Araraquara registra, em média, três denúncias por racismo na semana

20/09/2014 08:30:00

Somente este ano, Centro Afro já orientou dez vítimas; para coordenadora Alessandra Laurindo, racismo na cidade é 'perverso'

Deivide Leme/Tribuna Impressa
Douglas foi agredido verbalmente, em junho do ano passado, e agressor ainda não teve punição (Deivide Leme/Tribuna Impressa)

“Você está achando que vou roubar alguma coisa? Nunca ouvi isso na minha vida e não vou ouvir isso de um bosta como você. Seu macaco!” Foi a frase que Douglas Guilherme, de 28 anos, ouviu de um colega de trabalho, em junho do ano passado. Assim como o caso do funcionário público, Araraquara segue o ritmo do País quanto à discriminação racial e registra, em média, três denúncias por semana.

O racismo voltou a ser debatido recentemente, após os casos registrados no mundo do futebol, como o que ocorreu com o goleiro Aranha, do Santos, que foi chamado de “macaco” pela torcida do Grêmio, e também com Ronaldinho Gaúcho, que foi insultado logo que estreou no clube de Querétaro, no México, por Carlos Treviño, ex-secretário de Desenvolvimento Social daquele país.

Já em Araraquara, os dados do Centro de Referência Afro “Mestre Jorge”, que é responsável por receber as vítimas desse tipo de preconceito, mostram que, em 2013, 28 vítimas de discriminação racial procuraram orientação. Este ano, já foram registradas dez denúncias. Apesar da queda proporcional apresentada, a coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Alessandra de Cássia Laurindo, explica que os números não representam melhora, mas a migração das denúncias.

“Hoje, a vítima de racismo já se acostumou a procurar a delegacia para prestar queixa, antes mesmo de passar por aqui. Atualmente, em média, são registradas nas delegacias da cidade em média três denúncias por semana”, explica.

Segundo a coordenadora, o centro também acompanhou informalmente a movimentação de ocorrências por injúria racial e, pelo menos em duas delegacias, foram verificadas até sete casos, em um período de sete dias.

Uma das situações acompanhadas pela instituição foi a história de Douglas, o personagem do início desta matéria. O jovem de 28 anos foi agredido verbalmente por um dos eletricistas que presta serviço para a Prefeitura, local em que os dois trabalham.

Segundo o funcionário público, o rapaz estava pedindo para passar a noite na sessão em que Douglas é responsável pelo fechamento, por conta da forte chuva que caía. “Disse a ele que não seria possível, mas se ele quisesse ligar para o encarregado e pedir, tudo bem. Mas aí ele respondeu e quando dei às costas, me chamou de macaco.”

No momento, Douglas afirma que “sentiu todas as veias do corpo fervendo” e uma grande revolta. Os colegas de trabalho que estavam presentes foram, posteriormente, testemunhas do boletim de ocorrência registrado por ele. Além da denúncia formal, o funcionário público também abriu uma sindicância.

Depois de mais de um ano do fato, a indenização de dois salários mínimos e prestação de serviço comunitário ainda não se concretizaram, já que o agressor recorreu da pena. Quanto à sindicância, Douglas não tem respostas da Prefeitura, que afirma que o caso tem sigilo judiciário.

Apenas um candidato
A Tribuna buscou propostas nas redes sociais e sites oficiais dos candidatos a deputado estadual e federal da região que falavam sobre violência racial. Adauto Scardoelli (PT), Edna Martins (PV) e João Farias (PRB), que concorrem a federal, não oficializaram em seus sites nenhuma proposta para benefício e inclusão de afrodescendentes. Assim como os candidatos a deputado estadual Marcia Lia (PT) e Roberto Massafera (PSDB).

Já no Facebook, o candidato a federal Willian Afonso (PDT) e os candidatos a deputado estadual Paulo Maranata (PSB), Salete Moralles (PTB) e Moacir de Freitas Júnior (PPL) não compartilharam propostas específicas, pelo menos nos últimos dez dias. O único a apresentar uma proposta foi o candidato a deputado estadual Walter Miranda (PSTU). Em seu site, no qual ele engloba a luta contra o machismo, há também espaço para o racismo e a homofobia. O candidato pede “pelo fim da repressão e assassinato da juventude negra”. 



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