Duas famílias compram mesmo jazigo em cemitério de Dumont

24/07/2014 09:48:00

Confusão começou há três meses e corpo de mulher de 48 anos teve de ser exumado anteontem para resolver problema

Lucas Mamede / Especial
Mesmo jazigo foi vendido para duas famílias diferentes e corpo de mulher teve de ser exumado (foto: Lucas Mamede / Especial)

Uma família de Dumont viveu a triste – e inusitada – história de enterrar duas vezes a mesma pessoa. Outra família da cidade viveu a agonia de brigar por um espaço comprado há 10 anos. Tudo porque a prefeitura vendeu às duas famílias o mesmo jazigo, no cemitério municipal da cidade. Há três meses o equívoco causa transtorno.

O corpo de Rosa (nome fictício), morta aos 48 anos, no dia 1º de maio deste ano, foi exumado anteontem como única forma de resolver a questão. “A filha dela está até com depressão por causa de toda essa história”, contou um familiar.

As duas famílias pediram para ter seus nomes preservados. Tudo começou há cerca de 10 anos. João (nome fictício), 72 anos, conta que comprou o jazigo pensando no amanhã. Lembra que pagou algo como R$ 2 mil pelo espaço. “Já faz muito tempo”, explica a dificuldade em recordar o valor exato. Ainda não havia precisado usar as gavetas. “Não tinha ninguém enterrado”. E bem por isso um familiar estranhou as flores enfeitando o cimento.

“Estranhamos quando vimos as flores, sendo que não tinha ninguém enterrado lá”, conta o familiar. João foi informado da situação e resolveu checar. Soube que sim, uma pessoa ocupava o jazigo que era seu.
“Ainda bem que eu tinha os recibos daquele tempo para comprovar que comprei mesmo. Senão, não sei o que ia ser”. Ele diz que precisou pedir pessoalmente ao prefeito que a situação fosse resolvida. “Fui três vezes na prefeitura”.

Quem ocupava o jazigo de João era Rosa, que não resistiu à doença de Chagas. Familiares dela contam que o marido havia comprado o espaço há alguns anos. “Enterramos achando que era dele”, a mãe de Rosa explica.

Quando João cobrou seus direitos, a história chegou à família de Rosa. “A gente não queria aceitar que tirassem o corpo. Só aceitamos porque não tivemos escolha”, conta um familiar.

Funcionários do cemitério confirmaram que a exumação foi feita na manhã de anteontem. Os mesmos funcionários ainda relataram que só após a confusão a prefeitura passou a construir novos jazigos para o cemitério lotado, entre eles o de Rosa. “Para a gente foi uma grande tristeza”, lamenta a mãe de Rosa.

Prefeitura não se manifestou sobre o problema

O A Cidade esteve na prefeitura de Dumont na tarde de ontem para buscar esclarecimentos. 

Em um primeiro momento, a secretária informou que o responsável estava formulando e-mail com o posicionamento oficial. Depois, porém, disse que esse responsável não estava na prefeitura e que o prefeito, Adelino da Silva Carneiro (PSD) e a vice-prefeita. Rosiane Marin Fernandez Dias (PMDB) também não estavam. Foi informado, então, que o prefeito iria procurar a reportagem para se manifestar, mas até o fechamento da edição, não houve resposta. 

O A Cidade esteve também no pátio municipal, onde fica o encarregado pelo cemitério, mas o funcionário também não estava. 

Moradores reclamam de lotação

Moradores de Dumont denunciam que há meses o cemitério municipal, além de lotado, está em más condições. Uma moradora contou que há três semanas encontrou um caixão aberto, com restos mortais jogados no terreno do cemitério. 

Funcionários confirmaram que só após a confusão entre as duas famílias a prefeitura construiu novos jazigos. A reportagem, então, questionou se outras pessoas estavam sendo sepultadas em túmulos de terceiros, mas os funcionários preferiram não se pronunciar sobre a questão. “Isso eu não sei. Estou há pouco tempo aqui”, justificou um deles. 

A reportagem esteve no cemitério e constatou o desleixo. Lixo, entulhos e mato se misturam aos túmulos. Em terreno ao lado do portão de entrada do local, coisas entulhadas formam o cenário.

“Alguém precisa tomar providências”, reclama uma moradora da cidade. 



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