Saúde abre e fecha ano com falta de medicamento em Ribeirão Preto

18/12/2014 10:34:00

Falta de remédios básicos para hipertensão, alergia e micose persiste desde fevereiro; Prefeitura alega problema "pontual"

F.L.Piton / A Cidade
Aposentado João Correia, 73 anos, sofre com a falta de remédios para hipertensão (foto: F.L. Piton / A Cidade)

A Prefeitura de Ribeirão Preto vai fechar 2014 sem solucionar a falta de medicamentos de distribuição gratuita que penaliza os doentes da rede municipal de Saúde desde o início do ano.

Pelo contrário. Reportagens publicadas pelo A Cidade, revelam que o problema só se agravou ao longo do ano. Em fevereiro, faltavam 7 remédios, em junho o número saltou para 12 e agora, a 15 dias do Ano Novo, já somam 20.

Entre os medicamentos faltantes estão os de uso diário para controle da pressão arterial, antialérgicos e antimicóticos.

Na unidade central, João Correia, 73 anos, cumpria na manhã de ontem sua peregrinação do dia em busca de Enalapril e Clonidina, medicamentos para o controle da hipertensão.

O idoso afirmou que tenta conseguir o remédio desde segunda-feira nos postinhos de saúde, mas sem sucesso. Ontem ele também voltou para casa de mãos vazias. “Fui a outros postos, mas em nenhum deles consegui os remédios. Se eu não pegar terei que ficar sem”, disse.

Ao contrário do que a Saúde orienta, Correia afirma que os médicos não prescreveram outros remédios para substituir os que estão esses que estão em falta e ele não tem dinheiro para comprar na farmácia.
A falta do medicamento para o tratamento da hipertensão arterial traz riscos aos pacientes podendo levá-los a morte.

Segundo o cardiologista José Cesarino os riscos de derrame, infarto e descompensação cardíaca, aumentam com a falta do medicamento.

Cesarino, que também atua na rede pública, diz que para contornar a ausência do Enalapril, bem como demais medicamentos que possuem a finalidade de controlar a pressão arterial é necessário que o paciente peça a substituição do remédio ou da dosagem para que seja possível retirá-lo na Farmácia Popular.

Sergio Masson / Especial
Cartaz na UBDS da Vila Virgínia aponta a falta (foto: Sergio Masson / Especial)

Controlado
Vera Marta Figueiredo, 57, faz uso controlado do Levoid 38mg, receitado para pacientes com hipotireoidismo, tem comprado o remédico para não ficar sem.

“Como não consigo pegar o medicamento na rede, todo mês eu compro. É barato, mas se tem na rede deveria estar disponível à população”.

A aposentada Antonina Gasparini Sorrino, 77, se emociona ao relatar a falta do remédio tão importante para o seu problema de saúde. A necessidade é do Estriol, uma pomada ginecológica, Violeta para complementar o tratamento e Miconazol; usado para o tratamento de candidíase.

“A médica pediu para começar a usar o remédio urgente, mas como se não tem nos postos e eu não tenho condições de comprar?”, questionou.

A idosa afirmou que cuida de uma irmã com problemas de saúde e também necessita de medicamentos, mas que também não encontra na rede. “Eu e minha irmã tomamos outros remédios – para a pressão, para a paralisia dela, e todo mês precisamos vir ao posto, mas nem sempre encontramos”. Sem o medicamento, a idosa voltou para a casa na esperança de retornar outro dia e conseguir.  

‘Falta é pontual’

A Secretaria de Saúde, por meio da assessoria de imprensa, diz que a falta de medicamentos é uma situação pontual. 

“A rede municipal conta com uma lista de 350 medicamentos diferentes e, em alguns casos, a falta do princípio ativo para fabricação do medicamento seria um dos motivos para a ausência ou a empresa vence a licitação, mas não consegue fornecer a quantidade licitada”. A assessoria de imprensa da Prefeitura ressaltou, em nota, que quando há falta do medicamento, é possível encontrá-lo nas farmácias populares, credenciadas pelo Ministério da Saúde para distribuir remédio gratuito para hipertensão, diabetes,  entre outras doenças.

Licitação

Outro motivo, segundo a prefeitura, é o vencimento da licitação pelas empresas contratadas. “Embora a empresa tenha vencido a licitação, em alguns casos, não consegue fornecer a quantidade licitada. Neste caso, a Prefeitura faz a notificação e em caso de descumprimento do contrato, o mesmo é rescindido e então, é necessária a abertura de nova licitação”. 

O A Cidade apurou, no entanto, que entre a lista de 20 remédios faltantes na farmácia central, pelo menos quatros estão em falta desde o primeiro semestre deste ano. São eles Cloranfenicol, Miconazol, Loratadina e Polivitamínico. 

Gerente

O gerente da UBDS Central, Nelson Fávero, diz que a distribuição nesta época do ano costuma estar normalizada na rede municipal e confirma que a ausência de alguns medicamentos ocorre devido a eventuais licitações em andamento, bem como a processos internos das distribuidoras.

 “A equipe médica procura receitar o que consta na rede e está disponível ou, em caso de necessidade, substituir a medicação para que não falte aos pacientes”, afirmou.



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