Tabagismo: O perigo de desenvolver o hábito de fumar

16/07/2018 09:52:00

"Os responsáveis costumam achar que reprimir o uso do tabaco funciona, mas tenho muitos amigos que fumam escondidos dos pais", disse Maria Luiza Picasso

"Os responsáveis costumam achar que reprimir o uso do tabaco funciona, mas tenho muitos amigos que fumam escondidos dos pais", disse Maria Luiza Picasso (Foto: Weber Sian / A Cidade)

Com apenas 19 anos, a estudante de jornalismo Maria Luiza Picasso é fumante há quatro. Atualmente, consome cerca de dez cigarros por dia, mas admite que, em momentos de estresse e crises de ansiedade, chegou a fumar 20 ou mais - no mesmo dia.  

"Hoje isso já quase não ocorre, mas durante meu segundo ano de faculdade, aos 18, acontecia com certa frequência durante o período de provas e entregas de trabalhos", conta.  

Malu, como gosta de ser chamada, encontra-se na faixa etária que segue na contramão da redução de fumantes adultos no Brasil, segundo a pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico).  

Enquanto o tabagismo diminuiu 36% em 11 anos de 15,7%, em 2006, para 10,1%, em 2017 - entre toda a população adulta das capitais brasileiras, na faixa etária entre 18 e 24 anos chegou a aumentar. Em 2016 o índice ficou em 7,4% e, em 2017, foi para 8,5%.
Malu iniciou-se no hábito pela mesma via que muitos outros jovens: por influência de pessoas próximas.  

"Meus pais fumaram durante grande parte da minha infância, mas não acho que isso tenha influenciado de forma tão direta. Acredito que tenha me tornado fumante pela convivência diária e constante com colegas e amigos da faculdade que já fumavam - e fumavam o tempo todo! - pra acompanhar o cafezinho", comenta.  

"O tabaco está exposto ao jovem como uma maneira de socialização", define a psicóloga da equipe técnica do programa de doenças não transmissíveis da Secretaria Municipal da Saúde, Joceli Mara Magna.   

"Além do cigarro tradicional, muitos estão adeptos ao cigarro de palha e ao narguilé. O narguilé é algo extremamente perigos a saúde do usuário. Ao ser usado ele corresponde ao uso de 100 cigarros comuns. Doenças pulmonares, diabetes e até mesmo câncer, podem ser diagnosticadas em um jovem daqui alguns anos", acrescenta.  

Na opinião de Joceli, a população jovem também é a mais atacada pela indústria do tabaco no Brasil. "Diversas alternativas e novas sensações são oferecidas a este público com frequência", diz. (Com Folhapress)  

Maria Luiza Picasso (Foto: Weber Sian / A Cidade)

Suporte 

Ribeirão Preto conta com grupo de tratamento
 
Para combater o vício, o grupo de tratamento do tabagista de Ribeirão Preto conta com médicos, enfermeiros, psicólogos e farmacêuticos à disposição de quem decide parar de fumar.  

Segundo a psicóloga Joceli Magna, a maior dificuldade em relação aos jovens é a baixa procura por atendimento. "As doenças causadas pelo fumo não aparecem de forma instantânea. Por isso o jovem não percebe o mal que o uso do tabaco lhe faz. O paciente precisa estar disposto a realizar o tratamento. Ele recebe todo o suporte físico e psicológico. Porém, ao receber o adesivo do tratamento, precisa estar consciente de sua atitude. Pois, ao usar um cigarro portando o adesivo, é como se ele fumasse o dobro da quantidade. Isso lhe causa um mal bem maior".  

O tratamento pode ser iniciado em qualquer UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) da cidade. Após a primeira consulta, o usuário é encaminhado para as unidades responsáveis, localizadas na UBDS do Sumarezinho, da Vila Virgínia - ambas na zona Oeste - e também no Pronto Socorro Central. (Neto Túbero com supervisão de Silvia Pereira) 
 
Ciente dos riscos, Malu não pretende parar 
 
Mesmo tão jovem, Malu já acusa problemas de saúde que acredita serem decorrentes do tabagismo.  

"De início eu não sofria nenhum problema. Agora tenho tosses carregadas vez ou outra, quando a umidade está baixa. Pressão baixa é uma complicação mais recorrente", conta  

A jovem até preocupa-se com a saúde, mas o imediatismo do prazer proporcionado pelo cigarro acaba vencendo. "Sei das consequências, mas muitas vezes o cigarro oferece o momento de tranquilidade, reflexão e concentração de que preciso. Por isso acabo presa na dualidade de saber que aquilo me causa mal a médio e longo prazos, mas beneficia a curto prazo", diz. "Não tem como não estar ciente dos riscos que o tabagismo impõe à saúde. Porém, por hora, não pretendo parar de fumar", acrescenta.  

Para Malu, a iniciação do jovem no hábito não é algo que possa ser controlado por pais ou responsáveis. O caminho é a conscientização.  

"Não acho que tenha uma forma de impedir que um jovem que quer fumar, fume. Os responsáveis costumam achar que reprimir o uso do tabaco funciona, mas tenho muitos amigos que fumam escondidos dos pais. Então acho que é importante o jovem saiber que o tabagismo é um vício e não apenas recreação", diz. 

Fonte: Agência Brasil
Segundo dados da pesquisa Vigitel 2016 (Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico).

De 2006 a 2016, a prevalência de fumantes na população caiu de 15,7% para 10,2%

Homens fumam mais do que mulheres em todas as faixas de escolaridade, indo de 17,5% para homens e 11,5% para mulheres com até oito anos de estudo e caindo para 9,1% dos homens e 5,1% das mulheres com mais de 12 anos de estudo

Por faixa etária, a prevalência é 7,4% entre jovens com menos de 25 anos e 7,7% entre idosos com mais de 65.

A faixa com mais fumantes, 13,5%, é a de adultos entre 55 e 64 anos. 

No mundo  

7 milhões de pessoas morrem todos os anos por culpa do tabaco, que é responsável ainda por cerca de 16% de todas as mortes provocadas por doenças crônicas não transmissíveis.  

O custo aos lares e aos governos passa de US$ 1,4 trilhão em despesas com saúde e com a perda de produtividade.




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