esse monte de pedregulho no meio da rua. Esse vazamento tem seis meses, já foi arrumado diversas vezes, mas nunca ficou bom”, diz Fátima Domingos, 52.

Faltou uma visão integrada
“A respeito deste caso do vazamento que ficou por baixo do asfalto novo, ficou claro que houve falta de planejamento entre quem está realizando o serviço e o Daerp [Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto]. Hoje é tendência nas políticas públicas a atuação interssetorial para que se possa fazer mais com menos, mas ocorreu justamente o contrário no recape feito pela prefeitura em questão. Para atingir essa atuação integrada na administração pública é necessário haver uma visão holística, integrada, e os caminhos para que se chegue a isso envolvem treinamento, gestão política e estratégia pública. Quando isso não ocorre, quem acaba pagando a conta e sendo penalizado é o cidadão.”

Claudia Souza Passador
Especialista em gestão pública e docente da USP



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