Saúde amplia público-alvo para vacinação contra a gripe

19/07/2018 07:30:00

Crianças com até 9 anos e adultos de 50 a 59 anos começaram a ser imunizados nos postos da rede pública

Prevenção: Há 10 anos o aposentado Luís Carlos Picolo, hoje com 70, se vacina contra a gripe (foto: Weber Sian / A Cidade)
 
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A Secretaria Municipal da Saúde ampliou o público-alvo da campanha de vacinação contra a gripe. A partir de agora, crianças com até 9 anos e adultos entre 50 e 59 anos também podem ser imunizados em 37 postos.  

A cobertura vacinal está abaixo do esperado, 74% até agora, e a recomendação do Ministério da Saúde é imunizar ao menos 90% do público-alvo.  

Para se ter uma ideia, quase 40 mil pessoas que compõem os grupos prioritários da vacinação contra gripe faltam ser imunizadas em Ribeirão.  

Quase 15 mil idosos ainda não foram vacinados. O mais alarmante disso é que, das 10 mortes por gripe registradas neste ano, seis foram de idosos. E entre todos os pacientes que morreram, somente um tomou a vacina.

Exemplo  

O aposentado Luís Carlos Picolo, 70, dá o exemplo quando o assunto é prevenção. Desde quando completou 60 anos, toma anualmente a vacina contra gripe e diz que nesse período somente teve episódios bem fracos da doença e por pouquíssimas vezes.  

"Quando você toma a vacina e a gripe vem, ela vem mais fraca. Essas mortes que ocorreram em Ribeirão preocupam bastante, então as pessoas precisam se proteger. Muitos acham que a vacina não adianta", declarou.  

O infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, docente da Unesp (Universidade Estadual Paulista), defende que a vacina é crucial para prevenir complicações da gripe nos grupos mais vulneráveis, como os idosos, crianças e doentes crônicos.  

"Estudos mostram que a imunização é responsável por evitar até 90% de complicações graves da gripe, como a pneumonia, nos grupos mais vulneráveis", declarou o especialista (leia mais na página ao lado).  

O grupo com menor adesão à vacinação contra gripe neste ano é o das crianças de seis meses a menores de cinco anos somente  52% delas foram imunizadas (leia mais no quadro a cobertura vacinal por grupo prioritário).

Baixa  

Apesar da confirmação das dez mortes por gripe divulgada na terça-feira (17), a procura pela vacina contra a doença nos postos segue baixa.  

Na unidade da Vila Albertina (zona Norte), somente dois pacientes haviam sido imunizados em pouco mais de duas horas ontem pela manhã. No posto do Presidente Dutra, na mesma região da cidade, apenas três pacientes foram imunizados no período de três horas.  

Movimento nas clínicas não muda  

Funcionários de três clínicas particulares consultadas ontem pela reportagem do A Cidade declararam que, assim como na rede pública, não houve aumento do fluxo de clientes em busca da vacina contra a gripe após a divulgação das dez mortes em Ribeirão, na terça-feira (17), em decorrência da doença.  

As clínicas são uma opção para quem está fora do público-alvo da campanha pública. "Embora não seja tão essencial como nos grupos vulneráveis, a população deve se vacinar", recomendou o infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza.  

Nos três estabelecimentos verificados, o preço da vacina varia entre R$ 100 e R$ 120. Em uma delas a vacina é igual à oferecida pela rede pública (protege contra três tipos de vírus da gripe) e nas outras duas é a vacina tetravalente (protege contra mais um tipo do vírus B).  

Fontes: Secretaria Municipal da Saúde e A Cidade

 
Posto de saúde mobiliza agentes

Gerente do posto de saúde da Vila Albertina, a enfermeira Elaine Pastorelli declarou que são feitas ações para ampliar a adesão à campanha de vacinação. Desde a última quinta-feira (12) até às 10h de ontem, apenas 77 pessoas foram imunizadas.  

"Pedimos para os agentes comunitários de saúde reforçarem a mensagem da importância da vacinação para os pacientes durante as visitas domiciliares", afirmou.  

A enfermeira entende que a baixa adesão à vacinação contra gripe pode estar relacionada a uma série de boatos, como, por exemplo, de que a vacina foi criada para matar idosos ou que causa a gripe. "Esses boatos são muito difundidos nas redes sociais, e muita gente acredita."  

Outra situação é de gente que toma a vacina e logo depois fica gripado. "Daí acha que a vacina foi a causa, mas a imunização demora 30 dias para fazer efeito no organismo."  

'Estou com medo desse tanto de mortes' 

A pensionista Gilvanira da Silva, 49, tomou pela segunda vez, em abril deste ano, a vacina contra gripe a primeira dose foi em 2017. Depois que começou a ser imunizada, ela relembra que não teve mais pneumonia.  

"Como eu já tive pneumonia há dois anos, o médico fez a recomendação para eu tomar. Eu acredito na vacina e ninguém pode facilitar, estou com medo desse tanto de mortes que já teve esse ano. Minha preocupação maior é com o meu filho de 30 anos, que tem problema no pulmão, indicação de tomar a vacina, mas ainda não quis tomar", afirmou.  

Gilvanira acrescenta que fará um esforço para que o filho, com consulta marcada no posto de saúde da Vila Albertina no próximo dia 30, seja imunizado. "Ele não se interessa em se vacinar, e isso me preocupa." 

Público-alvo da vacinação  

A vacina está disponível nos 37 postos da rede pública para trabalhadores da saúde, pessoas acima de 50 anos, gestantes, puérperas (mulheres que tiveram filho há até 45 dias), crianças de 6 meses a 9 anos, pessoas com comorbidades (doenças crônicas e imunodeprimidos), professores das redes pública e privada e indígenas.  

A vacina contra gripe protege contra três tipos de vírus H1N1, H3N2 e B, previstos para circular na América do Sul neste inverno, incluindo o Brasil. Entre as dez mortes registradas em Ribeirão neste ano, cinco foram por H1N1 e outras cinco por H3N2. 

Análise  

'Vacina é essencial' 

"A vacina é essencial para proteger os grupos de risco, já que estudos mostram a imunização sendo responsável por evitar até 90% complicações graves da gripe, como a pneumonia e outros episódios mais raros miocardites e encefalites nos grupos mais vulneráveis, justamente o público-alvo da campanha da rede pública. Idosos, pessoas com doenças crônicas e crianças muito pequenas estão mais sujeitos às mortes pela gripe. Estatísticas revelam que, a cada 500 casos de gripe, dois evoluem para a forma grave. Os tipos de vírus H1N1 e H3N2 têm gravidades semelhantes, são mais graves que o tipo B. O H1N1 é o mesmo de 2009, da gripe suína, e o H3N2 apareceu no final de 2017 nos Estados Unidos, ocasionou casos graves lá e, aparentemente, parece ter chegado ao Brasil em menor proporção do que era esperado. Apesar das mortes ocorrendo, as coberturas vacinais estão baixas no País, o brasileiro tem memória curta. Poucos anos atrás houve correria para se vacinar, mas agora isso não está ocorrendo." (Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, Infectologista)



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